Cresce o descontentamento interno relativamente a Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia. Uma carta subscrita por cerca de oitocentos funcionários europeus, acusa-a de usurpação de funções e de uma política de “dois pesos e duas medidas”. Em causa está o apoio incondicional dado à resposta Israelita, que consideram estar a violar o direito internacional e a legitimar “crimes de guerra”.
A usurpação de funções da Presidente da Comissão Europeia ao admitir apoiar Israel, na sua recente visita e na sequência do ataque perpetrado pelo Hamas, levou um grupo de funcionários europeus a considerar que a diplomacia europeia deixou de existir.
Numa carta de protesto recentemente redigida por oitocentos e quarenta e dois funcionários, um diplomata de carreira escreveu que von der Leyen não tinha sido mandatada pelos vinte e sete Estados membros da União Europeia, “Fiquei surpreendido com o facto de a Presidente von der Leyen ter proclamado o apoio da Comissão ao governo israelita, independentemente da forma como este decidiu responder aos ataques do Hamas, apesar de não ter um mandato dos Estados-Membros para o fazer”.
Outro subscritor também escreveu que “Observamos a morte da diplomacia a desenrolar-se diante dos nossos olhos e não vemos qualquer expressão ou ação enraizada nos valores sobre os quais a UE foi construída.”.
Por outro lado, os mesmos funcionários acrescentam o risco de perda de credibilidade, devido ao que consideram ser uma política de “duplo critério” de Ursula van der Leyen face aos conflitos ucraniano e palestiniano, referindo que “Não podemos continuar a ser observadores silenciosos quando a Instituição, que representa como Presidente, não só não foi capaz de travar a tragédia palestiniana que se desenrola há décadas em plena impunidade, como, através das suas recentes ações ou posições infelizes, parece dar carta branca à aceleração e à legitimidade de um crime de guerra na Faixa de Gaza”.
Mais recentemente, num discurso proferido no “think-tank” conservador norte-americano Hudson Institut, em Washington, a Presidente da Comissão Europeia reforçou a legitimidade de defesa de Israel no atual conflito detonado pelo Hamas, contrariando a posição pública de Joseph Borrel, o responsável pela política externa europeia.
Em recente reunião com os Ministros dos Negócios Estrangeiros, o Alto Representante para as Relações Exteriores salientou que “O direito de autodefesa tem de ser realizado segundo o direito internacional.”, não obstante ter condenado o “ataque bárbaro e terrorista” levado a cabo pelo Hamas e a necessidade de se estabelecer uma pausa no conflito por motivos humanitários.
Referências:
EU staff members express fury over von der Leyen stance on Israel-Hamas conflict – The Irish Times
Israël : Ursula von der Leyen, la bourde permanente – Libération (liberation.fr)
Internal EU discontent grows at von der Leyen’s neglect of Palestinian statehood – POLITICO
Speech by the President at the Hudson Institute (europa.eu)
Israel is acting against international law, says Borrell – POLITICO
Ver também:
Os ataques a Israel: Para além do óbvio – The Blind Spot
Reescrever a História – a irresistível tendência recente de von der Leyen – The Blind Spot