Um estudo realizado na Grécia que analisou a mortalidade por covid aquando da variante Ómicron, revelou que a grande maioria das mortes classificadas “como por covid” não teve a doença como causa principal do óbito. Em 29,6% dos casos, a doença terá contribuído, mas a causa principal terá sido outra, e em 45,3% não terá tido qualquer influência no óbito. 

Tal como o The Blind Spot relata desde 2020, a generalidade da comunicação social, bem como vários governos e autoridades de saúde, incorreram em desinformação grosseira e sistemática ao atribuir, de forma descontextualizada, todas as “mortes covid” à doença.  

Esta distorção alarmista dos números foi usada para (1) a defesa de medidas restritivas, como confinamentos ou certificados vacinais, (2) fundamentar estimativas do impacto da doença e das medidas implementadas (farmacológicas e não farmacológicas) e (3) justificar medidas globais e investimentos avultados para a “prevenção” de novas pandemias. 

Em muitos países, incluindo a Grécia, todas as mortes com um teste positivo para o SARS-CoV-2 são (ou foram) classificadas como “mortes por covid”.  

Contudo, um estudo publicado na revista Nature, investigou se a covid-19 foi: (1) a causa principal de morte, (2) se contribuiu, ou (3) não esteve relacionada com o falecimento de pacientes em hospitais gregos durante o surto da Omicron, que foram classificados como “mortes por covid”. Além disso, foram analisados os fatores associados à classificação dessas mortes. 

Tal foi possível, com o recurso a dados clínicos e laboratoriais dos pacientes. 

Resultados 

Das 530 pessoas que morreram no hospital, apenas 2,3% tinham sido previamente infectadas com o vírus SARS-CoV-2 (o vírus que causa a covid-19), o que parece reforçar o papel da imunidade natural adquirida na diminuição da gravidade da doença. 

Quase metade das mortes (45,3%) não terão tido relação com a doença, enquanto em pouco mais de metade dos casos (54,7%) o vírus teve algum papel.  

Assim, no total, em um quarto dos casos (25,1%) a covid terá sido a causa direta, em 29,6% terá sido um fator contributivo e em quase metade dos casos (45,3%) não terá tido qualquer influência. 

Os autores concluíram também que as caraterísticas dos doentes que morreram “com covid” eram distintos dos que morreram “devido à covid”. 

Perfil dos pacientes 

Os doentes que morreram “com covid”, eram geralmente mais jovens e com maior prevalência de condições pré-existentes, como doença hepática em fase terminal ou imunossupressão. Além disso, era também mais provável que tivessem sido infetados no hospital. 

Por outro lado, as pessoas que morreram “devido à covid” eram mais velhas, internadas em enfermarias de doenças infecciosas, apresentavam sintomas e resultados laboratoriais típicos da doença e receberam tratamentos específicos para o vírus.  

Limitações 

Para os autores do estudo, apesar de este ser um importante passo em frente por não se basear apenas nos certificados de óbitos, tem, ainda assim, inúmeras limitações. Entre elas, (1) a ausência de informação de doentes transferidos para Unidades de Cuidados Intensivos (UCI), (2) poder não se aplicar a outras variantes, ou regiões, e (3) depender de avaliações subjetivas.  

Para eles, esta última limitação só poderia ter sido minimizada com a realização de autópsias, embora reconheçam que tal teria sido inviável na altura.

Ver também:

O que é uma morte Covid 19? – The Blind Spot

Massachusetts (EUA) contou como morte Covid as mortes ocorridas até 1 ano após teste positivo – The Blind Spot

Síntese de evidência: O que é uma morte “por Covid” – The Blind Spot

CDC: Certificados de óbito declaram como morte Covid homicídios, suicídios e desaparecidos – The Blind Spot

Dados oficiais ONS: 96% das mortes Covid tiveram outras causas mencionadas – The Blind Spot