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Saúde Mental: utentes podem esperar o dobro do tempo garantido para uma consulta de psiquiatria em alguns hospitais

Em análise está o tempo médio de espera para uma primeira consulta hospitalar de psiquiatria nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. A partir do portal do Ministério da Saúde é possível averiguar que em pelo menos 15 hospitais, o tempo garantido para uma primeira consulta de psiquiatria é ultrapassado. Observamos também casos prioritários e muito prioritários, em que o tempo médio de espera é o dobro do garantido.

Quando averiguamos entre os 83 hospitais, 15 apresentavam um tempo médio de espera superior ao tempo máximo de resposta garantido para uma primeira consulta hospitalar de psiquiatria. Além disso, nem todos dispõem desta especialidade nos seus serviços e entre estes 15 hospitais, observamos situações classificadas como prioritárias e muito prioritárias em que o tempo médio de espera está duas vezes acima do tempo de espera garantido pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Exemplificando, nos Hospitais da Universidade de Coimbra, um utente que aguarda por uma primeira consulta classificada como prioritária, espera em média 121 dias, quando deveria aguardar apenas 60 dias. 

No Hospital Santa Maria, em Lisboa, verificamos também que uma pessoa que aguarda por uma consulta classificada como muito prioritária deveria esperar apenas 30 dias, mas espera em média 112. 

A situação é semelhante, no Hospital de Braga, mas especificamente para uma consulta de psiquiatria da infância e da adolescência, em que para uma consulta normal uma criança ou adolescente pode esperar em média 252 dias, quando deveria aguardar apenas 150 dias, mais 102 dias do que os garantidos.

Critérios para encaminhar um doente para uma consulta de psiquiatria

Para entender quais são os principais critérios que levam um psicólogo a encaminhar um utente para uma consulta hospitalar de psiquiatria, falamos com a Psicóloga Clínica e Diretora Técnica na empresa Care For You, Petra Tavares, que nos elucidou:

“Os principais critérios para encaminhar um doente para psiquiatria é quando existem sintomas muito severos. Podem existir duas situações. Imagine que um paciente chega a um psicólogo, é feita uma avaliação e é diagnosticado uma psicopatologia – uma ansiedade, uma depressão, uma esquizofrenia ou uma perturbação borderline. Ali, há um diagnóstico e pode ser necessário um cruzamento com o psiquiatra porque a medicação vai ajudar na intervenção e a atenuar os sintomas mais severos. A outra hipótese é de uma pessoa que começa a fazer psicoterapia, pode ser feito um determinado diagnóstico ou identificado algum sintoma, mas ao longo do tempo e com o acompanhamento não consegue ver uma melhoria ou diminuição dos sintomas, neste caso também pode ser aconselhável encaminhar para uma consulta de psiquiatria.”

No que diz respeito à demora para uma primeira consulta de psiquiatria, após esta ser recomendada por um profissional de saúde, a psicóloga destaca alguns pontos importantes:

“Essa demora pode afetar e muito o estado clínico do paciente. Já vi pessoas que às vezes ficam imenso tempo à espera de uma consulta [de psiquiatria] e, verdade seja dita, o sofrimento daquela pessoa está ali, naquele momento. Ou seja, ela vai esperar dois, três meses por uma consulta e pode correr o risco de piorar, que é o mais provável que aconteça. Porque se a pessoa naquele momento precisa de um medicamento, é a mesma coisa que termos uma dor de cabeça hoje e sermos medicados daqui a um mês. Não faz sentido. Isso pode mostrar uma grande lacuna no Sistema Nacional de Saúde no que diz respeito à especialidade de psiquiatria e psicologia, porque a pessoa precisa que os sintomas sejam atenuados naquele momento. Vemos muitas pessoas à espera, depois acabam por ir aos hospitais privados, mas nem todos têm condições para tal, o que pode afetar e agravar muitas vezes a situação”, salienta Petra Tavares, Psicóloga Clínica. 

