Na passada sexta-feira, no âmbito do Projeto + Longevidade, da NOVA IMS School, 20 ‘especialistas’ propuseram no Parlamento a inclusão de novas vacinas para adultos no Plano Nacional de Vacinação para “evitar determinadas doenças”, alegando que o investimento seria abatido em “poucos meses”. Contudo, este projeto tem o apoio da GlaxoSmithKline, uma farmacêutica que comercializa todas as vacinas propostas – da Gripe, do Herpes Zoster (Zona), da doença pneumocócica, do HPV e do Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Entretanto, desconhecem-se as contas exatas que os ‘peritos’ fizeram para concluir que o enorme investimento público neste esquema vacinal seria rapidamente compensado, e o relatório que consubstancia estas afirmações ainda não foi divulgado na íntegra.
Numa altura em que decorrem as negociações para o Orçamento do Estado para 2025, mais de 20 ‘especialistas’ na área da Saúde pediram ao Parlamento a criação de um esquema vacinal para adultos no sentido de “evitar determinadas doenças” e “prolongar a vida de todos”, conferindo-lhes também uma maior qualidade de vida.
Para estas personalidades, este ‘calendário’ vacinal deveria incluir as vacinas da Gripe, da Doença Pneumocócica, do HPV, do Herpes Zoster (Zona) e do Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Estas recomendações constam de um documento entregue aos deputados na passada sexta-feira, no âmbito do Projeto + Longevidade – uma iniciativa da NOVA IMS sobre o impacto da vacinação nos adultos, coordenado pelo laboratório de investigação NOVA Center for Global Health.
No entanto, todas as vacinas propostas pelo think-tank, como a da Gripe, da Zona e do VSR são desenvolvidas pela GlaxoSmithKline: a mesma farmacêutica que apoia este projeto.
Alegações não fundamentadas
Segundo a agência Lusa, Francisco George, presidente do projeto e da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública, afirmou que o investimento na compra destas vacinas seria “em poucos meses compensado”.
Além do ex-diretor-geral da Saúde, entre os peritos que subscreveram estas recomendações contam-se os antigos ministros da Saúde Adalberto Campos Fernandes e Luís Filipe Pereira, e o pneumologista Filipe Froes.
O The Blind Spot questionou o presidente do projeto e os dois ex-ministros da Saúde acerca das bases científicas das alegações e do retorno do investimento nestas vacinas, mas apenas o primeiro nos respondeu. De qualquer modo, Francisco George quis esclarecer somente que a sua participação foi “centrada na moderação dos trabalhos de forma voluntária e não remunerada”, e remeteu as questões para Henrique Lopes, diretor do NOVA Center for Global Health (da NOVA IMS).
Por seu turno, a NOVA IMS, que promoveu esta iniciativa, ignorou o nosso pedido de divulgação do relatório.
Recorde-se que, em maio deste ano, a imprensa noticiou amplamente um suposto “estudo” no âmbito deste projeto, mas que nunca chegou a ser tornado público. Na realidade, o The Blind Spot apurou na altura que não se tratava sequer de um estudo, estando em causa apenas uma “análise”.
Desmentidos dos autores da análise
Os próprios investigadores responsáveis pela análise que suportaria o relatório (ambos por publicar) desmentem categoricamente as alegações propagadas na imprensa. Henrique Vasconcelos, afirmou até nas redes sociais (X e LinkedIn) que as notícias então veiculadas, dando conta de uma poupança de 245 milhões de euros com a inclusão de mais vacinas para adultos, eram uma “masterclass de desinformação” e de “agenda setting”.
Por sua vez, o outro investigador, José Miguel Diniz, desmentiu igualmente as conclusões que a comunicação social transmitiu com base no relatório. E foi perentório, afirmando: “Melhor manchete: Estado NÃO pouparia 245 Milhões por ano se vacinasse mais adultos”.
Ao nível da imprensa, o Expresso e a SIC Notícias associaram-se ao projeto como “media partners”.
Ver também:
Fact-checkers ‘ignoram’ “estudo-fantasma” desmentido pelos próprios investigadores – The Blind Spot