Desde os Acordos de Paris em 2015 que o problema alimentar está no topo da agenda global. Descarbonizar o sistema alimentar pressupôs a construção de uma nova plataforma, a Aliança para a Ação Alimentar, e a construção de uma nova política, «Alimentação para a Saúde». As implicações para a mesa do consumidor já estão na ordem do dia, liderada pelo Forum Económico Mundial.
Atualmente, a sua dieta alimentar pode muito bem depender da plataforma Aliança para a Ação Alimentar (Food Action Aliance FAA) e não da Food Agriculture Organization (FAO), como teria sido desde 1963. Assim sendo, o tradicional Manual Alimentar (Codex Alimentarius) da FAO está a dar lugar a um novo conceito de alimentação. Porém, o novo sistema alimentar, ainda em construção, não substitui a consulta daquele manual pelo repositório de informação científica que contém.
Esta nova plataforma, a Aliança para a Ação Alimentar, fundada em janeiro de 2020 na cidade de Davos durante a reunião do Forum Económico Mundial (FEM), resulta de um esforço cooperativo entre o FEM, a Rabobank e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola FIDA. Aliás, segundo o FEM, esta parceria público-privada no setor produtivo corresponde à única estratégia possível com o intuito de diminuir a fragmentação dos sistemas de produção alimentar atuais, ineficientes e ineficazes.
Esta colaboração público-privada afirma visar, então, a promoção de uma nova política de «Alimentação para a Saúde» (Food For Health) e influenciar o desenho dos sistemas e da dieta alimentares a nível mundial. De uma forma particular, são propostos um novo processamento e certos tipos de alimentos. Relativamente ao primeiro, o novo «processamento alimentar bio fortificador» permite produzir novos alimentos cujos nutrientes são previamente desenhados. Relativamente ao segundo, os principais alimentos sugeridos são a fruta, os grãos, a alimentação vegan, produtos de soja, insetos e carne artificial.
Com esta ação afirma-se pretender a convergência entre os tradicionais sistemas de alimentação locais e o novo «sistema nutricional de conveniência». Ainda assim, e conseguida esta convergência, o maior desafio atual segundo o FEM consistirá na diminuição do desperdício alimentar e na elaboração de um modelo alimentar nutritivo, seguro e sustentável.
Manual Alimentar da FAO
Por isso, à medida que algumas alterações vão sendo introduzidos na dieta alimentar, e se ainda tem dúvidas quanto à segurança que elas oferecem, consulte o Manual Alimentar da FAO. Por vários motivos. Primeiro, foi elaborado ao longo de décadas num ambiente de discussão aberta, tendo envolvido especialistas em aditivos alimentares, medicamentos e pesticidas. Segundo, este documento teve sempre como principal objetivo a identificação de linhas de conduta e de códigos de boas práticas seguras relativamente à produção de alimentos, garantido ao público elevados padrões de exigência.
É oportuno recordar que por altura da assinatura dos Acordos de Paris em 2015, cerca de 196 países tinham eleito a alimentação como um dos tópicos mais prementes da agenda global, tendo decidido pela descarbonização do sistema alimentar, significando isso a redução da agricultura intensiva e, consequentemente, do consumo de alimentos como a carne.
Ainda nesse mesmo ano, em novembro de 2015, por ocasião do encontro dos Ministros da Agricultura realizado durante a reunião dos G20 realizado na Turquia, a FAO e o Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar (IFPRI) tinham lançado a Plataforma Técnica sobre o Desperdício e Perda de Alimentação com três objetivos principais: por um lado, medir perdas e desperdícios nos níveis local, nacional e regional; por outro lado, promover novas ações relativas à prevenção, redução e medição; por outro lado ainda, facilitar a sua utilização para a aprendizagem das melhores práticas.
Um ano depois, em 2016, o desperdício medido entre o alimento produzido na quinta até à sua chegada à mesa («desperdício entre a quinta e o garfo») saldava-se em cerca de um terço da totalidade de alimentação produzida. Paralelamente identificavam-se cerca de oitocentos milhões de pessoas subnutridas (cerca de um nono da população mundial) assim como cerca de um bilião de toneladas de alimentos nunca chegavam à mesa.
Também no que diz respeito ao consumo da carne, o consumo sugerido era de quinhentos gramas por pessoa semanalmente, ou seja, até cerca de vinte e seis quilogramas anualmente. Os consumos existentes mostravam um consumo anual de carne, por pessoa, muito diferenciado a nível global: consumo médio entre os cento e dois e os cento e vinte quilos em países como os Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia; cerca de noventa e um e cento e dois quilos em países como Portugal e Espanha contrastando com a Europa (entre oitenta e noventa e um quilos); enquanto na Ásia o consumo médio variava entre os cinquenta e os sessenta e oito quilos e em África os dados eram entre os dezasseis e os trinta quilos. A América Central e do Sul apresentavam elevada disparidade no consumo.
Para o futuro, e de acordo com o citado Forum Económico Mundial, a emergência das classes médias mundiais terá um forte impacto futuro nos padrões de consumo sendo fundamental, por isso, garantir o desenvolvimento de padrões de dieta alimentar saudáveis. Por exemplo, recentemente desde o início de 2020, têm-se constatado novas tendências no consumo alimentar global, como o recurso às plataformas tecnológicas. Por exemplo, na Alemanha, a compra de alimentos online é estimada em 68,4 milhões de dólares em 2025, quando em 2020 os valores eram 62,4 milhões.
Referências:
3 Steps for Tackling Food Loss and Waste | World Resources Institute (wri.org)
About Codex | CODEXALIMENTARIUS FAO-WHO
Germany Food Service Market Share | Growth Analysis [2030] (fortunebusinessinsights.com)
What will we eat in 2030? | World Economic Forum (weforum.org)
Codex Texts | CODEXALIMENTARIUS FAO-WHO
Ver também:
https://theblindspot.pt/2023/02/14/novos-insetos-entram-no-menu-europeu/
𝐑𝐞𝐠𝐮𝐥𝐚𝐝𝐨𝐫 𝐧𝐨𝐫𝐭𝐞-𝐚𝐦𝐞𝐫𝐢𝐜𝐚𝐧𝐨 𝐚𝐩𝐫𝐨𝐯𝐚 𝐯𝐞𝐧𝐝𝐚 𝐝𝐞 𝐜𝐚𝐫𝐧𝐞 𝐝𝐞 𝐥𝐚𝐛𝐨𝐫𝐚𝐭ó𝐫𝐢𝐨