A partir de 2021, a Fundação Bill & Melinda Gates doou mais de 63,5 milhões de dólares para grandes média e organizações jornalísticas. A maioria dos apoios teve, como título principal, a “Saúde Global e Desenvolvimento da Sensibilização e Análise do Público”. Os apoios podem não se esgotar por aqui, visto que a Fundação mantém os “apoios direitos” sob sigilo. O tipo de entidades apoiadas, o seu alinhamento com o doador e as atividades financeiras do seu fundador, Bill Gates, acentuam o debate sobre a existência de graves conflitos de interesse.
Desde 2021, a Fundação Bill & Melinda Gates atribuiu novas doações a “média” e “jornalismo”, que representaram um valor superior a 63,5 milhões de dólares. As doações dividem-se em: grandes grupos de comunicação social e Centros de Jornalismo.
Destaque para a Fundação da família Henry J. Kaiser que, ao ter recebido duas doações no período de pesquisa, totaliza um valor superior a oito milhões de dólares. Entre as organizações apoiadas estão grandes associações de jornalismo e empresas comunicação social, como o The Guardian, o Der Spiegel, o Le Monde ou a BBC.
Para além dos que constam da tabela, outros conhecidos média também já receberam doações a partir de 2021, como o El Pais, e outros têm ainda doações, de anos anteriores, em execução, como a CNN.
De salientar que os apoios financeiros podem não se esgotar nas doações. No entanto, a Fundação Gates não divulga os apoios financeiros diretos atribuídos.
Áreas a que se destinam os apoios
As principais doações nesta área foram apresentadas como tema principal a “Saúde Global e Desenvolvimento da Sensibilização e Análise do Público”. No entanto, o tema Desenvolvimento Agrícola também está presente e quando vamos analisar com mais detalhe, os apoios dizem ter como objetivo áreas como as alterações climáticas ou o “género”.
Entidades apoiadas
Além de grandes grupos de média, a fundação apoia organizações jornalísticas, que para além da produção (e/ou distribuição) de conteúdos e notícias, desempenham outras funções, entre ela: a formação de jornalistas; o seu treino (por exemplo, para fact-checking) ou a criação de programas de donativos ou bolsas.
Orientação político-ideológica
A grande maioria das organizações têm um discurso conotado com a “esquerda” do espectro político, com variadas alusões a uma agenda dita “progressista”
Jornalismo narrativo
Tendem igualmente a representar um jornalismo mais narrativo e com recurso assumido à exploração de histórias individuais ou de acontecimentos, nomeadamente recorrendo a técnicas de Storytelling.
Ativismo social
Algumas destas organizações defendem, de forma aberta, que a sua atuação deve ser ativa e promover a apresentação de soluções, não desempenhando apenas o papel tradicional do jornalismo.
Conflito de interesses
Coincidência ou não, de uma pesquisa pelas entidades apoiadas é fácil perceber um alinhamento claro: (1) de temas abordados, (2) de narrativa seguida e (3) de soluções preconizadas, entre a fundação (e o seu criador, Bill Gates) e as entidades apoiadas.
Considerando os investimentos conhecidos, enquanto empresário ou em nome individual, de Bill Gates e, que este tem uma forte atividade financeira assumidamente confidencial, colocam-se questões sobre conflitos de interesse graves. Principalmente, porque muito do sucesso de alguns investimentos, dependem opinião pública, e que esta é muito orientada pelos média e pelos seus jornalistas.
Referências:
Investigação Gates: 155 milhões de dólares doados ao jornalismo em menos de 12 anos
Investigação Fundação Gates: Doações para grandes empresas de media