A investigação conduzida por um mestrando da Universidade Nova de Lisboa analisou as (diferentes) medidas sanitárias adotadas por Portugal e pela Suécia durante a crise da covid-19. Na sua tese, Gonçalo Pessoa conclui que as autoridades de saúde portuguesas ficaram ‘reféns’ da influência de vários stakeholders – como as farmacêuticas, os media, e a Organização Mundial de Saúde –, ao passo que a Agência de Saúde da Suécia conseguiu manter a independência do poder político e seguir as evidências científicas disponíveis – assegurando, ao mesmo tempo, o respeito pelos direitos, liberdades e garantias da população.
Uma tese de mestrado concluiu que durante a crise de covid-19 em Portugal, o medo gerado pelos media deu azo a “várias narrativas sem base científica, culminando na imposição das medidas” adotadas pelo Governo, que contaram com o apoio popular. Da autoria de Gonçalo Pessoa, aluno da Universidade Nova de Lisboa, o trabalho coloca frente-a-frente as (muito distintas) abordagens cientifico-políticas de Portugal e da Suécia “num evento crítico como a pandemia Covid-19″, bem como os impactos que tiveram sobre as populações.
Desde o início, os dois países seguiram caminhos muito diferentes para enfrentar a covid-19 – algo que Gonçalo Pessoa atribui à influência de diversos “stakeholders” e da existência de conflito de interesses entre si, que interferiram com a independência dos decisores políticos e impossibilitaram uma cobertura noticiosa isenta em torno da gestão da crise.
Entre estes “stakeholders”, o maior peso é dado às farmacêuticas e aos media, seguindo-se a Organização Mundial de Saúde (OMS), a União Europeia e as autoridades de saúde sueca e portuguesa como as entidades com forte poder decisório. Às farmacêuticas, são apontados “conflitos de interesses” e a ocultação de dados sobre os contratos e as reações adversas das vacinas, enquanto aos media é imputado o “domínio da narrativa do medo”.
Em simultâneo, a OMS e a União Europeia são consideradas responsáveis por pressionar os Estados-membros para a implementação de uma “gestão universal”.
Na tese, a liderança portuguesa durante a covid é caracterizada como “seguidista”, “dominada por uma narrativa que fixa diretrizes”, e assente num comportamento autoritário. Gonçalo Pessoa sublinha que este tipo de liderança “aparece de tempos em tempos e normalmente em momentos de instabilidade política, crise económica, e convulsão social”.
No pólo oposto, da atuação da Agência de Saúde Sueca é destacada a sua “autonomia” e “racionalidade”, não tendo havido imposição de medidas sanitárias, mas apenas orientações de saúde pública baseadas nas evidências científicas. Ao contrário do que ocorreu na maior parte dos países ‘ocidentais’ (como Portugal), a liderança do Governo sueco não lesou a liberdade das populações, e privilegiou “os seus direitos, liberdades e garantias”.
Para Gonçalo Pessoa, as medidas impostas (e os seus impactos nefastos), como os confinamentos, o uso generalizado de máscaras e o cancelamento de tratamentos médicos e consultas, “poderiam ter sido evitadas se, em Portugal, ao organismo equivalente [Direção-geral da Saúde] tivessem sido dadas autonomia e independência”.
Com efeito, as autoridades de saúde da Suécia, que tiveram como principais rostos os epidemiologistas Anders Tegnell e Johan Giesecke, destoaram das narrativas dominantes noutros países europeus. Por este facto, o mestrando elogia a “responsabilidade social” e a “liderança ética” dos decisores suecos.
O estudo teve como base a análise documental (incluindo a cobertura mediática nos dois países) e entrevistas feitas a algumas personalidades de destaque a nível nacional em áreas que vão desde a Medicina ao Direito – como o médico humanitário e fundador da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre, o ex-juiz Rui Fonseca e Castro, o especialista em Estatística André Dias e o diretor deste jornal, Nuno Machado.
O autor reconhece, no entanto, algumas limitações à tese de mestrado, nomeadamente a sustentação nas “opiniões individuais” dos entrevistados.
Ver também:
A experiência Sueca: Quem foram afinal as cobaias? – The Blind Spot
Europa com elevada mortalidade, Suécia é o único com déficit desde 2021 – The Blind Spot