Uma das medidas tomadas pelo novo dono do Twitter, Elon Musk, foi a de desativar a “política de desinformação” da covid-19. Essa política serviu de suporte para inúmeras formas de censura, desde a diminuição da visibilidade de conteúdos até à exclusão de utilizadores. No entanto, ela própria, para além de pressupostos não comprovados, baseava-se em algumas alegações falsas.
A política de desinformação da covid-19 do Twitter, que foi recentemente removida, continha ela própria várias informações enganosas ou mesmo falsas. Esse facto, permitiu à rede social penalizar utilizadores, mesmo que estes fizessem afirmações verdadeiras.
Alegações verdadeiras censuradas
O Twitter afirmava exigir a exclusão de tweets que contivessem, entre outras coisas, alegações de que pessoas ou grupos específicos tivessem diferentes probabilidades de infeção ou sintomas adversos.
Ora, algumas dessas diferenças são conhecidas desde o início da pandemia. Por exemplo, logo nos primeiros dados conhecidos ficou evidente a enorme diferença de risco de doença grave entre crianças/jovens e idosos.
Na altura de vigência desta política, os estudos com maior rigor científico já demonstravam um risco residual de doença grave nos mais jovens e que a esmagadora maioria dos casos fatais eram de idosos.
Outra alegação que é considerada “falsa ou enganosa” pelo antigo documento é de que as pessoas vacinadas podem transmitir a doença a pessoas não vacinadas.
Ora também essa alegação parece ser inegavelmente verdadeira. Independentemente de se poder questionar se os vacinados transmitem mais, ou menos, e em que períodos isso ocorre, é indiscutível que os vacinados transmitem a doença, quer aos vacinados quer aos não vacinados.
A publicação desta política do Twitter tem a data de dezembro de 2021 e esteve vigente até há pouco tempo. Ora, mesmo antes da sua publicação, existiam artigos publicados nas revistas científicas com mais impacto a relatar que “A relevância epidemiológica da população vacinada covid-19 estava a aumentar”. A posterior confirmação foi consistente em vários estudos, como o da “Transmissibilidade do SARS-CoV-2 entre indivíduos com a vacinação completa”, “Transmissão comunitária e cinética de carga viral da variante delta da SARS-CoV2 em indivíduos vacinados e não vacinados no Reino Unido” e “Surto da variante Delta da SARS-CoV-2 entre prisioneiros”. Mesmo aqueles que o negavam inicialmente, assumiram o facto.
Pressupostos subjetivos e pouco sustentados
Mas, se em alguns casos, o documento partia de pressupostos falsos para poder censurar, noutros partia de pressupostos subjetivos ou não sustentados.
Por exemplo, a assunção geral de que é falso que as vacinas podem ser mais prejudiciais que apanhar a covid é, na melhor das hipóteses, duvidosa.
Em termos individuais, tal não é necessariamente verdade porque existem casos de reações muito graves, ou até fatais, à vacina.
Mesmo em relação ao risco-benefício geral, ela não é necessariamente verdadeira, nomeadamente: (1) para jovens, (2) para quem já contraiu a doença uma (ou mais vezes), (3) para quem teve fortes reações adversas em tomas anteriores, ou (3) para quem já foi vacinado diversas vezes.
Outro dos muitos exemplos, é o facto de serem consideradas falsas, ou enganosas, alegações de que as máscaras faciais não funcionam para reduzir infeções ou que possam causar pneumonia bacteriana.
Ora, os estudos de maior fiabilidade científica (RCTs) apontam invariavelmente para o efeito das máscaras na transmissão ser nulo ou residual . Mesmo a OMS, apesar de recomendar o seu uso em algumas situações, reconhece que “não existe evidência que isto [máscaras] é eficaz a reduzir a transmissão” (pág. 33).
Também em relação a possíveis efeitos negativos, foram há muito reconhecidos, nomeadamente o risco de auto-contaminação. Estudos recentes comprovam a existência de microrganismos perigosos nas máscaras dos utilizadores, como fungos e bactérias.
É estranho que, no caso das máscaras, se valorize um possível mecanismo de funcionamento, mesmo quando a evidência não o confirma, mas no caso de possíveis efeitos negativos (pneumonia) por contaminação bacteriana, baseada em mecanismos bastante mais óbvios, sejam logo à partida rejeitados.
Mudança de políticas no Twitter
Mesmo antes de adquirir o Twitter, Elon Musk afirmou ser um acérrimo defensor da liberdade de expressão e criticou a falta de transparência do processo de censura levado a cabo pela rede social.
Chegou mesmo a criticar publicamente a suspensão de contas como a do jornal que publicou a história acerca do portátil apreendido pelo FBI, que pertencia ao filho do atual presidente Joe Biden. A notícia foi posteriormente confirmada como verdadeira.
Represálias pela mudança de políticas
Esta mudança originou, no entanto, reações negativas de muitos setores. Várias personalidades criticaram Musk ou abandonaram mesmo a rede social.
Segundo o próprio, a Apple terá quase parado de fazer publicidade na rede social como consequência da mudança de política.
Também a União Europeia já alertou o Twitter para possíveis penalizações, caso não cumpra com as novas regras impostas pela Lei do Mercado Digital, nomeadamente, as que incidem no “combate à desinformação”.