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Autoridades de saúde criticadas por acelerar vacinação da gripe

Flu

A campanha de vacinação da gripe, lançada no início de setembro em Portugal e Estados Unidos, poderá estar a ser prematura. Estudos científicos, médicos e organizações profissionais alertam para a curta duração da eficácia da vacina e que, se for dada em setembro, poderá não ter efeito no início do inverno, altura em que os casos são mais frequentes.

O artigo publicado na Science em agosto de 2020 conclui que a vacina da gripe “é dificilmente  uma vacina ideal, oferecendo uma proteção relativa que desaparece rapidamente”. Os investigadores indicam no estudo a “existência de um tipo de célula crucial escondido na medula óssea que rapidamente entra em atividade depois da vacinação mas que desaparece dentro de alguns meses”. O objetivo do estudo era indicar novas estratégias para aumentar a durabilidade da vacina.

Os investigadores comparam com as “melhores vacinas” – sarampo, rubéola e difteria – que fornecem “proteção a 100% para toda a vida”. “No entanto”, prossegue o artigo, “as vacinas da gripe não conseguem acompanhar o desenvolvimento rápido do vírus influenza, o que provoca alterações na eficácia a cada ano”. É o caso dos Estados Unidos onde, entre 2009 e 2019, “a eficácia oscilou entre os 19% e os 60%”. E os autores do estudo alertam: “a proteção diminui rapidamente”. Dão como exemplo as pessoas que vivem numa região temperada do mundo: se a vacina for dada no início do outono, a imunidade pode desaparecer antes do fim do inverno.

O plano de vacinação português está em linha com as intenções das autoridades de saúde federais norte-americanas. Anthony Fauci, o conselheiro-chefe para questões médicas do presidente Joe Biden, quer que as vacinas contra a covid-19 e contra a gripe sejam dadas “em simultâneo e quanto mais cedo, melhor”. O apelo inclui todos os norte-americanos a partir dos 12 anos.

Ashish Jha, coordenador da covid-19 para a Casa Branca, enfatizou a intenção da administração norte-americana, a 6 de setembro:

“Eu acredito que é por isso que Deus nos deu dois braços – um para a vacina da gripe e outro para a vacina da covid”

Dúvidas sobre duração e eficácia

Mas, segundo um artigo publicado a 9 de setembro de 2022 pela STAT, “uma dose de vacina da gripe dada no início de setembro poderá oferecer proteção limitada se a época da gripe não tiver o seu auge antes de fevereiro ou março”, conforme aconteceu na temporada atípica de 2021-2022.

A STAT, uma publicação, dedicada à saúde, medicina e ciências da vida, com especial destaque para a covid-19, ouviu vários especialistas. O trabalho feito pelos investigadores do Centro de Estudos de Vacinas Kaiser Permanente e da Escola de Saúde Pública de Harvard estimam um decréscimo da eficácia da vacina de cerca de 18% por cada período de 28 dias após a vacinação.

Outro estudo, feito por cientistas do Centro de Controlo de Doenças norte-americano (CDC) mostram que a proteção da vacina contra gripes que levam a hospitalizações diminui entre 8% e 9% por mês após a vacinação. Em adultos com mais idade, que são aqueles mais suscetíveis de contraírem formas graves da doença, o declínio acontece a uma taxa entre 10% e 11% por mês.

Vários estudos, conforme refere a STAT, indicam que o declínio da eficácia das vacinas contra a gripe estão frequentemente ligados às estirpes para as quais foram concebidas e que não são aquelas que estão a deixar as pessoas doentes. Os anos de 2020 e 2021 foram atípicos relativamente à gripe com um número muito reduzido de casos reportados em todo o mundo.

Miguel Guimarães diz que DGS “está a cometer um erro”

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães, alertou que estamos a incorrer num erro, referindo-se às Linhas Orientadoras Outono-Inverno 2022-23 da DGS. O comunicado da OM, de 9 de setembro, esclarece que é um erro “porque o pico da eficácia da vacina contra a gripe dura cerca de três meses, ou seja, em dezembro pode começar a perder efeito, quando o pico da gripe registado em Portugal é, normalmente, entre dezembro e fevereiro”

A Ordem dos Médicos indicou ainda que redigiu um ofício dirigido à DGS onde refere que “como a vacinação [contra a gripe] vai iniciar-se pelos mais idosos e frágeis, há o risco desta população já ter perdido grande parte da proteção quando ocorrerem os surtos de gripe (historicamente registados em finais de dezembro, janeiro e fevereiro)”.

Plano de vacinação com alterações sucessivas

Conforme o The Blind Spot noticiou a 30 de agosto, a DGS pretendia, na altura, dar início à campanha de vacinação contra a covid-19 a 5 de setembro utilizando as vacinas de primeira geração, desenvolvidas para as estirpes iniciais do vírus. A campanha prevê a vacinação entre os 5 e os 11 anos, uma opção contrária a vários países europeus.

O plano de vacinação conjunta contra a covid-19 e gripe foi anunciado a 2 de setembro.

A 6 de setembro era anunciada a chegada de cerca de 650 mil doses da vacina adaptada contra a covid-19 e com proteção para a variante Omicron.

Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, disse, a 8 de setembro, que as novas vacinas covid-19 “são tão seguras como as anteriores”.

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