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CNN Portugal oculta utilização de imagens falsas sobre a guerra na Ucrânia 

A ERC confirmou que a CNN Portugal exibiu imagens de falsos ataques aéreos à Ucrânia que, afinal, foram retiradas de um videojogo. No entanto, o canal optou por nunca esclarecer a situação junto dos telespetadores. A deliberação do regulador critica a CNN Portugal mas acabou por apenas recomendar o reconhecimento público do erro.

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) recebeu uma participação contra a CNN Portugal, a 7 de março de 2022, por utilização de imagens de um jogo de computador para retratar bombardeamentos russos à Ucrânia. As imagens foram exibidas a 24 de fevereiro e contextualizadas com o acompanhamento em direto da situação no país.

The Blind Spot disponibiliza um vídeo onde são comparadas as imagens transmitidas pela CNN Portugal, a 24 de fevereiro de 2022, alegadamente na Ucrânia, com um vídeo do YouTube, publicado a 15 de dezembro de 2021, com um excerto do videojogo War Thunder.

Comparação das imagens transmitidas pela CNN Portugal como sendo da guerra na Ucrânia com as imagens do jogo War Thunder

A 7 de setembro, a ERC deliberou e confirmou que as imagens exibidas pelo canal televisivo português são falsas. O documento indica que “as imagens de mísseis a rasgar o céu (…) não correspondem a qualquer ataque russo (…) uma vez que foram retiradas de um jogo de computador”.

O regulador “considera que a utilização destas imagens põe em causa o rigor informativo da peça jornalística (…), podendo ainda fragilizar a confiança dos telespectadores perante a informação jornalística prestada pela CNN Portugal”.

O Conselho Regulador alerta ainda a TVI, proprietária do canal, e a Direção de Programas da CNN Portugal para o problema da desinformação. “[É essencial que] os media noticiosos ditos tradicionais garantam uma informação rigorosa e pugnem por alcançar a máxima credibilidade junto do público. (…)”, lê-se na deliberação.

No que diz respeito às consequências, a ERC reforça a questão da desinformação:

“Instar a CNN Portugal a respeitar o rigor informativo, sobretudo na cobertura noticiosa de guerra e conflitos armados, (…) de forma a não veicular conteúdos de desinformação ou propaganda”.

No final, a ERC recomenda “à CNN Portugal, tal como proposto na inquirição da testemunha indicada pela denunciada, a assumir o seu erro cometido perante o seu público, dando assim cumprimento (…) ao Estatuto do Jornalista”.

Alteração da decisão da ERC

Conforme avançou o jornal Página Um, o projeto de decisão original da ERC, datado de finais de maio, refere a obrigatoriedade da assumpção pública da emissão de imagens falsas. No entanto, prossegue o Página Um, a CNN Portugal manifestou que isso seria “excessivamente contundente” e que até poderia “inclusivamente ser contraproducente para os fins que lhe parecem estar subjacentes – o reforço da confiança nos media tradicionais”. 

O advogado que representou a TVI e a CNN Portugal reconheceu os factos e elencou argumentos em sua defesa, conforme consta da deliberação. Entre eles, foi alegado que a estação televisiva desconhecia que o vídeo era falso e que não se tratou de “desinformação” dado que “a informação estava correta”.

Apesar de a ERC recomendar o retratamento público da estação televisiva, ele deixou de ser obrigatório, conforme constava do projeto de decisão.

A não obrigatoriedade é, assim, contrária  ao artigo citado pela ERC para indicar como dever dos jornalistas:

“Proceder à retificação das incorreções ou imprecisões que lhes sejam imputáveis;”

Até à data de elaboração desta notícia, e segundo o que o The Blind Spot apurou, essa retratação ainda não foi feita.

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