Segundo o Inquérito à Situação Financeira das Famílias de 2020 realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), 69% das famílias em Portugal consideram que a sua situação financeira era semelhante à anterior à pandemia, enquanto 28% consideram que piorou e 3% que melhorou.
O INE analisou a situação financeira das famílias com base num inquérito, entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021.
De acordo com os dados recolhidos, 69% das famílias portuguesas indicaram que a sua situação financeira era semelhante à anterior à pandemia, porém, 28% consideraram que piorou e apenas 3% que melhorou.
Por sua vez, o impacto da pandemia na situação financeira e no rendimento das famílias foi maior nas famílias que dependiam do rendimento do trabalho no período anterior à pandemia.
Redução de rendimento
Entre as famílias em que o indivíduo de referência (que na maior parte das famílias é o indivíduo com maior rendimento) estava a trabalhar antes da pandemia, a redução no rendimento foi mais frequente nas de rendimento mais baixo, assim como para aquelas em que este indivíduo tinha um nível de escolaridade inferior ao ensino superior, era trabalhador por conta própria ou do setor do alojamento e restauração.
As situações de redução parcial de rendimento do trabalho foram mais frequentes do que a perda de emprego ou a perda total de rendimento. A percentagem de famílias em que o indivíduo de referência enfrentou estas últimas situações foi, contudo, bastante diversa consoante o tipo de família, atingindo valores mais elevados para aqueles com níveis de rendimento e de escolaridade mais baixos.
As questões de layoff ou de apoio a trabalhadores independentes foram mais frequentes nas famílias de rendimento intermédio.
Situação financeira: faixa etária e escolaridade
No relatório do inquérito é possível ver que a pandemia afetou principalmente a situação financeira das famílias em que os indivíduos estavam em idade ativa e, em especial, as famílias mais jovens. Nas famílias em que o indivíduo de referência (que na maior parte das famílias é o indivíduo com maior rendimento) tinha menos de 35 anos, 41% declararam uma deterioração da situação financeira, enquanto nos grupos etários dos 65 aos 74 anos e de 75 ou mais anos esta percentagem foi 20% e 13%, respetivamente.
Por níveis de escolaridade, a deterioração da situação financeira foi mais frequente nas famílias em que o indivíduo de referência tinha um nível de escolaridade inferior ao ensino superior (28% e 32% nos níveis de escolaridade até ao 3º ciclo do ensino básico e secundário, respetivamente, que comparam com 23% no ensino superior).
Maior impacto em famílias com crianças
Nas famílias com crianças, o impacto da pandemia foi mais negativo do que nas famílias que incluíam apenas adultos (cerca de 38% indicaram uma deterioração da situação financeira, o que compara com 18% e 26% nas famílias só com um adulto ou com vários adultos, mas sem crianças). Nas famílias com apenas um adulto e crianças, 8% declararam que a situação financeira se deteriorou e não conseguiram pagar as despesas apenas com o rendimento, uma percentagem que é superior às dos restantes tipos de família.
Conclusões
A perda de emprego e a manutenção do emprego, mas com perda total do rendimento do trabalho, foram em geral mais frequentes em níveis de rendimento e de escolaridade baixos e nas famílias em que o indivíduo de referência era mais jovem (Gráfico 4).
Nos rendimentos mais baixo, 8% dos indivíduos de referência perderam o emprego e 19% mantiveram o emprego, mas tiveram uma redução total do rendimento, enquanto nos mais altos estas percentagens foram 0% e 4%, respetivamente. Por situação na profissão, a manutenção de emprego com redução total do rendimento foi muito mais frequente entre os trabalhadores por conta própria (14% e 22%, nos trabalhadores por conta própria empregadores e isolados, respetivamente) do que entre os trabalhadores por conta de outrem (2%) (Gráfico 5).
Por setor de atividade, a maior percentagem de situações de perda de emprego ocorreu nos Transportes e armazenagem (9%) e Alojamento e restauração (6%) e a maior percentagem de situações de perda total de rendimento ocorreu neste último setor (17%).
Medidas para fazer face à redução de rendimento
A maior parte das famílias que registaram redução no rendimento devido à pandemia diminuíram a despesa em bens não duradouros e serviços. As outras medidas mais frequentes para fazer face à redução do rendimento foram a utilização de poupanças acumuladas ou a venda de bens de valor, o recurso a moratórias para os empréstimos com garantia da residência principal, o adiamento da compra de uma casa, de um carro ou de outro bem duradouro e a ajuda de familiares ou amigos (Gráfico 6).