O Conselho Nacional de Saúde afirma que o fecho de escolas prolongado em Portugal, no período da pandemia, não teve por base evidência científica e aponta graves consequências desta medida.
No relatório de 2022, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) considera não ter existido ciência que suportasse a decisão de fechar as escolas:
“Comparativamente com outros países, Portugal foi dos que adotou uma política mais severa nesta matéria, sem que se fundamentasse verdadeiramente a evidência científica que a suportava (…) em 2020 e 2021 (descontando férias, fins de semana e feriados), as escolas até ao 9º ano fecharam cerca de 100 dias”.
O relatório compara mesmo Portugal com outros países que também adotaram essa medida durante um período significativo, mas que o fizeram durante sensivelmente metade do tempo:
“São dados que contrastam com os de outros países europeus, nomeadamente Espanha, Bélgica ou França (cerca de 50).”
Graves consequências
O CNS aponta, entre os efeitos mais negativos, da imposição do teletrabalho (para muitos) e do ensino remoto (para crianças e jovens), a disrupção da vida familiar, com uma sobrecarga dos pais e um “corte doloroso” nas sociabilidades dos filhos, “no seu processo de crescimento e autonomização”.
É igualmente destacado o impacto desproporcional destas medidas na população carenciada:
“A casa-escola não o é para todos, assim como o impacto da falta de aulas presenciais no sucesso escolar dos alunos se pode tornar particularmente dramático para os provenientes de classes mais desfavorecidas.”
Dado o impacto “a médio e longo prazo, que estas decisões políticas têm na saúde mental, no desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças e jovens, assim como nas aprendizagens letivas”, é defendido que se pense em “medidas concretas que o permitam mitigar”.
Fecho de Escolas e evidência científica
Apesar de inúmeros países europeus terem decretado o fecho de escolas, desde muito cedo que a evidência não sugeria efeitos significativos dessa medida.
Países como a Suécia que nunca fechou as escolas (até aos 16 anos) e muitos outros que as reabriram rapidamente, reconhecendo o erro, foram dos países com uma melhor evolução no combate à pandemia de Covid-19. Outros, como o Reino Unido, só o fizeram mais tarde.
A própria OMS há muito que reconhece que:
“O papel das crianças na transmissão ainda não está totalmente compreendido. Até ao momento, poucos surtos envolvendo crianças ou escolas foram relatados. No entanto, o pequeno número de focos relatados entre o ensino ou o pessoal associado até à data sugere que a propagação do COVID-19 dentro de contextos educativos pode ser limitada.”
- Este artigo foi editado. Por erro foi referido o Conselho Nacional de Saúde Pública como o autor do relatório, quando na verdade o relatório foi produzido pelo Conselho Nacional de Saúde.