Franz de Waal, um génio entre os primatólogos, revolucionou o conhecimento sobre a complexidade comportamental e cognitiva de chimpanzés e outros símios. Acaba de nos deixar mas permanece o seu legado científico e no qual ascendem, à categoria imortal, as suas experiências com macacos capuchinhos. A partir das suas reflexões sobre o enorme espectro de comportamentos, animal e humano, conclui que devemos rejeitar as teses que transformam o homem num ser mau, agressivo, egoísta e não cooperante, pois na sua perspetiva o potencial humano permite-nos ser tudo o que quisermos ser.
Franz de Waal, o brilhante e bem-humorado primatólogo holandês, desafiou a ciência ao questionar o modelo da natureza agressiva e competitiva dos primatas e ao procurar as relações sociais entre primatas e a sua pertinência para o estudo do comportamento humano. Faleceu no passado dia 14 de março, após doença prolongada, conforme divulgado pela Universidade de Emory, no estado da Geórgia nos Estados Unidos da América, onde trabalhava.
Conhecido pelo amor que imprimiu à pesquisa sobre primatas, desvendou um novo conhecimento sobre as suas capacidades emocionais e sociais, capazes de comportamentos de cooperação. Esta descoberta ficou associada a um conjunto de pesquisas realizadas sobre as noções de empatia e de justiça na cognição e no comportamento desses animais.
Com uma forte capacidade de comunicação, foi ainda um exímio divulgador da ciência, tendo contribuído para transformar a perceção do público sobre a vida destes primatas ao partilhar as célebres experiências que realizou com macacos capuchinho.
Em experiências desenvolvidas com esta espécie, concluiu que os macacos capucinhos têm um forte sentido de justiça. No vídeo podemos observar que, perante o mesmo tipo de tarefa, dois macacos capuchinho reagem de forma diferente quando recebem diferentes tipos de remuneração.
Depois da publicação do seu livro “O nosso macaco interior” em 2005, o primatólogo afirmou numa entrevista “Temos um enorme espetro de comportamento, por isso não acreditem nas afirmações de que somos inerentemente maus, agressivos, egoístas e não cooperantes.”, e acrescentou que “O meu argumento é que temos o potencial para sermos tudo o que quisermos. O nosso trabalho é fazer surgir o que queremos.”.
Recordando a personagem que foi Franz De Waal, Lynne Nygaard, presidente do Departamento de Psicologia da Universidade de Emory, disse “É difícil resumir a dimensão do impacto de Frans de Waal, tanto a nível mundial como aqui na Emory..”. E, continuando, acrescenta que “Era um pensador extraordinariamente profundo que também conseguia pensar de forma alargada, fazendo descobertas que atravessavam as disciplinas. Estava sempre pronto a participar numa discussão intelectual.”
Autor de fácil leitura, aclamado pela crítica internacional – científica e não científica -, De Waal notabilizou-se pela publicação em revistas como Science, Nature e Scientific American. Mas deixa ainda livros traduzidos em mais de 20 línguas, referências para o público curioso sobre o comportamento animal. Exemplo disso são A Idade da Empatia, publicado em 2009, o Bonobo e o Ateísta, publicado em 2013, assim como A Mente do Primata e A Moralidade Evoluída, publicados respetivamente em 2012 e 2014.
Continuando a recordar o seu percurso, em 2007 a revista Times identificou o primatólogo como uma das 100 pessoas mais influentes no mundo.
Como salientou na TED talk realizada sobre a experiência com os macacos capuchinos, “A humanidade é na verdade muito mais cooperativa e empática do que se pensa.”.
Referências
Two Monkeys Were Paid Unequally: Excerpt from Frans de Waal’s TED Talk (youtube.com)
Two Monkeys Were Paid Unequally: Excerpt from Frans de Waal’s TED Talk (youtube.com)
Complete List – The 2007 TIME 100 – TIME
Emory primatologist Frans de Waal remembered for bringing apes ‘a little closer to humans’