Um ex-funcionário da Boeing, foi encontrado morto na semana em que testemunhava contra a companhia. Barnett denunciou práticas que, segundo ele, colocavam em risco a segurança dos passageiros, e a inação da empresa perante os seus alertas. A transformação do modelo de negócio da Boeing, tornando a empresa mais focada nos parceiros globais e menos na engenharia aeroespacial é apontada como uma das causas-raiz do problema.
John Barnett, um antigo funcionário da Boeing que há anos que denuncia graves falhas nos padrões de produção da empresa, foi encontrado morto nos Estados Unidos. Barnett, que trabalhou na Boeing mais de 30 anos antes de se reformar em 2017, estava precisamente a meio de um processo em que testemunhava contra a gigante aeroespacial.
Segundo o médico legista, que datou a morte a 9 de março, “o homem de 62 anos morreu devido a um ferimento autoinfligido”, estando a polícia atualmente a investigar as circunstâncias do caso. Barnett trabalhou como gestor de qualidade na fábrica da Boeing em North Charleston, principalmente envolvida na produção do 787 Dreamliner.
Barnett denunciou as pressões enfrentadas pelos trabalhadores, alegando a instalação deliberada de peças de qualidade inferior e problemas graves nos sistemas de oxigénio das aeronaves. Apesar de alertar a gestão para estas preocupações, Barnett afirmou que a empresa não tomou qualquer medida.
Embora a Boeing tenha negado as afirmações de Barnett, uma revisão de 2017 da Administração Federal de Aviação (FAA) confirmou algumas das suas preocupações, identificando partes “não conformes” e ordenando medidas corretivas. Barnett posteriormente iniciou uma ação judicial contra a Boeing, acusando a empresa de prejudicar a sua carreira e manchar o seu caráter.
A sua morte prematura ocorre num momento de grande escrutínio sobre os padrões de produção dentro da Boeing e do seu fornecedor-chave, a Spirit Aerosystems, após incidentes de segurança recentes e descobertas de não conformidade com os requisitos de controlo de qualidade de fabricação pela FAA.
Acidentes graves
Apesar de terem ocorrido outros graves incidentes no passado, os recentes acidentes fatais com os Boeing 737 MAX foram dos mais comprometedoras para a empresa.
Para muitos, a falta de atenção à segurança, incluindo falhas no software de controlo, resultou em acidentes evitáveis. O relatório final da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos concluiu que as falhas da Boeing e do regulador (FAA) foram responsáveis pelos acidentes com o 737 MAX, que vitimaram 346 pessoas.
Essa atuação terá resultado da transformação do modelo de negócio da Boeing, tornando-se mais dependente de parceiros globais e, por isso, mais focada na gestão financeira em detrimento da engenharia aeroespacial.
Apesar das promessas da companhia aérea, a empresa continua nas notícias pela sucessão de incidentes. Um dos últimos, aconteceu já neste ano quando o tampão da porta de um Boeing 737 MAX 9 se desprendeu em pleno voo.
Referências:
Boeing’s tragedy: The fall of an American icon | Euronews
Lawmakers fault FAA, Boeing for deadly 737 Max crashes (nbcnews.com)
The turbulent journey of the Boeing 737 | Aviation | Al Jazeera
FAA Audit of Boeing’s 737 Max Production Found Dozens of Issues – The New York Times (nytimes.com)
New problem found on Boeing 737 Max planes | CNN Business
Boeing 737 Max: New fuselage problem may delay deliveries | AP News
The FAA flags more potential safety issues on Boeing’s 737 Max and 787 Dreamliner | CNN Business