Novas iniciativas, publicas e privadas, de reorganização territorial multiplicam-se à escala global, inclusive em Portugal. A Cidade dos 15 minutos, a eurocidade e novos conceitos mais utópicos, são iniciativas para combater «as alterações climáticas». Mas o entusiasmo pode não ser partilhado por todos, e as apreensões multiplicam-se.
O noroeste peninsular vê surgir mais uma nova eurocidade, fruto de uma iniciativa conjunta entre os presidentes das Câmaras de Caminha, no Alto Douro, e da cidade A Guarda, na Galiza. Os presidentes das câmaras respetivas iniciaram já diligências junto do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) para a concretização do projeto a curto prazo. Esta iniciativa tem, como principal objetivo, a partilha de equipamentos e atividades, possibilitando a maior comunicação entre os dois territórios.
Nesta euroregião do Alto Minho/Galiza existem outras três eurocidades, Vila Nova de Cerveira/Tomiño, Monção/Salvaterra do Miño e Valença/Tui.
Em Portugal o entusiasmo é grande, no momento presente, na cidade de Lisboa. Na capital, os bairros de Campo de Ourique e de Alvalade são os anfitriões de uma experiência como a «Cidade dos 15 minutos». Este conceito, criado por Carlos Moreno e implementado em Paris por Anne Hidalgo, implica que a mobilidade ideal é aquela que permite a maior acessibilidade a tudo o que necessitamos, ou seja, 15 minutos a pé ou de bicicleta. Acrescem-se outras vantagens como o desenvolvimento do espírito de comunidade e vitalizar a cidade no seu todo, que parecem devolver as cidades aos cidadãos. Este modelo urbano pressupõe a existência de serviços respeitantes aos vários setores de atividade como comércio, acessibilidade, saúde, educação, trabalho, cultura e natureza.
E dos sete bairros analisados, selecionados a partir de vinte e quatro freguesias, Alvalade é aquele que surge com melhores condições pelo facto de ter o maior número de instituições em condições de oferecer serviços nos setores de atividade considerados.
Porém, o entusiasmo parece não acompanhar todas as iniciativas de reorganização territorial no país vizinho, como se pode ver no caso de Las Rozas, um dos primeiros modelos da «Cidade de 15 minutos» segundo o conceito de Moreno. Alguma apreensão sobre a extensão da mobilidade permitida aos cidadãos tem sido manifestada, existindo a crença segundo a qual não será permitida a circulação fora do setor onde o indivíduo habita sem autorização das autoridades, assim como haverá um limite máximo de tempo dentro do qual o cidadão se pode ausentar do seu setor. Acresce ainda outo facto, ambas as circunstâncias ficam registadas pelas autoridades.
Relativamente ao projeto mundialmente divulgado sobre este tipo de organização territorial urbana, o projeto C40 engloba cerca de quarenta cidades espalhadas pelo mundo, candidatas a profundas alterações que visam contribuir para a diminuição das alterações climáticas. No caso de Portugal, são já três as cidades identificadas no projeto, como Braga, Guimarães e Lisboa.
No caso dos Estados Unidos, surgem ainda outras iniciativas como a levada a cabo por um conjunto de investidores do Vale de Silicon. Este grupo adquiriu uma vasta extensão de território no norte da Califórnia com o projeto de construir uma cidade utópica, incluindo novas infraestruturas, parques, casas e territórios destinados á produção de energia solar.
a ‘Ciudad de 15 minutos’ llega a España y no podrás salir de tu barrio (digitaldeleon.com)
Vem aí uma nova “eurocidade” entre o Minho e a Galiza
Ver também
A cidade dos 15 minutos: oportunidade ou prisão? – The Blind Spot
As raízes soviéticas das cidades de 15 minutos – The Blind Spot