O The Blind Spot questionou o reitor da Universidade de Coimbra sobre a atribuição do Doutoramento Honoris Causa a Tedros Ghebreyesus. As questões incidiram sobre o papel da OMS, o excesso de mortalidade em Portugal e os relatórios comprometedores para o governo a que o atual diretor-geral fez parte durante 11 anos. Pelo meio, assessores imprensa tentaram evitar questões sobre as políticas da OMS, apesar da principal justificação para a atribuição do título ser exatamente essa.
O Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, recebeu, nesta quarta-feira, o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra. O reitor da instituição, Amílcar Falcão, foi o seu representante na sessão de perguntas de esclarecimento. Tedros Ghebreyesus, não compareceu ao evento.
O “sucesso” de Portugal na resposta à pandemia
O The Blind Spot começou por questionar o sr. Reitor sobre se Portugal com mais de 40 mil mortos em excesso deveria ser considerado um caso de sucesso, dado que países como a Suécia, que não seguiram as recomendações da OMS, tiveram uma mortalidade muito próxima do normal.
O sr. Reitor afirmou que essa questão não se relaciona com a OMS e que a agência deu o apoio global aos países. Em relação à Suécia afirmou que: “É fácil fazer prognósticos depois dos jogos”.
Para Amílcar Falcão, a OMS seguiu as melhores práticas e foi “uma mais-valia enorme”.
O “modelo chinês” e a alta mortalidade geral
De seguida, citámos Tedros Ghebreyesus a defender ser possível conter a covid-19, baseado na premissa de que a covid era menos contagiosa do que a gripe por influenza, e questionámos a relação entre a mortalidade elevada e as medidas restritivas apoiadas pela OMS, inspiradas na resposta chinesa.
Para o sr. Reitor não existiu uma cópia do “modelo chinês” e salientou o papel da OMS na compra de vacinas por parte de países ricos para, depois, serem distribuídas por países pobres.
O historial político de Tedros Ghebreyesu
Finalmente, perguntámos se as imputações da Amnistia e da Human Rights Watch de múltiplas violações de direitos humanos e de assassinatos em massa da responsabilidade do governo a que, o agora Diretor-Geral da OMS, pertenceu durante 11 anos, não deveria sido considerado na decisão. Até porque, não são conhecidas declarações suas a condenar qualquer dessas ações durante todos esses anos.
Amílcar Falcão afirmou desconhecer essas acusações e afirmou que a distinção “se baseia no mérito científico, também no mérito profissional e humano” e que concorda com a decisão da Faculdade de Medicina.
Tentativas de limitar as questões
Alguns assessores procuraram limitar o espetro das perguntas, argumentando que elas teriam de ser “especificamente sobre o doutoramento”.
Argumentámos que tal tentativa de limitação não fazia sentido visto que a justificação para o Doutoramento foi precisamente o papel da OMS e do Dr. Tedros Ghebreyesus durante a pandemia de Covid-19. Isso foi inclusive afirmado pelo sr. Reitor numa resposta anterior.
O facto do sr. Reitor poder não estar informado sobre alguns destes assuntos e a Universidade não ter disponibilizado quem estivesse, foi uma opção da universidade e do próprio diretor-geral da OMS. De destacar que, ao contrário dos seus assessores na ocasião, o sr. reitor mostrou sempre vontade de responder às questões apresentadas.
Questões sobre o protesto
Antes das nossas questões, o reitor já tinha sido questionado sobre os protestos contra a cerimónia.
O sr. Reitor destacou os direitos de opinião e de manifestação, bem como a sua legitimidade, mas referiu que, apesar de tudo, pensa ser uma perspectiva minoritária.
A cerimónia
O Diretor da Faculdade de Medicina da UC, Carlos Robalo Cordeiro, foi o apresentante. Os elogios ficaram a cargo dos professores António Jorge Ferreira (elogio do Apresentante) e Filipe Froes (elogio do homenageado).
A atribuição do Doutoramento Honoris Causa foi proposta pela Faculdade de Medicina da UC com elogios ao seu percurso profissional e académico e, principalmente, como “reconhecimento pelo seu papel no combate à Covid-19”.
Na cerimónia estiveram presentes várias personalidades importantes na definição das políticas covid em Portugal, como Raquel Duarte ou Ricardo Batista Leite.
Referências (questões):
Europa com elevada mortalidade, Suécia é o único com déficit desde 2021
https://mpidr.shinyapps.io/stmortality/