Quem ā€œpisouā€ o nossoĀ ensino?

ByPaulo Fanha

12 de Fevereiro, 2024 ,

Alarme na educação com a queda significativa no desempenho dos alunos portugueses de 15 anos, rapazes e raparigas, nos últimos exames em MatemÔtica e em Leitura. O modelo escola-armazém fracassou e é preciso mudar. E a mudança pode passar pela redução da carga letiva do aluno ou pelo afastamento de uma política educativa importada do exterior, sobretudo se ela for contrÔria aos interesses de Portugal.

Os resultados do PISA 2022 foram divulgados recentemente, revelando uma queda significativa no desempenho dos alunos portugueses de 15 anos em MatemÔtica e Leitura. Esta tendência negativa é observada tanto na média nacional quanto nas variações entre diferentes grupos de alunos. Entre 2018 e 2022, os 10% melhores alunos tiveram uma redução média de 25 pontos em MatemÔtica e 18 pontos em Leitura.

Essa queda Ć© alarmante, especialmente quando consideramos o aparente histórico de sucesso de Portugal no PISA entre 2003 e 2018. A anĆ”lise desagregada por gĆ©nero mostra quedas semelhantes para rapazes e raparigas. AlĆ©m disso, ao longo de 10 anos, a percentagem de alunos nos nĆ­veis mais baixos de desempenho aumentou, indicando uma estagnação prĆ©via que se agravou durante a pandemia. Mas nĆ£o necessariamente apenas por causa dela, como o demonstram as melhorias registadas nos desempenhos de vĆ”rias naƧƵes asiĆ”ticas. Parece que tambĆ©m por lĆ”, houve pandemia…

Comparando com outros países participantes no PISA, observa-se uma tendência global de queda nos resultados desde 2003, com sistemas de ensino europeus, tradicionalmente considerados robustos (por quem, e em que contextos?), apresentando quedas mais pronunciadas do que os sistemas asiÔticos ou latino-americanos.

Esses resultados refletem uma preocupação mais ampla sobre a eficĆ”cia do tempo gasto na escola em relação ao conhecimento adquirido. Estudos recentes indicam que, apesar do aumento do acesso Ć  educação, a aprendizagem efetiva estagnou na Europa desde o inĆ­cio dos anos 2000. Globalmente, estima-se que pelo menos dois terƧos das crianƧas em todo o mundo nĆ£o atinjam os nĆ­veis mĆ­nimos de conhecimento, mesmo frequentando a escola. A ideia da escola-armazĆ©m nĆ£o parece ter um casamento feliz com a consecução do que deveria ser o objetivo primĆ”rio da escola: facilitar aprendizagens. Ɖ despesista, ao mesmo tempo que pratica uma polĆ­tica de baixos salĆ”rios para quem estĆ” no sistema de ensino, tornando-o ineficaz, e ineficiente. HĆ” que reduzir o tempo de permanĆŖncia dos alunos na escola e devolver-lhes o tempo para serem jovens e crianƧas, de modo a que possam ter uma juventude mais feliz e promotora das suas melhores saĆŗdes fĆ­sica e mental.

A resolução desse problema exige a implementação de mecanismos de avaliação transparentes e periódicos, currículos bem definidos e adaptados às diferentes realidades escolares, além de políticas de apoio específicas para alunos em desvantagem. No entanto, essas soluções enfrentam desafios relacionados à disponibilidade de recursos. Que até poderiam ser menores, não fosse a obstinação ideológica que resiste à ideia de uma diminuição da excessiva carga letiva dos alunos.

Em última anÔlise, os resultados preocupantes do PISA 2022 indicam a necessidade de reavaliar e alterar o caminho que tem estado a ser seguido. Não parece uma postura inteligente, ou sequer razoÔvel, continuar a fazer o mesmo, e esperar por resultados diferentes. Temos que fazê-lo pelos nossos alunos, pelos nossos professores, pela nossa sociedade, e pelo nosso Portugal.

HÔ que romper com os vícios importados de todos os modelos que, tendo falhado nos países onde foram criados, foram depois implantados no nosso país. A Educação em Portugal deve deixar de ser um pasto fértil para experimentalismos e doutrinações, especialmente se os seus produtos forem contrÔrios aos nossos interesses enquanto nação.

Fonte utilizada para obtenção de dados:

https://www.oecd.org/publication/pisa-2022-results/country-notes/portugal-777942d5#section-d1e23

Paulo Fanha

Professor de CiĆŖncias FĆ­sico-quĆ­micas
Jogador/treinador/professorĀ deĀ xadrez