Quem não sabe história está condenada a repeti-la. Pois é, o jeito que dá conhecer história! Como diz o ditado, os cidadãos têm memória curta, mas às vezes, é mesmo muito curta, o que os torna mais vulneráveis e isolados de experiências passadas. Aristóteles compreendeu muito bem quanto a condição humana exige um envolvimento integral na extensa, variada e complexa atividade humana. Sim, ouviu bem! Envolvimento integral! Se reforço esta ideia é porque a anomalia vivida nos últimos quatro anos não é nem nova nem normal. E não o é por dois motivos gerais. Por um lado, porque o programa que recentemente todos vivemos, relativamente à limitação de liberdades civis e políticas, foi executado em anos passados e em séculos passados. Ou seja, até aqui, nada de novo. Por outro lado, porque se tratou de um teste de coerção absoluta que colocou as estacas para o caminho do totalitarismo. Como? Poderá estar a pensar!
É neste minuto que importa destacar como o binómio conhecimento da ciência e a experiência de vida, podem ajudar a interpretar a atualíssima circunstância histórica. Mas mais do que isso, porque também podem salvar vidas e, uma vez mais, por dois motivos, um de natureza mais teórica e o outro de natureza mais prática. Por um lado, a um nível mais teórico, porque quem conhece Thomas Kuhn e a importância da ciência extraordinária compreende, quase intuitivamente, que o «Grande Reset» proposto pelas elites do Fórum Económico Mundial era contraintuitivo, não natural e forçado. Ou seja, se me quiser dar uns segundos, parecia que tudo seguia pelo melhor dos mundos possíveis (se excetuarmos aquele problema da crise não resolvida de 2008) quando, de repente, saímos de casa, triunfantes e saudáveis, para férias no verão de 2020, e ouvimos dizer que vivíamos uma oportunidade única para uma grande RESET …. Ai sim? Pensei eu para com os meus botões. Oportunidade? Oportunidade para quê? Mas, afinal, o que estava assim tão mal? Ah…..era aquilo do carbono ou dos insetos? Fiquei na dúvida, assim como muitos milhões de cidadãos espalhados pelo mundo. Sim, pelo mundo porque, desde o primeiro momento, e virtualmente através das redes sociais, ia seguindo o curso dos acontecimentos que decorriam pela Austrália, Nova Zelândia, Brasil, Estados Unidos, Canadá … De facto, as eleições norte americanas tinham-me suscitado alguma perplexidade sobre o curso dos acontecimentos.
Por outro lado, um motivo de natureza mais prático levava-me a interrogar sobre o modelo da atuação virtuosa dos governos mundiais que pareciam atuar como uma orquestra, mas que, ao contrário desta, não produziam nenhuma melodia capaz de tranquilizar os cidadãos. Bem pelo contrário, parecia estar a viver um período de forte dissonância cognitiva que me fazia recordar outras circunstâncias históricas, ricas em políticas coercivas e cuja finalidade tinha sido a geração de conformismo e de submissão por todo o mundo. A experiência profissional adquirida enquanto docente universitária na área da polemologia (estudo da guerra) e da geopolítica dizia-me que parecíamos estar a caminhar para um momento totalitário, conforme os manuais de psicologia e de estratégia política.
Do «emburrecimento programado» à «obsolescência programada»
Mas se era verdade que caminhávamos para um momento totalitário, o que atualmente quase ninguém é capaz de desmentir, como era possível só alguns verem o que se passava? Foi aí que conheci a tese do «emburrecimento programado»? A tese não é minha, mas sim do professor norte americano John Taylor Gatto. Nas suas palavras, existe um currículo oculto dentro do currículo escolar que é, justamente, o tal emburrecimento. E que esse tal currículo oculto serve, com sucesso, o objetivo que lhe foi destinado – criar uma sociedade limitada quer na capacidade de pensamento crítico quer na orientação para agir (é exatamente o contrário porque os cidadãos preferem ficar no sofá ou nas redes sociais). Aliás, o tal «emburrecimento» confirma-se no desastre que é a ignorância dos jovens depois de doze anos de escolarização, e medido, com rigor, pela OCDE – e cujas conclusões vão no sentido de confirmar, ano após ano, a debilidade dos níveis de literacia juvenis, em quase duas centenas de países.
Esta dificuldade em interpretar a informação tem vindo a crescer nos últimos anos porque, como Taylor Gatto escreveu, num mundo tecnocrático, «(…) palavras e rotinas sem sentido isolam as pessoas da vida em si, cegam-nas para aquilo que acontece ao seu redor, anestesiam as faculdades morais.» (em Dumbing us Down. The Hidden Curriculum of Compulsory Schooling) .
