Um relatório da Global Witness, centrado em três minas de lítio emergentes em Africa, revela um cenário pouco animador. Complexos esquemas de corrupção, condições de trabalho precárias, exploração de trabalho infantil e degradação ambiental são alguns dos problemas detetados.
As políticas que pretendem restringir fortemente a energia de origem fóssil na maioria dos países ocidentais, exigem enormes quantidades de metais e de minérios para componentes de eólicas, de painéis solares ou de baterias. Especificamente, as baterias necessitam de inúmeros minerais e o lítio é um dos mais procurados.
Uma investigação da Global Witness, que incidiu em três minas de lítio emergentes no Zimbabué, na Namíbia e na República Democrática do Congo, concluiu que a “corrida ao lítio” em África está a alimentar a corrupção, a criar problemas ambientais graves e desrespeitar os direitos humanos.
Zimbabué – a mina de Sandawana
A corrida ao lítio neste país envolveu milhares de garimpeiros artesanais a trabalhar em condições inseguras (que levaram inclusive a mineiros soterrados por desmoronamento de uma mina) e relatos de trabalho infantil.
No início do ano, os garimpeiros foram expulsos, os seus minerais confiscados e a mina adquirida por empresas com ligações estreitas ao partido e aos militares no poder.
Apesar da proibição oficial das exportações de lítio não transformado, a mina Sandawana, parece ter sido isenta desse impedimento, tendo sido transportadas milhares de toneladas do minério para fora do país.
Namíbia- mina de Uis
Na Namíbia, uma empresa chinesa, Xinfeng Investments, terá adquirido a mina de lítio de Uis através de suborno.
Segundo a Global Witness há provas de que a Xinfeng desenvolveu uma mina industrial usando licenças destinadas a pequenos mineiros locais. Tal estratagema parece ter possibilitado à empresa chinesa explorar um importante depósito de lítio por um valor muito baixo e escapar-se da obrigatoriedade de realizar uma avaliação do impacto ambiental.
Para além disso, a Xinfeng foi acusada de “alojar os trabalhadores em “condições de apartheid”, de comprar os chefes locais e de afugentar a vida selvagem que traz dólares dos turistas para a região”.
Também neste caso, a empresa terá enviado milhares de toneladas do minério em bruto para a China, desrespeitando desta forma a promessa de construir instalações de processamento dentro do país.
A Xinfeng pertence à empresa Tangshan Xinfeng Lithium Industry, que tem uma parceria com uma filial do gigante chinês das baterias CATL para produzir carbonato de lítio.
A CATL é o maior fabricante mundial de baterias para veículos elétricos e fornecedor da BMW, VW, Ford e Tesla.
República Democrática do Congo- depósito de lítio de Manono
No Congo, foram registados vários sinais de complexos esquemas de corrupção relacionados com o desenvolvimento do depósito de lítio de Manono, que envolvem inúmeros intervenientes políticos e empresariais.
Tal situação levou, entretanto, à paralisia do projeto devido a um litígio que envolve empresas mineiras australianas e chinesas.
Os investigadores afirmam que o projeto terá gerado à volta de 28 milhões de dólares para empresas de fachada. Essas empresas serão detidas por intermediários implicados em anteriores escândalos de corrupção envolvendo o ex-Presidente do país, Joseph Kabila.
Também um alto funcionário do partido do atual Presidente terá recebido 1,6 milhões de dólares em “comissões” de uma empresa chinesa quando esta ficou com participações no projeto.
A empresa mineira estatal que assinou os acordos de Manono foi acusada pela agência anticorrupção do país de vender direitos sobre o lítio a um “preço reduzido” e de “esbanjar” as receitas.
Conclusões
Para os investigadores, à medida que a corrida ao lítio se intensifica, os países ricos em minerais enfrentam riscos elevados. Em vez de beneficiar as nações produtoras, as cadeias de produção podem alimentar corrupção, não beneficiar as economias locais e degradar o ambiente.
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