A 24 de fevereiro, a Rússia começou a invadir a Ucrânia. Vários países demonstraram o seu apoio à Ucrânia ao aplicar sanções que visam atingir os setores financeiro, energético e de transporte da Rússia. Mas será que estas medidas vão travar a guerra?
A invasão da Geórgia em 2008 e os ataques à Ucrânia em 2014 demonstraram há muito tempo a determinação da Rússia em impedir que os países vizinhos caíssem na órbita ocidental, mesmo à custa do isolamento internacional e de sanções punitivas.
O ataque à Ucrânia começou a partir da Rússia, Bielorrússia e Crimeia. As forças russas atacaram a Ucrânia a partir de três frentes. Segundo o conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, a Rússia lançou um ataque a partir do leste, norte e sul.
Na sequência da invasão do país, Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, anunciou o corte das relações diplomáticas com a Rússia e pediu ajuda para defender o país porque Vladimir Putin, presidente da Rússia, “desencadeou uma guerra com a Ucrânia e com o mundo democrático”.
Quatro dias depois do início da guerra, a Rússia tem sofrido diversas sanções por parte dos líderes europeus.
Estados-membro divididos: medidas sancionatórias
A maioria dos Estados-membros estão divididos entre os que entendem que as sanções paralisarão lentamente a economia russa e os que insistem que as medidas não são suficientemente duras para deter a agressão do presidente Vladimir Putin.
Micheál Martin, primeiro-ministro da Irlanda, explicou à Euronews que o preço das medidas esmagadoras só deverá começar a fazer-se sentir a médio prazo: “Com o tempo, as sanções terão impacto.
Uma das sanções, a exclusão dos bancos russos da Swift e do banco central russo das operações internacionais, cria danos colaterais potencialmente substanciais para empresas e instituições financeiras que devem dinheiro.
No início da semana passada, a Alemanha, que se encontra numa situação sensível devido ao facto de depender da Rússia para dois terços do seu abastecimento de gás, interrompeu a certificação do gasoduto Nord Stream 2.
Mas as sanções não ficam por aqui, com a União Europeia e vários países no mundo, nomeadamente, os Estados Unidos, o Japão, a Nova Zelândia e o Reino Unido a fazerem parte deste plano para travar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
As sanções visam atingir os setores financeiro, energético e de transporte da Rússia e incluem controlo de exportação e proibições de financiamento comercial.
Mas será que as sanções vão ter o impacto desejado?
Lee Jones, professor de Economia Política e Relações Internacionais na Universidade de Londres Queen Mary, expôs a sua visão num artigo da Unherd.
“Essas medidas vão levar ao fim da invasão russa? Parece improvável. Como mostra o registo de conflitos internacionais, as sanções raramente (ou nunca) funcionam”.
Segundo Jones, para as sanções terem sucesso, não devem apenas impor custos económicos, mas também mudar o comportamento político dos governos alvo.
“A verdadeira opção ‘nuclear’ seria impedir as exportações de energia da Rússia, que representam mais da metade das exportações totais deste país. Isso causaria danos sérios. Mas, dado que a Europa depende da Rússia para cerca de um quarto do seu petróleo e mais de um terço do gás, isso também estimularia uma inflação maciça e induziria a recessão económica no Ocidente”.
Lee Jones defende que o problema das sanções é que estas são baseadas numa “compreensão dúbia do comportamento humano”, supondo que todo o homem tem o seu preço.
No entanto, o passado mostra que muitos regimes e os seus apoiantes estão dispostos a suportar “custos económicos colossais para perseguir os seus objetivos políticos e de segurança”, começou por dizer Jones.
“O regime do Partido Baath de Saddam Hussein preferiu ver a economia e a sociedade do Iraque destruídas a renunciar ao poder. O regime de Fidel Castro resistiu ao impedimento punitivo dos EUA durante décadas. O Irão sofreu graves danos económicos sob as sanções ocidentais sem abrir mão do seu programa nuclear”, realçou o professor.
O professor universitário declarou ainda que caso uma solução diplomática não seja encontrada, que as sanções serão então apenas uma parte de uma guerra catastrófica.
“A única saída para esse desastre é um acordo negociado, que exigirá que a NATO considere os interesses russos e preserve a democracia e a soberania ucranianas dentro de um quadro de neutralidade internacional. Pois a realidade brutal é esta: é improvável que as sanções forcem a Rússia a sair da Ucrânia e o Ocidente não está disposto a ser arrastado diretamente para a batalha com um Estado com armas nucleares”, finalizou Lee Jones.