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Ursula von der Leyen raramente fica sem palavras. Mas quando nem ela consegue pensar em mais nada, as coisas ficam sérias. Foi o que aconteceu há uma semana numa conferência de imprensa onde os jornalistas quiseram saber a sua posição sobre o envolvimento do seu vice-presidente no “Catargate”. The Blind Spot recorda o historial de omissões da presidente da Comissão Europeia.

A presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen recusou-se a responder aos jornalistas sobre as relações do seu vice-presidente, Margaritis Schinas, com o Catar. Ao ser questionada sobre a resposta ao escândalo de corrupção que envolve o Parlamento Europeu (PE) e o Catar, e em particular a postura de Schinas, von der Leyen manteve-se silenciosa.

A ausência de respostas na conferência de imprensa, que decorreu no dia 12 de dezembro, enfureceu os jornalistas, de acordo com o Politico. Von der Leyen insistiu apenas na proposta para a criação de uma nova instituição que avalie a ética das instituições europeias – uma proposta com mais de três anos e que não tem tido desenvolvimentos dentro dos principais organismos.

O comissário grego Margaritis Schinas representou a União Europeia (UE) na cerimónia de abertura do Campeonato do Mundo de Futebol, no mês passado, e foi criticado por membros do PE relativamente aos seus tweets nos meses recentes, elogiando as reformas laborais no Catar.

Negócio com Pfizer e mensagens perdidas

A falta de transparência de Ursula von der Leyen tem estado na mira de diversas instituições europeias. Conforme o The Blind Spot noticiou a 17 de outubro, Ministério Público, Parlamento, Provedora e Tribunal querem ver esclarecido negócio que poderá ter ascendido a 35 mil milhões de euros.

Em causa está o negócio de vacinas covid-19 entre a Comissão Europeia e a Pfizer e as mensagens de texto privadas trocadas entre a sua presidente e Albert Bourla, CEO da empresa farmacêutica.

Em abril de 2021, uma investigação do New York Times revelou que Ursula von der Leyen e Albert Bourla trocaram mensagens de texto e de voz sobre os negócios de fornecimento de vacinas covid-19 da Pfizer para países da União Europeia.

A 29 junho de 2022, von der Leyen disse que já não estava na posse das mensagens de texto que trocou com Bourla para fechar o negócio das vacinas covid-19, conforme noticiou a Reuters.

A 13 de julho de 2022, o inquérito feito pela Ombudsman (o equivalente a um Provedor europeu) “confirmou a constatação de má administração” por parte da Comissão. A Ombudsman Emily O’Reilly indicou que durante mais de um ano a Comissão “ainda não clarificou se as mensagens relacionadas com grandes negócios de aquisição de vacinas existem e se o público tem direito a vê-las”.

A 12 de setembro o Tribunal de Auditores da União Europeia publicou um relatório onde refere que a Comissão recusou a divulgação de qualquer detalhe sobre o envolvimento pessoal da sua presidente, Ursula von der Leyen, nas negociações.

O Tribunal revelou que von der Leyen não seguiu as regras sobre as negociações na UE e abriu caminho para um contrato direto de 1,8 mil milhões de doses de vacinas covid-19 assinado em maio de 2021.

A 12 de outubro, o comité COVI do PE acusou o CEO da Pfizer, Albert Bourla, de ter recusado aparecer perante o parlamento para “responder às nossas perguntas legítimas sobre as suas mensagens de texto privadas com a presidente da comissão europeia”.

Francesca Donato, membro do PE e do comité, recordou que as trocas de mensagens “foram consideradas irregulares de acordo com os regulamentos de transparência da EU, pelo Ombudsman e pelo Tribunal de Auditores da União Europeia”.

O comité especial COVI “foi formado para analisar como foi a resposta da União à pandemia e como é que as lições aprendidas podem contribuir para ações futuras”.

A 14 de outubro, o Ministério Público Europeu – European Public Prosecutor’s Office (EPPO), na sua designação oficial – confirmou que tem em curso uma investigação sobre a aquisição de vacinas covid-19 por parte da UE. O comunicado é “uma confirmação excecional decorrente do interesse público extremamente elevado que foi demonstrado”. O EPPO diz que não irá, para já, detalhar publicamente a investigação.

A 5 de dezembro, o patrão da Pfizer Albert Bourla recusou-se mais uma vez a reunir-se com os deputados da COVI para explicar o seu envolvimento nos contratos de compra de vacinas durante a pandemia.

“Desde a audiência de outubro, não temos mais informações para compartilhar com o comité, por isso recusamos respeitosamente o convite para retornar a essas questões”, escreveu Bourla numa carta enviada aos deputados.

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