Antigo jornalista desportivo, Germano Almeida é um dos comentadores mais requisitados pela imprensa mainstream para falar da política norte-americana. Contudo, nesta temática, os seus principais trabalhos conhecidos são a autoria de um blog intitulado “Casa Branca”, lançado em 2008, e de cinco livros sobre as eleições americanas, nos quais se mostrou alinhado com os candidatos do partido democrata. De resto, enquanto jornalista, até 2015 a sua ‘especialidade’ foi sobretudo o Futebol, tendo passado pelos jornais A Bola e pelo Maisfutebol. De acordo com o seu perfil no Linkedin, é analista de dados e “project manager” na Federação Portuguesa de Futebol desde Março de 2017. A nível académico, consta apenas uma licenciatura em Ciências da Comunicação.
Encontram-se vários casos semelhantes na imprensa nacional, mas este é um dos mais evidentes. Enquanto comentador, Germano Almeida tem sido apresentado como um “especialista em assuntos internacionais” ou em “política internacional” em vários órgãos de comunicação social mainstream, mas não se lhe conhece qualquer formação académica naquelas áreas. Depois de ter passado pela CNN e pela SIC, onde abordou sobretudo a política norte-americana, e de se ter tornado também um dos colunistas do Diário de Notícias, Germano Almeida estreou recentemente um programa diário no canal NOW, onde “passará a ser o principal analista de temas internacionais e de geopolítica, com presenças diárias em antena”.
Nestas últimas eleições norte-americanas, foi um dos mais activos comentadores em alguns dos principais jornais nacionais (de televisão e imprensa escrita), vaticinando sempre a vitória de Kamala Harris. Porém, embora tenha falhado nas suas previsões, Germano Almeida continua a ascender no comentariado português.
Isto, embora as únicas qualificações que se lhe conhecem na área dos “assuntos internacionais” sejam a autoria de três livros onde se mostra favorável aos candidatos democratas, e do blogue “Casa Branca”, que começou durante as presidenciais que deram o primeiro mandato a Barack Obama. Logo no topo da página do site, é possível ler que este é “o blogue que, desde novembro de 2008, lhe conta tudo o que acontece na política americana, com os olhos postos nos últimos dois anos da era Obama e na corrida às eleições presidenciais de 2016”. No entanto, apesar de ainda estar online, a última entrada data de Agosto do ano que Donald Trump foi eleito presidente.
Durante a campanha presidencial de 2008, escreveu também uma vintena de artigos num pequeno jornal.
Em todo o caso, como escritor, os livros que publicou evidenciaram sempre um alinhamento com o partido democrata. “Histórias da Casa Branca – Como o Fenómeno Obama está a Mudar a América e o Mundo”, foi o primeiro, lançado em 2010 com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD). Graças a uma bolsa daquela fundação, acompanharia nos Estados Unidos a reeleição de Obama em 2012. No ano seguinte, abordou o tema no livro “Por Dentro da Reeleição”.
Já sobre a candidata democrata que sucedeu a Obama, escreveu “Hillary Clinton – Nunca é tarde para ganhar”, publicado em Novembro de 2016. Na sinopse, pode ler-se: “Hillary Rodham Clinton concretizou o sonho da sua vida e é a primeira mulher a chegar à Presidência dos Estados Unidos. Este livro traça-nos o perfil desta mulher singular e obstinada, conta-nos o seu percurso, ideias e paixões e revela ainda pormenores essenciais da corrida eleitoral mais imprevista das últimas décadas nos Estados Unidos da América.”
Ao nível académico, de acordo com a sua página no Linkedin, Germano Almeida tem apenas uma licenciatura em Ciências da Comunicação. Fez, também, um curso de Segurança e Defesa para Jornalistas no Instituto da Defesa Nacional.
Mas, de facto, enquanto jornalista, a sua ‘especialidade’ foi, durante muito tempo, o Futebol. Começou a sua carreira em 1993, no jornal A Bola – no qual esteve durante cerca de 15 anos, com algumas interrupções –, e passou também pelo Maisfutebol, entre os anos de 2000 e 2003, e de 2012 a 2015.
Entre 2010 e 2012, após o seu afastamento do jornal A Bola, assumiu funções como director de comunicação da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. A este cargo, voltaria ainda em Outubro de 2015, mas por pouco tempo, ficando só até Julho de 2016. Segundo consta na sua página de LinkedIn, em 2017 tornou-se depois “project manager” no Gabinete Executivo da Federação Portuguesa de Futebol.
Face ao ‘currículo’, a sua imparcialidade para ser descrito como “especialista” em Assuntos Internacionais é questionável. A sua preferência pelo partido democrata é notória, e o comentador não costuma poupar críticas ao presidente agora eleito nos Estados Unidos. Com efeito, num dos artigos de análise que escreveu para o Diário Notícias (DN), no final de Novembro último, ao qual chamou “A distopia Trump 2.0”, dizia que “Donald Trump vai continuando a formar uma Administração que é, na sua globalidade, muito pior que a primeira, tanto pela falta de dimensão política, como pela preocupante fraqueza técnica.”
O The Blind Spot questionou Germano Almeida sobre a sua formação académica na área dos “Assuntos Internacionais”, ou da Geopolítica, e sobre as qualificações que o habilitaram a tornar-se um “especialista em Política Internacional” (como é apresentado no DN), mas não obteve qualquer resposta. Esta última pergunta foi feita também ao NOW, que, do mesmo modo, não respondeu.
Fontes
Germano Almeida reforça equipa NOW – Tv Media – Correio da Manhã