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Estudo: Não foram encontradas diferenças consideráveis entre doentes ventilados Covid e não Covid

Um estudo comparou a fisiologia respiratória, os resultados clínicos e as características clínicas extrapulmonares da Covid-19 grave com a síndrome de dificuldade respiratória aguda (ARDS) não Covid. Não foram encontradas diferenças significativas.

Apesar dos doentes com doença grave por SARS-CoV-2 (Covid-19) cumprirem critérios clínicos para ARDS, os primeiros relatórios sugeriram diferenças clínicas e fisiológicas de pacientes com ARDS não Covid-19.

Isto conduziu a “recomendações de tratamento que se desviam das práticas padrão baseadas em evidências para o ARDS”.

Os doentes com doença grave por coronavírus cumprem critérios clínicos para o ARDS, no entanto os primeiros relatórios sugeriram que diferem fisiologicamente e clinicamente de pacientes com ARDS não Covid-19, o que leva a recomendações de tratamento que se desviam das práticas para o ARDS.

Objetivos do estudo

Comparar a fisiologia respiratória, os resultados clínicos e as características clínicas extrapulmonares da Covid-19 grave com o ARDS não Covid-19.

Métodos

Foi realizado um estudo retrospetivo de coorte (grupo). Compararam-se 130 pacientes com ventilação mecanicamente consecutiva com Covid-19 grave e 382 pacientes ventilados mecanicamente consecutivos com ARDS não Covid-19.

A fisiologia respiratória inicial e os resultados de 28 dias foram comparados. As manifestações extrapulmonares (inflamação, lesões extrapulmonares de órgãos e coagulação) foram comparadas numa análise exploratória.  

Resultados:  

A comparação entre doentes com Covid-19 e não Covid-19 sugeriu pequenas diferenças na conformidade respiratória, eficiência do ventilador e oxigenação.

A mortalidade em 28 dias foi de 30% em doentes com Covid-19 e 38% em doentes com ARDS não Covid-19.

Os pacientes com Covid-19 tinham contagens de neutrófilos (tipo de glóbulos brancos) mais baixas, mas não diferem na contagem de linfócitos (tipo de glóbulos brancos) ou noutras medidas de inflamação sistémica.  

Conclusões

Os autores concluem:

“Nesta coorte de centro único, não encontrámos provas de grandes diferenças entre a Covid-19 e o ARDS não Covid-19.”

“Muitas características clínicas fundamentais da Covid-19 foram semelhantes às do ARDS não Covid-19, incluindo fisiologia respiratória e resultados clínicos, embora o nosso tamanho da amostra impeça conclusões definitivas.”

Recomendações

Os autores consideram serem “necessários mais estudos” da doença “antes de se recomendar um desvio das práticas de tratamento baseadas em evidências”.

Análise de um especialista

Tiago Marques, médico Infectologista, falou-nos sobre o tema segundo a sua visão profissional: 

“Na prática o que o artigo demonstra é que nos doentes com necessidade de ventilação assistida, o ARDS (síndrome de dificuldade respiratória aguda, definido por critérios consensuais) secundário a SARS-CoV-2 não é muito diferente do ARDS secundário a outras patologias.

Tal era expectável uma vez que o ARDS corresponde a uma fase final de insultos pulmonares (pneumonia viral ou bacteriana, aspiração, inalação de tóxicos) ou extrapulmonares (sepsis, pancreatite, politraumatismo). Não parece ser, portanto, aceitável o desvio das estratégias ventilatórias em relação ao praticado em outras etiologias de ARDS.

Como particularidade, a lesão originada pelo SARS-CoV-2 na fase inicial (isto é, antes do ARDS estabelecido) parece ser uma pneumonia organizativa aguda, eventualmente com envolvimento vascular. 

Pelo que, a corticoterapia (tratamento com corticoides, como a dexametasona) atempada, e em doses otimizadas e adaptadas ao doente e à sua evolução clínica parecem ter um papel para evitar o agravamento rápido que estes doentes podem apresentar a partir do sétimo dia (e que parece ser mediado, pelo menos em parte, pelos complexos antigénio –anticorpos que se formam a nível pulmonar).”

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