Filipe Froes é consultor da DGS, alto responsável da Ordem dos Médicos e uma presença habitual na comunicação social. No entanto, algumas das afirmações que tem feito sobre a pandemia não correspondem aos factos ou estão em completo desacordo com a evidência científica disponível. Essa atuação e o facto de receber, há vários anos, avultadas somas de empresas com interesses comerciais nesta pandemia, levanta legítimas dúvidas sobre a sua independência e isenção. Desde 2013, de acordo com o site do Infarmed, recebeu 400 mil euros de empresas farmacêuticas.
O facto de alguém receber de empresas privadas montantes extra ao seu vencimento profissional não deve ser à partida motivo de qualquer censura. Isto, desde que sejam cumpridas as suas obrigações profissionais a que está vinculado, neste caso como médico.
Outra questão diferente, é o facto desse trabalho extra não ser referido, aquando de intervenções que, direta ou indiretamente, são do interesse das farmacêuticas que o financiam. Sendo que isso, constitui um claro conflito de interesses.
Não é uma questão legal, até porque os rendimentos são declarados no Portal da Transparência como exige a lei, é uma questão ética e de transparência, que permitiria ao recetor das suas opiniões poder avaliar, com mais informação, o grau de fiabilidade das mesmas. Também poderia ser do interesse do próprio, por exemplo, para evitar maiores suspeitas (por parte de quem depois descobre que essa informação não foi revelada).
Mas o que torna este tema muito mais sensível é o facto de as declarações de Filipe Froes, não apenas promoverem essas empresas e os seus interesses, mas de o fazerem de forma enganosa ou, mesmo, através de informação comprovadamente falsa.
Conflito de interesses
Algumas das suas intervenções têm levantado alguma perplexidade junto de quem acompanha a pandemia, nomeadamente devido: 1) à distorção de alguns dados sobre os riscos da doença, 2) à certeza manifestada sobre a eficácia de algumas medidas não farmacológicas (sem a evidência de qualidade necessária) ou 3) à promoção explícita de produtos farmacêuticos, alguns de eficácia ou segurança duvidosas.
O The Blind Spot publicou um artigo, em maio de 2021, que evidenciava que o médico tinha produzido declarações falsas sobre as vacinas da Covid-19.
Três anos antes, Felipe Froes tinha já declarado ter recebido apoio financeiro e não financeiro, de algumas farmacêuticas, entre as quais a Pfizer, no artigo Achoo, achis, ATCHIN! Vaccine you… (2018) de que foi primeiro autor, e em que defendia a vacinação pneumocócica e contra a gripe.
Também o jornalista Pedro Almeida Vieira tem investigado o facto de Filipe Froes receber avultados vencimentos de farmacêuticas, enquanto promove abertamente alguns dos seus produtos.
As remunerações declaradas (por si ou pela sua empresa) podem ser consultadas no site do Infarmed. Desde 2013, altura em que a plataforma foi criada, o médico recebeu cerca de 400 mil euros de empresas farmacêuticas.
Fonte: Infarmed- Plataforma transparência e Publicidade
Segundo o jornal O Novo, essas ligações, levaram mesmo a Inspeção da Saúde a abrir um processo para investigar as relações de Froes com as farmacêuticas.
Promoção na Comunicação social
Apesar da relação próxima com estas empresas, de abordar repetidamente produtos das mesmas (invariavelmente de forma favorável) e de ter comprovadamente feito declarações falsas, os principais órgãos de comunicação social continuaram a promovê-lo como uma das principais “vozes da pandemia”.
Mais, os espetadores (ouvintes ou leitores) não são informados da sua relação atual (e de há muitos anos) com essas empresas, nomeadamente, das que têm interesses diretos nas matérias que aborda.
Cargos ocupados
O pneumologista Filipe Froes é, há muitos anos, consultor da Direção-Geral da Saúde (DGS). É igualmente coordenador científico da área de infeções respiratórias do Plano Nacional para as Doenças Respiratórias e membro da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.
Foi o coordenador do (extinto) gabinete de crise para a Covid-19 na Ordem dos Médicos.
Foi igualmente membro do Conselho Nacional de Saúde Pública e desempenhou funções como perito da Comissão Técnica Nacional de Vacinação da DGS.
O médico é também um habitual comentador nos principais media e é convidado com frequência para longas entrevistas. Em qualquer dos casos, e desde há muitos anos, nunca se inibiu de promover explicitamente vários produtos farmacêuticos.
Esta realidade acentua-se sempre que existe uma emergência de saúde, como foi o caso da pandemia de Covid-19.
Nos próximos artigos vamos abordar algumas das suas intervenções mais imprecisas e que, em vez de serem alvo de escrutínio devido, têm sido promovidas pela maioria da comunicação social.