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Editorial: “De” ou “com” covid? – Já podemos dizer às pessoas que foram enganadas?

Um artigo, escrito no Washington Post, intitulado “Estamos a sobre-contar mortes e internamentos. É um problema.”, reconhece que, a grande maioria, das hospitalizações e mortes covid não são provocadas pelo vírus. Apesar de agora, a percentagem de covid incidental ser maior, este fenómeno de distorção sempre existiu e foi completamente ignorado pelos maiores órgãos de comunicação social. Essa “desinformação” global inflacionou a perceção do impacto (realmente provocado pelo vírus) e ajudou à aceitação de medidas draconianas e totalitárias.

Um dos jornais de referência nos estados unidos publicou recentemente um artigo em que uma das mais requisitadas comentadoras de saúde dos estados unidos questiona o número de “hospitalizações e mortes covid”.

A partir do facto de estarem a morrer cerca de 400 norte-americanos com essa classificação e de, por isso, se estimarem cerca de 150,000 mortes covid por ano, ela questiona se “estes americanos estão a morrer “de covid” ou “com covid”?

Recorre depois a vários testemunhos de médicos para reportar que, segundo eles, o número de “hospitalizados covid” incluí, por exemplo, vítimas de tiros, de ataques cardíacos, em tratamento oncológico ou com múltiplas infeções simultâneas.

Um dos especialistas consultados estimou em 10% a percentagem dos que têm realmente a covid como o motivo de hospitalização na sua instituição. Outro especialista estimou esse valor em 30%.

A Dr. Wen conclui:

“Se estes pacientes morrerem, covid pode ser adicionado à sua certidão de óbito juntamente com os outros diagnósticos. Mas o coronavírus não foi o principal contribuinte para a sua morte e muitas vezes não desempenhou nenhum papel.”

Mas será isto algo de novo? Só agora é que é um problema?

Distorção que ocorre desde o início

Parece razoável admitir que a percentagem de covid incidental (em que não é a causa de doença) é significativamente superior agora do que durante muitos meses da pandemia. O facto de praticamente todos terem sido infetados, torna a possibilidade de uma reinfeção grave, algo de raro e excecional.

Mas, desde o início, que a esmagadora maioria da população, quando ficou infetada não desenvolveu doença grave. Isto significa que muitas das pessoas, que testaram positivo para o SARS-Cov-2, faleceram, ou foram internadas, por outras causas. Por esse facto, muitas terão sido englobadas nas “hospitalizações covid” ou “mortes covid”, sem que a infeção tivesse nada (ou pouco) a ver com esse desfecho.

A história de uma distorção

Em 2020 a OMS decidiu tornar a covid-19 uma doença de registo obrigatório e emitiu orientações para a atribuição da causa de morte à doença. 

“…Uma morte por COVID-19 é definida para fins de vigilância como uma morte resultante de uma doença clinicamente compatível, num caso provável ou confirmado de COVID-19, salvo se existir uma causa alternativa clara de morte que não pode estar associada à doença COVID (por exemplo, traumatismo).”

Fonte: O que é uma morte Covid 19?

De uma forma genérica incluía mortes em que o vírus era: (1) a única/principal causa de morte, (2) um fator contributivo secundário e (3) um fator sem qualquer influência. Além disso, ainda era dividida em mortes com teste positivo e sem teste positivo ao SARS-CoV-2.

Desta forma ficava já evidente, que uma “morte covid” não era forçosamente uma morte provocada pela covid.

Critérios usados pelos países

Mas se as orientações da OMS eram bastante abrangentes, os critérios usados por muitos países foram muito mais. Países como a Inglaterra e a Suécia explicitaram que as “mortes covid” incluíam mortes por qualquer causa dentro de 28 (no início, nem havia prazo) e 30 dias de um teste positivo ao SARS-CoV-2, respetivamente. Mas mesmo no Reino Unido, e noutros países, algumas “mortes ou hospitalizações covid” não tinham tido sequer teste positivo.

Conhecemos entretanto inúmeros exemplos de países, como os Estados Unidos, que incluíam homicídios, suicídios, acidentes e desaparecimentos nos números oficiais covid.

Além disso, estudos como os realizados na Suécia, sugeriam que o número de “mortes covid” em que a doença não contribuía para esse desfecho, mesmo nos períodos mais críticos da pandemia, era muito significativo. E, a grande maioria, tinha pelo menos, outras causas (principais ou secundárias).

Tornava-se por isso essencial que fossem mantidos o rigor e a objetividade na transmissão desses números. O que, infelizmente, não veio a acontecer.

Distorção dos números

A comunicação social, que tanto se auto intitulou de guerreira contra a “desinformação” foi a primeira a desinformar a população ao considerar que os números de mortes, que estavam a ser associados de forma muito inclusiva à covid, eram (todas) mortes provocadas pelo vírus.

É certo que existiram muitas outras distorções durante a pandemia, mas esta talvez seja aquela que mais moldou a perceção da opinião pública e influenciou o tipo de resposta adotada em muitos países.

Muitos peritos, pseudo peritos, comentadores e políticos ajudaram a tornar essa distorção da realidade numa “verdade” aceite pela grande maioria da população.

Só para dar um exemplo, vejamos o caso da perceção de risco da covid para populações mais jovens em Portugal.

A comunicação social e vários peritos, em parte por ocultarem a distinção entre estar doente “com covid” ou “de covid”, propagaram a ideia de que várias crianças foram internadas em estado grave ou faleceram de covid em Portugal. Isso aconteceu desde que começaram a aparecer os primeiros “casos” no país.

Fonte: Executive Digest. Coronavirus: 30-criancas em estado grave no hospital Dona Estefania/ (citando a revista Sábado que entretanto, alterou o número para seis)

Os dados oficiais mostraram uma realidade bem diferente. Nos primeiros dois anos de pandemia (até dezembro de 2021), que correspondeu ao período mais crítico, apenas 14 crianças foram internadas com doença ativa em unidades de cuidados intensivos. Dessas, apenas três não tinham fatores de risco para a doença.

A única vítima mortal foi um recém-nascido com múltiplas alterações congénitas.

Quadros resumo UCI pediátrico

As distorções não irão acabar

Infelizmente, este tipo de manipulação dos números (ou definições) e a descontextualização do que nos é apresentado não parece ter fim à vista.

Mesmo neste artigo do Washington Post, é sugerido que a principal razão para se começar a conhecer a causa real de morte é o facto de que, um número elevado de “mortes covid”, pode desacreditar a eficácia das atuais vacinas. Algo, aliás, que o CDC tentou evitar desde a sua introdução, começando a distinguir a causa real de morte, mas apenas para os vacinados.

A repetição constante e global de informações enganadoras molda a nossa perceção e limita-nos a capacidade de tomar boas opções. O risco desta realidade é que novas decisões infundadas e perigosas, continuem a ser aceites, ou até aplaudidas, pela maioria.

Perceber o que aconteceu é fundamental para que se consiga identificar e combater algumas das novas falsas narrativas, que ao serviço de interesses particulares, nos encaminham sub-repticiamente para sociedades cada vez mais totalitárias.

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