Na reunião do Forum Económico Mundial em junho último, reiterou-se a tendência do momento: “Forçar os Comportamentos”. Neste “Davos de Verão”, elites não eleitas, que controlam políticos e elites tecnocráticas, estão de acordo com o futuro da sociedade global digital, e cujo interruptor ON-OFF é controlado à distância, com o recurso às tecnologias da Quarta Revolução Industrial. Ou seja, um novo modelo de democracia, gerida pela Inteligência Artificial, mas cujo controlo é subtraído ao utilizador final – o cidadão.
Nas últimas décadas, têm tentado “digitalizar-nos” à força. Vejo isso na geração mais jovem: eles acham que quem não usa o máximo de serviços digitais é um atrasado cidadão de segunda. Querem que façamos tudo digitalmente – que realizemos compras online; paguemos tudo com apps; tomemos notas só no telemóvel; tenhamos todos os exames médicos e medicação online; coloquemos os dados cardíacos e as horas de dormir em aplicações ou gadgets de saúde. Tudo isto porque, supostamente, é mais cómodo. Infelizmente, também eu já faço algumas dessas coisas. Não é segredo que todas as informações privadas, uma vez online, podem servir para controlar-nos. Isto porque virtualmente passam a ser acessíveis a muita gente, alguma da qual nem sonhamos; e também não sabemos o que fazem com essa informação (mas desconfiamos).
Muito provavelmente, estas reflexões deixarão de preocupar a geração seguinte: ela já será formatada para achar que o controlo e a manipulação são uma coisa inevitável, que a falta de liberdade não importa, e que os implantes cerebrais são algo vantajoso.
Os meus filhos, daqui a 20 anos ou menos, já poderão ser transhumanos.
Quando o intolerável se torna aceitável
Que caminho nos preparam? A aceitação pela sociedade das tecnologias desumanizadoras é feita, entre outros meios, através da chamada “Janela de Overton”.
Nesse processo de engenharia social, uma ideia que inicialmente era intolerável, transforma-se numa possibilidade por meio da sua divulgação massiva e elogiosa na imprensa; depois passa a ser uma verdade e, por fim, num consenso irrefutável. Vimos isso com o aborto e a eutanásia – podemos em breve ver o mesmo com a “legalização” da pedofilia ou das tecnologias transhumanas.
Outro “avanço” que nos quer privar do livre-arbítrio, é a sugestão de que os países possam ser governados por entidades de inteligência artificial (IA). A IA já permite a muitos países do mundo melhorar e refinar a censura online, com os governos autoritários tecnicamente mais avançados a usarem as inovações na tecnologia de chatbot de IA para “modelar” a opinião pública e as suas eleições.
O fundador e presidente do Fórum Económico Mundial, Klaus Schwab, afirmou há algum tempo em Davos que as nações em breve já não precisarão preocupar-se em realizar eleições. A IA é perfeitamente capaz de escolher os governos dos países, afirmou. Schwab disse preto no branco que “o próximo passo” para a tecnologia digital seria substituir os eleitores por uma entidade de IA.
Se a IA sabe o que todos estão a pensar e é capaz de influenciar as escolhas das pessoas, chegando a dada altura a fazer todas as escolhas por elas, então por que precisaríamos de nos preocupar com eleições? O mundo, então, já não seria composto por humanos, mas por transhumanos controlados remotamente.
É por isso que todos nós estamos a ser empurrados para aplicações digitais. Uma vez que todos sejamos transferidos para o mundo digital, seremos 100% controláveis pela pequena minoria de elites tecnocráticas e pelos políticos que estão às suas ordens.
Parece-lhe que isto são fantasias? Voltemos à Janela de Overton.
Desde que Schwab fez estas afirmações arrepiantes, a imprensa tem-se deliciado em antever o mundo governado por IA. São centenas de publicações entusiásticas, louvando a “eficácia” da inteligência artificial a governar, a substituir políticos, juízes e médicos com grande vantagem. Esta é uma das etapas em que uma coisa intolerável se torna aceitável.
Fomos de tal maneira preparados ’em lume brando’ para esta ideia que, em 2022, foi criado um partido na Dinamarca que é comandado por uma entidade de IA.
Na mesma linha, recentemente, um investigador luso-americano em Aprendizagem de Máquina, Pedro Domingos, no livro “Silicon Valley Satire” imaginou, com “finalidades educativas”, um candidato presidencial de inteligência artificial: o Presibot. E faz uma afirmação inacreditável: “O Presibot 2.0 é o que penso que a IA deverá vir a ser, com crowdsourcing em tempo real, o que leva a uma democracia que funciona muito melhor do que aquela que temos hoje”.
Forçar a humanidade a “colaborar”
Klaus Schwab diz abertamente aos seus seguidores nas elites que chegou o momento de “forçar” a humanidade a entrar num mundo governado pela IA e por outras tecnologias transhumanas, ou melhor, desumanas. Ele afirmou que a introdução da agenda globalista exigirá que a humanidade seja “forçada” a uma “colaboração” com a sua organização não eleita.
Schwab fez a declaração no discurso de abertura da reunião anual do FEM “Davos de Verão”, em Junho deste ano em Dalian, China.
O jornalista de investigação Leo Hohmann descreveu assim a reunião das elites: “Klaus Schwab elogiou a China pelas suas políticas económicas, que são vistas pelos globalistas como o modelo de planeamento centralizado de cima para baixo num estado de vigilância de alta tecnologia, gerido através de cidades inteligentes, veículos eléctricos inteligentes, casas inteligentes, electrodomésticos inteligentes, IA, identidades digitais e CBDCs, que têm todos eles uma coisa em comum – vêm com interruptores on-off que não estão sob o controlo do utilizador final. Schwab elogia as chamadas tecnologias da Quarta Revolução Industrial. É por isso que não precisam de tanta gente no planeta como no passado. A IA realizará a maior parte das tarefas para as elites. Elas não precisam de tantos escravos humanos”.
Acrescentaria que esta nova tecnologia é tão “boa” que as maiores atrocidades das duas guerras em curso, com as quais levamos as mãos à cabeça, são precisamente planeadas e executadas com a sua ajuda.
Não tenho ilusões de que provavelmente o mundo caminhará para uma ditadura global. Talvez venha a ser povoado por pessoas que não se importarão com isso, que viverão despreocupadas no seu campo de concentração digital. Pessoas que talvez já não pensem por si próprias, mas por meio de ideias geradas por implantes cerebrais. Talvez essas pessoas sejam felizes à sua maneira. Mas eu não quero viver nesse mundo.
Cristina Mestre
Psicóloga e tradutora
Licenciada em Neuropsicologia pela Universidade de Moscovo (MGU), nos últimos anos tem trabalhado principalmente em agências de notícias do Leste da Europa.
Ver também da mesma autora:
Os governos acham que somos parvos? – The Blind Spot
As raízes soviéticas das cidades de 15 minutos – The Blind Spot
Rússia e Fórum Económico Mundial: adversários ou parceiros? – The Blind Spot