Alarme na educação com a queda significativa no desempenho dos alunos portugueses de 15 anos, rapazes e raparigas, nos Ćŗltimos exames em MatemĆ”tica e em Leitura. O modelo escola-armazĆ©m fracassou e Ć© preciso mudar. E a mudanƧa pode passar pela redução da carga letiva do aluno ou pelo afastamento de uma polĆtica educativa importada do exterior, sobretudo se ela for contrĆ”ria aos interesses de Portugal.
Os resultados do PISA 2022 foram divulgados recentemente, revelando uma queda significativa no desempenho dos alunos portugueses de 15 anos em MatemÔtica e Leitura. Esta tendência negativa é observada tanto na média nacional quanto nas variações entre diferentes grupos de alunos. Entre 2018 e 2022, os 10% melhores alunos tiveram uma redução média de 25 pontos em MatemÔtica e 18 pontos em Leitura.
Essa queda Ć© alarmante, especialmente quando consideramos o aparente histórico de sucesso de Portugal no PISA entre 2003 e 2018. A anĆ”lise desagregada por gĆ©nero mostra quedas semelhantes para rapazes e raparigas. AlĆ©m disso, ao longo de 10 anos, a percentagem de alunos nos nĆveis mais baixos de desempenho aumentou, indicando uma estagnação prĆ©via que se agravou durante a pandemia. Mas nĆ£o necessariamente apenas por causa dela, como o demonstram as melhorias registadas nos desempenhos de vĆ”rias naƧƵes asiĆ”ticas. Parece que tambĆ©m por lĆ”, houve pandemiaā¦
Comparando com outros paĆses participantes no PISA, observa-se uma tendĆŖncia global de queda nos resultados desde 2003, com sistemas de ensino europeus, tradicionalmente considerados robustos (por quem, e em que contextos?), apresentando quedas mais pronunciadas do que os sistemas asiĆ”ticos ou latino-americanos.
Esses resultados refletem uma preocupação mais ampla sobre a eficĆ”cia do tempo gasto na escola em relação ao conhecimento adquirido. Estudos recentes indicam que, apesar do aumento do acesso Ć educação, a aprendizagem efetiva estagnou na Europa desde o inĆcio dos anos 2000. Globalmente, estima-se que pelo menos dois terƧos das crianƧas em todo o mundo nĆ£o atinjam os nĆveis mĆnimos de conhecimento, mesmo frequentando a escola. A ideia da escola-armazĆ©m nĆ£o parece ter um casamento feliz com a consecução do que deveria ser o objetivo primĆ”rio da escola: facilitar aprendizagens. Ć despesista, ao mesmo tempo que pratica uma polĆtica de baixos salĆ”rios para quem estĆ” no sistema de ensino, tornando-o ineficaz, e ineficiente. HĆ” que reduzir o tempo de permanĆŖncia dos alunos na escola e devolver-lhes o tempo para serem jovens e crianƧas, de modo a que possam ter uma juventude mais feliz e promotora das suas melhores saĆŗdes fĆsica e mental.
A resolução desse problema exige a implementação de mecanismos de avaliação transparentes e periódicos, currĆculos bem definidos e adaptados Ć s diferentes realidades escolares, alĆ©m de polĆticas de apoio especĆficas para alunos em desvantagem. No entanto, essas soluƧƵes enfrentam desafios relacionados Ć disponibilidade de recursos. Que atĆ© poderiam ser menores, nĆ£o fosse a obstinação ideológica que resiste Ć ideia de uma diminuição da excessiva carga letiva dos alunos.
Em última anÔlise, os resultados preocupantes do PISA 2022 indicam a necessidade de reavaliar e alterar o caminho que tem estado a ser seguido. Não parece uma postura inteligente, ou sequer razoÔvel, continuar a fazer o mesmo, e esperar por resultados diferentes. Temos que fazê-lo pelos nossos alunos, pelos nossos professores, pela nossa sociedade, e pelo nosso Portugal.
HĆ” que romper com os vĆcios importados de todos os modelos que, tendo falhado nos paĆses onde foram criados, foram depois implantados no nosso paĆs. A Educação em Portugal deve deixar de ser um pasto fĆ©rtil para experimentalismos e doutrinaƧƵes, especialmente se os seus produtos forem contrĆ”rios aos nossos interesses enquanto nação.
Fonte utilizada para obtenção de dados:
https://www.oecd.org/publication/pisa-2022-results/country-notes/portugal-777942d5#section-d1e23

Paulo Fanha
Professor de CiĆŖncias FĆsico-quĆmicas
Jogador/treinador/professorĀ deĀ xadrez