Mas, como pragmático que era, também apontou a saída ao dizer que «A saída do hospício é, literalmente, livrarmo-nos do painel de controlo: numa dimensão física, estraçalhar as grades; numa dimensão espiritual simbólica, tornarmo-nos independentes de regras, ordens e demandas alheias (…). Autoconfiança é o antídoto para a estupidez institucional.».
Interessante, não é verdade? Porque, já agora, e por falar em autoconfiança, o que eu pude ir assistindo nos mais recentíssimos anos foi tudo e todos a trabalhar contra a autoconfiança dos povos e dos indivíduos. Mas como, poderá estar a pensar?
O modelo Biderman: um mapa de coerção
Pois é …o mundo foi gerido quase a partir da academia de liderança de Davos e, tal como Klaus Schwaub teria dito um dia, «We penetrated the cabinets» por todo o mundo. Quem conhecesse as técnicas que historicamente foram sendo usadas em diversas circunstâncias veria, com clareza, sobretudo a partir de setembro de 2020 com o exemplo italiano, como as técnicas de «lavagem cerebral» eram utilizadas. As mesmas técnicas que maoistas e norte coreanos tinham utilizado junto de americanos capturados, transformando-os em «prisioneiros», psicológica e fisicamente. E como era esse processo?
O processo era e é relativamente simples. Ora veja. Primeiro, constrói-se uma situação de isolamento do indivíduo enquanto, em simultâneo, é preciso garantir o monopólio da gestão da perceção do indivíduo. Depois, através da implementação de situações de humilhação e de degradação, induz-se o indivíduo à exaustão pela diminuição da sua capacidade de resistência, física e mental. A seguir, criam-se ameaças geradoras de maior ansiedade e desespero, agravando o custo do não cumprimento das «novas regras». Ocasionalmente, em períodos limitados, algumas indulgências são oferecidas. Mas não há enganos porque, em todo o momento, quem detém o poder usa-o demonstrando a sua natureza «omnipotente», sugerindo a inutilidade da resistência. Finalmente, aqui chegados, entra-se num ciclo em que se forçam exigências triviais, mas sobretudo ilógicas e contraditórias, com o objetivo de se desenvolver hábitos de conformidade.
Se teve paciência para chegar aqui e se conseguiu sentir o que lhe acabei de escrever … parabéns! Está no bom caminho, naquele caminho que nos permite interpretar a atualidade.
Um programa totalitário de vigilância e de controlo
Uma atualidade em que já são visíveis alguns contornos da sociedade totalitária do grande «Reset» de Davos. Um programa capaz de transformar o cidadão mais libertário num «novo cidadão» conformado para o seu bem, integrado profissionalmente perto de casa e com um bem-estar aumentado porque o acesso a bens e a serviços fica exatamente a 15 minutos da sua habitação. Só não se promete é que a moradia possa ser unifamiliar, a bem da sustentabilidade do planeta. E também não se pode garantir que possa ter uma dieta alimentar isenta de chicletes de insetos. Shmack! Delicioso! E ainda!!! Parece que fica garantido que pode sair de casa usando o seu carro cerca de cem vezes por ano, pelo menos, a julgar pelo que está a ser experimentado em Oxford. Mas, na realidade, parece que também vai ficar «out» ter carro individual. O bom mesmo, será frequentar os transportes públicos e, uma vez mais, a bem da sustentabilidade do planeta.
Ah, já agora, e o momento do «Grande Reject» prometido? Pois é … era necessário apresentar-lhe, primeiro, a dificuldade que é a compreensão do «reject» antes de, primeiro, mostrar-lhe a política de emburrecimento programado a que fomos todos submetidos. Porque, para poder ter consciência daquilo que o rodeia (ou da «matrix», como já deve ter ouvido dizer), é preciso ganhar alguma capacidade de reflexão para, depois, compreender a razão pela qual é urgente rejeitar universalmente a deriva totalitária em curso, porque ela já nos está a submeter a um programa de «vigilância e de controlo» capaz de lhe colocar um problema de sobrevivência. Mas, afinal de contas, quem decide sobre a sua vida? Será que vivemos num período de indulgência controlada? A grande fuga para sair da «matrix» vem no próximo episódio. Como vê, Aristóteles tinha razão. E … Quem não sabe história está condenada a repeti-la.
Mónica Rodrigues
Especialista em Geopolítica e Geoestratégia. Licenciada em História (FCSH-UN) e com um DEA em Geopolitique (Universidade de Paris). Curso Segurança Internacional (NATO/UKiel, Alemanha). Auditora do Curso de Defesa Nacional (IDN/2002). Diretora da Revista Cidadania e Defesa (AACDN). Membro da SEDES (SEDES-Setúbal). Foi professora assistente de Geopolitica/Geoestrategia e Segurança e Defesa Nacional (ULusíada).