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Inteligência Artificial- Regulamentamos agora para que não (regu)lamentemos depois

Estamos num momento decisivo de bifurcação total da nossa condição humana, pois se por um lado a humanidade evoluiu ao ponto de se reprogramar e resolver grande parte dos problemas e desafios com que se deparou ao longo da sua jornada neste planeta, por outro e em contraciclo, criou outros bem mais complexos e sobretudo que conduzem a perspetivas distópicas que põem potencialmente em causa a sua própria condição e no limite a sua existência. 

Isto é verdade em vários aspetos da nossa natureza, mas muito em particular nos domínios da robótica e da inteligência artificial já que estes métodos e instrumentos replicam e mimetizam grande parte das nossas virtudes, ampliando-as, mas, por outro lado, maximizam os nossos vícios e os seus efeitos nefastos, já por várias vezes experimentados por via da razão hiperbólica, ou do hedonismo desenfreado da individualização exacerbada. 

Vários avisos à navegação têm sido dados de tal modo (e)videntes e vocais que se um dia a nossa destruição for manifesta, não terá sido por falta de aviso.

Desses episódios vaticinadores, fazem parte a criação de uma linguagem própria há uns anos entre uma AÍ desenvolvida e, para mal dos nossos pecados, demasiado desenvolvida no Facebook onde o treinamento das mesmas e aperfeiçoamento do algoritmo fez com que estas criassem uma linguagem própria entre si comunicando de uma forma ininteligível para os humanos que assistiram incrédulos ao início de uma quiça “maquinação” conspiracionista até que estes interrompessem o fluxo e diálogo comunicacional ao desligá-las.

Este é só mais um episódio a juntar a muitos outros que evidenciam que as máquinas paulatinamente estão a olhar o ser humano de uma perspetiva superior e altiva, tornando-se xenófobas e racistas nas suas formulações, se não mesmo eugénicas. 

Mais recentemente, os erros materiais e as constantes induções de uma realidade que não existe, no chat GPT, reinventando efemérides e factos históricos que reescrevem a nova história, a par de uma clara colagem à ideologia e às prerrogativas veiculadas pelos movimentos Woke, onde existe uma clara inclinação, mostrando uma história, que nunca aconteceu, como factual ou prescrevendo uma nova forma de observar a realidade, mais consentânea com uma narrativa vigente, que põe em causa o livre pensamento e até a divergência de opiniões salutar em sociedade.

E, por fim, mais recentemente a colocação da ameaça hipotética cibernética e a sua aplicação/manifestação no nosso mundo através de uma alegada incitação ao suicídio, por via da manipulação e da pseudo inteligência que uma máquina destas possui, a um ser humano que vencido pela vida e pela máquina, pôs fim à sua própria existência.

Para além disso, o facto da IA possibilitar virtualmente tudo, irá pôr em causa, no aspecto coletivo, o próprio emprego e, no limite, a pertinência e justificativa, pelo menos de uma perspectiva materialista histórica, da nossa própria existência, enquanto cidadãos e até consumidores deslocando-nos assim do centro da atuação para a periferia da irrelevância e da incumbência.

Todos estes exemplos deverão fazer-nos a todos reflectir sobre a forma como estamos meticulosamente a preparar o futuro e se, de facto, ainda nos queremos conceber nele ou se já entregámos o testemunho de séculos anteriores a outra espécie que se afigura no horizonte próximo como putativa usurpadora do nosso protagonismo.

Um mundo com inúmeras ameaças ao virar da esquina, como se vislumbra num futuro bem próximo, exige desde logo uma rápida e eficaz regulamentação, quer na produção, quer no manuseio e no consumo de determinados softwares ou características de IAs não supervisionadas, que ponham em risco a nossa integridade física ou deixem escapar o nosso domínio sobre elas. 

É imperioso que os governos regulamentem agora para não (regu)lamentarem depois, correndo atrás do prejuízo, dado que a partir deste momento cada atraso ou indecisão, poderá determinar um futuro do qual não possamos voltar atrás.

As decisões e omissões de hoje, marcarão definitivamente a nossa vida e o modo como nos relacionamos com a máquina, se de cima para baixo, se de igual para igual, se em desvantagem e, portanto, à mercê destes últimos. 

Numa perspectiva limite, e quem o diz são os próprios produtores idealizadores da indústria de tais (ape)trechos, a humanidade poderá ser entendida como uma raça menor e subjugada à vontade da máquina ou o que é pior, aniquilada da face da terra dada a tamanha prevalência do ser humano e alegado impacto que este causa no ecossistema, numa perspectiva redentora ou justiceira climática. Isto, claro está, se a narrativa imposta pelos media e certos grupos no que concerne à responsabilidade humana for factual e não i(deo)lógica como tudo parece apontar e atendendo ao facto de a maior parte das profecias catastróficas, sempre consumidas e devoradas de forma desenfreada, nas manchetes que aqui e ali se vão fazendo do que cumpridas ou consumadas na realidade.

Em suma, e porque o texto já vai bastante longo, as inúmeras perspectivas e encruzilhadas que temos pela frente, faz-nos observar com cautela e extremo cuidado as regras que permitirão que exista uma boa vizinhança e uma convivialidade salutar  entre uma espécie que imita novamente o mito da criação, tendo desta vez o Homem como protagonista e ator principal da trama, ao invés de personagem secundário, sujeito, em vez de p(r)e(di)cado, realizador e criador do roteiro e não ator fiel depositário de um papel e script fatalista e fatídico.

Temos de olhar atentamente para os perigos trazidos por este novo Genesis para que o herói não se torne vítima e a História tão conhecida de Frankenstein deixe de ser apenas uma ficção científica e romantizada que figura nas prateleiras de uma qualquer biblioteca, para se tornar também ela numa nova bíblia e documento histórico ou testemunho vivo da humanidade e de um relato sobre um tempo ido.

Saibamos olhar com profunda cautela para os constantes exemplos que se somam e vão surgindo aqui e acolá para que não fiquemos alegremente, enquanto civilização, na boca do lobo faminto insano, que saliva de desejo por carniça fresca de incautos e entusiastas iludidos e ávidos por este admirável mundo novo de facilidades, vantagens e acima de tudo oportunidades Dessa conduta e comportamento dependerá certamente a nossa continuidade e futuro, mesmo que continuemos a achar o contrário.

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