āPropagandaā, muitos utilizam esta palavra quando se referem a paĆses como a Coreia do Norte, o CazaquistĆ£o ou o IrĆ£o. PaĆses vistos como autoritĆ”rios pelas lentes da comunicação social.
āDemocraciaā, conceito para descrever paĆses como os Estados Unidos, Europa, AustrĆ”lia e atĆ© mesmo Portugal.
No entanto, esta democracia é encenada com a ajuda da comunicação social que funciona como mÔquina aprimorada de propaganda.
E esta mƔquina opera atravƩs de cinco filtros.
O primeiro filtro é a lucratividade. As empresas de comunicação social são grandes corporações. Muitas vezes, fazem parte de conglomerados ainda maiores. O seu objetivo final é, acima de tudo, o lucro. Posto isto, é do seu interesse promover tudo o que garanta esse lucro. O jornalismo de investigação fica em segundo plano em relação às necessidades e interesses da corporação.
O segundo filtro expƵe o verdadeiro papel da publicidade, ou seja, a nossa pegada digital.
Faremos um pequeno exercĆcio, quando nos registamos num site, dĆ£o-nos a garantia de que esse processo Ć© gratuito. No entanto, estamos simultaneamente a conceder os nossos dados, que servirĆ£o para no futuro nos bombardearem com anĆŗncios.
O terceiro filtro questiona como o governo efetua a gestão da comunicação social.
Os governos, as empresas, as grandes instituiƧƵes sabem como influenciar a narrativa noticiosa. Alimentam constantemente os media com furos de reportagem, relatos oficiais, entrevistas com os āespecialistasā e influenciadores.
Quando certos jornalistas se afastam do consenso, estes serĆ£o ācriticadosā ou ostracizados ou desacreditados. Este Ć© o quarto filtro. Quando a história Ć© inconveniente para os poderes instituĆdos, estes jornalistas verĆ£o a mĆ”quina de censura em ação, desacreditando fontes, destruindo histórias, desviando a conversa ou rotulando-os de certos estereótipos.
E finalmente, o quinto filtro. Para fabricar o consentimento, Ć© preciso um inimigo comum.
A natureza humana inclina-se para a antagonização, e caso nĆ£o se incline o sistema farĆ” tudo para fomentar essa aproximação, porque em todas as Ć”reas sociais jĆ” estĆ” presente este princĆpio de disputa e rivalidade, quer seja na formação acadĆ©mica, desporto, conflitos bĆ©licos ou na polĆtica. Quer seja uma pandemia, um alarmismo climĆ”tico ou uma invasĆ£o alienĆgena, Ć© preciso um bode expiatório, que seja o repositório de toda a raiva e frustração que a sociedade sofre perante o sistema.
No entanto, poderĆ” suscitar a pergunta: āMas entĆ£o propaganda nĆ£o Ć© ilegal?ā.
Em 1948, nos Estados Unidos foi criada a Lei Smith Mundt, que proĆbe explicitamente a informação em operaƧƵes psicológicas destinadas a influenciar a opiniĆ£o pĆŗblica. No entanto, em 2012 houve uma alteração Ć lei pela Autorização da Defesa Nacional (NDAA), proposta por Mac Thornberry, republicano do Texas e Adam Smith, democrata de Washington, anulando a lei original.
Esta emenda permite efetivamente que o governo dos Estados Unidos utilize legalmente operaƧƵes para influenciar, perturbar, corromper ou usurpar a tomada de decisƵes humanas e simultaneamente, moldar a narrativa essencial de um conflito, afetando as atitudes e comportamentos do pĆŗblico-alvo. Estas operaƧƵes de informação sĆ£o vagamente delineadas como incorporando, cito: āo emprego integrado da guerra eletrónica, das operaƧƵes em redes informĆ”ticas, das operaƧƵes psicológicas, do engano militar e da seguranƧa das operaƧƵes, em conjunto com as capacidades especificadas de apoio e relacionadas, para influenciar, perturbar, corromper ou usurpar a tomada de decisƵes humanas e automatizadas do adversĆ”rio, protegendo ao mesmo tempo as nossas próprias decisƵesā.
Contudo, esta lei tem uma peculiaridade. Ć necessĆ”rio que pelo menos 1 cidadĆ£o nĆ£o-americano receba esta comunicação, para se tornar legal, ou seja, tem uma amplitude e inclusividade em qualquer paĆs do mundo.
Para os que apresentam maior ceticismo, garanto-vos de que o ato de propaganda nĆ£o Ć© algo longĆnquo e apenas presente nos livros de História, muito pelo contrĆ”rio, propaganda Ć© mais eficaz perante um pĆŗblico desprevenido.
Para concluir, o ser humano deve-se manter consciente destas ameaƧas de persuasĆ£o e concentrar-se em avaliar as novas informaƧƵes a partir de um estado de espĆrito emocionalmente neutro e puramente lógico. Só assim serĆ” capaz de contrariar os efeitos da propaganda e comeƧar a formar as suas próprias opiniƵes.
Bibliografia
Scaparrotti, C. (27 de novembro de 2012). Information Operations. Information Operations, p. 89. Obtido de JP 3-13, Information Operations (fas.org)
Thornberry, M. (10 de Maio de 2012). 112TH CONGRESS. H. R. 5736, p. 7. Obtido de E:\BILLS\H5736.IH (congress.gov)
Miguel Lobo
