Enquanto assistimos a um governo silencioso acerca do paradeiro de luso-israelitas temos assistido, em simultâneo, à identificação de desaparecidos feita pela comunidade judaica residente no Porto.
A identificação de seis luso – israelitas, de entre os quais duas jovens na casa dos vinte anos – Tair Bira e Liraz Asullin -, foi divulgada muito antes de qualquer fonte diplomática ou governativa o fazer.
Infelizmente assistimos também à passividade dos diplomatas da embaixada de Portugal em Israel, tutelada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros João Cravinho, que não atende chamadas telefónicas aos portugueses que ficaram naquele país e que ainda tentam desesperadamente sair de Israel.
Durante os últimos anos, o PS tem anunciado diversas vezes a existência de um mega equipado “Gabinete de Emergência Consular” para situações de crise.
É curioso e penoso constatar agora, quando assistimos ao desespero dos portugueses em Israel
a apelar a algum tipo de apoio do Estado português através da comunicação social portuguesa, verificar que o Estado nada faz em relação aos que não conseguiram vir no primeiro voo para Portugal.
Pergunto-me, onde está a propaganda que fez encher tantos jornais sobre este ultramoderno “Gabinete de Emergência Consular”? Será que o trabalho de casa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que deveria ter sensibilizado e constituído um registo dos portugueses e luso israelitas residentes em Portugal, foi feito? Tendo em conta Israel ser um Estado em constante ameaça pelo mundo islâmico circundante? Eu acho que não.
Este trabalho, se tivesse sido feito com a antecedência devida, não teria levado os portugueses ao desespero e à tentativa de contacto com a embaixada. O normal seria a embaixada contactar os portugueses, e não o contrário. A classe diplomática, em constante rotação, não instituiu nos postos em que vai passando uma estrutura que possa apresentar resultados em caso de crise. A “alta política” não é a única função dos diplomatas, embora seja compreensível que seja aquilo que mais gostam de fazer,
No entanto, o contacto com os portugueses, a informação recolhida acerca das suas dificuldades, a visita às associações, aos clubes desportivos lusitanos e às coletividades existentes no estrangeiro têm de passar a ser uma prioridade dos diplomatas de modo a saber quem são, o que fazem e onde estão os portugueses e os lusodescendentes.
Não é propriamente “alta política”, mas é o mais prioritário de fazer antes de acontecer calamidades.
Chama-se a isto, “Serviço a Portugal”.
Paulo Freitas do Amaral
Professor de História