Saúde mental em Portugal

No Inquérito às Condições de Vida e Rendimento 2021, publicado a 25 de fevereiro de 2022, do Instituto Nacional de Estatística (INE), consta que mais de 1 ⁄ 4 da população referiu efeitos negativos na sua saúde mental devido à pandemia Covid-19.

Legenda/Nota: Em 2021, o inquérito dirigiu-se a 16.478 famílias, das quais 10.973 com resposta completa (com recolha de dados sobre 26.822 pessoas; 23 730 com 16 e mais anos). Os dados do módulo “Saúde e privação material das crianças” respeitam as pessoas com menos de 16 anos no final de 2020, residentes em 3 092 agregados, e foram obtidos através de entrevistas proxy aos representantes dos agregados domésticos privados.

Perturbação Mental em números em Portugal

De acordo com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, as doenças e as perturbações mentais são a principal causa da incapacidade e uma das principais causas de morbilidade nas sociedades. 

– Portugal é o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa – 22,9%;

– Sendo apenas ultrapassado pela Irlanda do Norte – 23,1%;

– 1/5 dos portugueses sofre de uma perturbação psiquiátrica;

– 4% da população adulta apresenta uma perturbação mental grave;

– 11, 6% têm uma perturbação de gravidade moderada;

– 7,3% têm uma perturbação de gravidade ligeira.

Prevalência das perturbações mentais

– 16,5% perturbações de ansiedade;

– 7,9% perturbações do humor;

– 3,5% perturbações de controlo dos impulsos;

– 1,6% perturbações pelo abuso de substâncias.

Carga global das doenças em Portugal

– 13,7% doenças cérebro-cardiovasculares;

– 11,8% perturbações mentais e do comportamento;

– 10,4% doenças oncológicas.

A Saúde Mental é uma parte integrante da saúde e a Organização Mundial de Saúde define-a como «o estado de bem-estar no qual o indivíduo tem consciência das suas capacidades, pode lidar com o stress habitual do dia a dia, trabalhar de forma produtiva e frutífera, e é capaz de contribuir para a comunidade em que se insere».

Consulte abaixo o quadro que apresenta os hospitais onde as consultas de Psiquiatria não cumprem o tempo máximo de resposta garantido.

EspecialidadeHospitalCuidados de SaúdePrioridadeTME (dias)TMRG / Dias a mais (média)
PsiquiatriaHospitais da Universidade de CoimbraConsultaPrioritário12160/+61
PsiquiatriaHospital Beatriz Ângelo (Loures)ConsultaMuito prioritário5130/+21
Psiquiatria da Infância e da adolescênciaHospital Beatriz Ângelo (Loures)ConsultaPrioritário10260/+42
PsiquiatriaHospital Distrital de ChavesConsultaNormal220150/+70
PsiquiatriaHospital Distrital de LamegoConsultaNormal191150/+41
Psiquiatria da Infância e da adolescênciaHospital José Joaquim Fernandes (Beja)ConsultaNormal169150/+19
Psiquiatria da Infância e da adolescênciaHospital Nossa Senhora da Graça (Tomar)ConsultaPrioritário15360/+93
PsiquiatriaHospital Santa MariaConsultaMuito prioritário11230/+82
PsiquiatriaHospital Sousa MartinsConsultaPrioritário10360/+43
PsiquiatriaHospital São BernardoConsultaMuito prioritário10930/+79
PsiquiatriaHospital Vila Franca de XiraConsultaMuito prioritário7930/+49
Psiquiatria da Infância e da adolescênciaHospital de BragaConsultaMuito prioritário
Prioritário
Normal
48

82
252
30/+18

60/+22
150/+102
PsiquiatriaHospital de FamalicãoConsultaPrioritário6160/+1
Psiquiatria da Infância e da adolescênciaHospital de Santo AndréConsultaMuito prioritário3730/+7
PsiquiatriaHospital Egas MonizConsultaMuito prioritário7630/+46
PsiquiatriaHospital Psiquiátrico Sobral CidConsultaPrioritário6560/+5

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