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Estudos de medicamentos financiados pelas próprias farmacêuticas apresentam eficácia 50% superior

Uma análise publicada este mês no Journal of Political Economy encontrou um viés significativo na eficácia estimada de psicofármacos quando os ensaios clínicos são financiados pelas farmacêuticas que os produzem. Tamar Oostrom, autora do relatório, diz que o ‘efeito patrocínio’ é maior do que esperava, refletindo-se numa diferença de 50% em comparação com os estudos que não beneficiam deste tipo de financiamento. Uma vez que as prescrições tendem a aumentar consoante a quantidade de ensaios clínicos favoráveis, a investigadora considera que este viés pode significar que os médicos prescrevem, em muitos casos, medicamentos menos adequados aos seus pacientes. 

Através de uma análise publicada no passado dia 7, uma investigadora norte-americana concluiu que os estudos de psicofármacos financiados pelas empresas fabricantes tendem a relatar uma eficácia 50% superior àqueles que não beneficiam deste financiamento. O relatório de Tamar Oostrom, professora na Universidade do Ohio, analisa os artigos publicados de 509 ensaios clínicos – sendo a maior parte sobre antidepressivos (cerca de 75%), e os restantes sobre antipsicóticos.  

Segundo a autora do estudo, que foi publicado no Journal of Political Economy, este ‘efeito patrocínio’ pode ser explicado pelo facto de “os fabricantes realizarem vários ensaios e publicarem seletivamente aqueles que são mais favoráveis ao seu medicamento”. Este efeito, contudo, foi mais evidente nos estudos em que os fármacos são testados contra placebos do que aqueles onde se comparam diferentes medicamentos. De qualquer modo, ao jornal The Epoch Times, Oostrom disse que este viés é maior do que antecipava. 

E de facto, para a investigadora, uma das piores consequências de os interesses financeiros influenciarem os resultados dos estudos, é que os fármacos prescritos pelos médicos poderão não ser os mais adequados aos seus pacientes, uma vez que as prescrições aumentam consoante o número de ensaios clínicos favoráveis.  

“Se alguns dos resultados de um ensaio clínico forem tendenciosos, os pacientes podem estar a tomar um medicamento menos eficaz para eles ou podem estar a tomar um medicamento quando o tratamento alternativo pode ser mais benéfico”, considerou. 

No artigo, a investigadora salienta que este trabalho é “o primeiro a examinar o efeito do patrocínio financeiro nos resultados, comparando diretamente um grande conjunto de ensaios em que exatamente os mesmos grupos são testados com diferentes interesses financeiros”. Na maioria dos casos, as publicações analisadas aconteceram depois da aprovação do regulador americano Food and Drug Administration (FDA). 

Os ensaios que foram alvo desta análise contavam com uma média de 100 participantes, e de 42 anos de idade. Quanto ao sexo dos participantes, o número de homens e mulheres era praticamente igual, com elas a representar 51% do total. 

Prozac e Effexor 

A título de exemplo, a investigadora evocou o caso do Effexor, um antidepressivo fabricado pela Wyeth Pharmaceuticals no início dos anos 1990. Após a introdução no mercado, esta farmacêutica patrocinou exclusivamente 14 ensaios em que comparava a eficácia do medicamento ao rival Prozac. Em 12 dos ensaios, a maior eficácia foi atribuída ao Effexor. Nos ensaios em que havia outro tipo de financiamento, o resultado era substancialmente diferente, sendo aquele fármaco o mais eficaz em apenas um em cada três estudos. 

Por outro lado, um estudo de 2004 havia também encontrado um “viés sistemático” na eficácia estimada do ‘famoso’ Prozac (fluoxetina) em estudos clínicos. 

Obrigatoriedade de pré-registo dos ensaios clínicos  

No entender da autora, pôr termo a este conflito de interesses é “difícil”, mas a solução poderá passar pela obrigatoriedade de um pré-registo para a publicação de artigos, minimizando o viés resultante dos patrocínios nos ensaios clínicos. 

Fonte: 

Drug Trials Funded by Manufacturers Find 50 Percent Greater Drug Effectiveness | The Epoch Times 
Funding of Clinical Trials and Reported Drug Efficacy | Journal of Political Economy: Vol 132, No 10 (uchicago.edu) 

Ver também: 

Canadá: denunciantes revelam incentivos da indústria de ensaios clínicos para ocultarem reações adversas – The Blind Spot 

Especialistas alertam para falhas na supervisão da FDA – The Blind Spot 

Denúncias de más práticas no ensaio clínico da Pfizer e falhas do regulador – The Blind Spot

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