Os 5 filtros da propaganda

ByMiguel Lobo

3 de Abril, 2024

ā€œPropagandaā€, muitos utilizam esta palavra quando se referem a paĆ­ses como a Coreia do Norte, o CazaquistĆ£o ou o IrĆ£o. PaĆ­ses vistos como autoritĆ”rios pelas lentes da comunicação social.

ā€œDemocraciaā€, conceito para descrever paĆ­ses como os Estados Unidos, Europa, AustrĆ”lia e atĆ© mesmo Portugal.

No entanto, esta democracia é encenada com a ajuda da comunicação social que funciona como mÔquina aprimorada de propaganda.

E esta mƔquina opera atravƩs de cinco filtros.

O primeiro filtro é a lucratividade. As empresas de comunicação social são grandes corporações. Muitas vezes, fazem parte de conglomerados ainda maiores. O seu objetivo final é, acima de tudo, o lucro. Posto isto, é do seu interesse promover tudo o que garanta esse lucro. O jornalismo de investigação fica em segundo plano em relação às necessidades e interesses da corporação.

O segundo filtro expƵe o verdadeiro papel da publicidade, ou seja, a nossa pegada digital.

Faremos um pequeno exercício, quando nos registamos num site, dão-nos a garantia de que esse processo é gratuito. No entanto, estamos simultaneamente a conceder os nossos dados, que servirão para no futuro nos bombardearem com anúncios.

O terceiro filtro questiona como o governo efetua a gestão da comunicação social.

Os governos, as empresas, as grandes instituiƧƵes sabem como influenciar a narrativa noticiosa. Alimentam constantemente os media com furos de reportagem, relatos oficiais, entrevistas com os ā€œespecialistasā€ e influenciadores.

Quando certos jornalistas se afastam do consenso, estes serĆ£o ā€œcriticadosā€ ou ostracizados ou desacreditados. Este Ć© o quarto filtro. Quando a história Ć© inconveniente para os poderes instituĆ­dos, estes jornalistas verĆ£o a mĆ”quina de censura em ação, desacreditando fontes, destruindo histórias, desviando a conversa ou rotulando-os de certos estereótipos.

E finalmente, o quinto filtro. Para fabricar o consentimento, Ć© preciso um inimigo comum.

A natureza humana inclina-se para a antagonização, e caso não se incline o sistema farÔ tudo para fomentar essa aproximação, porque em todas as Ôreas sociais jÔ estÔ presente este princípio de disputa e rivalidade, quer seja na formação académica, desporto, conflitos bélicos ou na política. Quer seja uma pandemia, um alarmismo climÔtico ou uma invasão alienígena, é preciso um bode expiatório, que seja o repositório de toda a raiva e frustração que a sociedade sofre perante o sistema.

No entanto, poderĆ” suscitar a pergunta: ā€œMas entĆ£o propaganda nĆ£o Ć© ilegal?ā€.

Em 1948, nos Estados Unidos foi criada a Lei Smith Mundt, que proíbe explicitamente a informação em operações psicológicas destinadas a influenciar a opinião pública. No entanto, em 2012 houve uma alteração à lei pela Autorização da Defesa Nacional (NDAA), proposta por Mac Thornberry, republicano do Texas e Adam Smith, democrata de Washington, anulando a lei original.

Esta emenda permite efetivamente que o governo dos Estados Unidos utilize legalmente operaƧƵes para influenciar, perturbar, corromper ou usurpar a tomada de decisƵes humanas e simultaneamente, moldar a narrativa essencial de um conflito, afetando as atitudes e comportamentos do pĆŗblico-alvo. Estas operaƧƵes de informação sĆ£o vagamente delineadas como incorporando, cito: ā€œo emprego integrado da guerra eletrónica, das operaƧƵes em redes informĆ”ticas, das operaƧƵes psicológicas, do engano militar e da seguranƧa das operaƧƵes, em conjunto com as capacidades especificadas de apoio e relacionadas, para influenciar, perturbar, corromper ou usurpar a tomada de decisƵes humanas e automatizadas do adversĆ”rio, protegendo ao mesmo tempo as nossas próprias decisƵesā€.

Contudo, esta lei tem uma peculiaridade. Ɖ necessĆ”rio que pelo menos 1 cidadĆ£o nĆ£o-americano receba esta comunicação, para se tornar legal, ou seja, tem uma amplitude e inclusividade em qualquer paĆ­s do mundo.

Para os que apresentam maior ceticismo, garanto-vos de que o ato de propaganda não é algo longínquo e apenas presente nos livros de História, muito pelo contrÔrio, propaganda é mais eficaz perante um público desprevenido.

Para concluir, o ser humano deve-se manter consciente destas ameaças de persuasão e concentrar-se em avaliar as novas informações a partir de um estado de espírito emocionalmente neutro e puramente lógico. Só assim serÔ capaz de contrariar os efeitos da propaganda e começar a formar as suas próprias opiniões.

Bibliografia

Scaparrotti, C. (27 de novembro de 2012). Information Operations. Information Operations, p. 89. Obtido de JP 3-13, Information Operations (fas.org)

Thornberry, M. (10 de Maio de 2012). 112TH CONGRESS. H. R. 5736, p. 7. Obtido de E:\BILLS\H5736.IH (congress.gov)

Miguel Lobo