Seremos a última geração livre? Pergunte a Davos

ByCristina Mestre

3 de Outubro, 2024 ,

Na reuniĆ£o do Forum Económico Mundial em junho Ćŗltimo, reiterou-se a tendĆŖncia do momento: ā€œForƧar os Comportamentosā€. Neste ā€œDavos de VerĆ£oā€, elites nĆ£o eleitas, que controlam polĆ­ticos e elites tecnocrĆ”ticas, estĆ£o de acordo com o futuro da sociedade global digital, e cujo interruptor ON-OFF Ć© controlado Ć  distĆ¢ncia, com o recurso Ć s tecnologias da Quarta Revolução Industrial. Ou seja, um novo modelo de democracia, gerida pela InteligĆŖncia Artificial, mas cujo controlo Ć© subtraĆ­do ao utilizador final – o cidadĆ£o.Ā 

Nas Ćŗltimas dĆ©cadas, tĆŖm tentado ā€œdigitalizar-nosā€ Ć  forƧa. Vejo isso na geração mais jovem: eles acham que quem nĆ£o usa o mĆ”ximo de serviƧos digitais Ć© um atrasado cidadĆ£o de segunda. Querem que faƧamos tudo digitalmente – que realizemos compras online; paguemos tudo com apps; tomemos notas só no telemóvel; tenhamos todos os exames mĆ©dicos e medicação online; coloquemos os dados cardĆ­acos e as horas de dormir em aplicaƧƵes ou gadgets de saĆŗde. Tudo isto porque, supostamente, Ć© mais cómodo. Infelizmente, tambĆ©m eu jĆ” faƧo algumas dessas coisas. NĆ£o Ć© segredo que todas as informaƧƵes privadas, uma vez online, podem servir para controlar-nos. Isto porque virtualmente passam a ser acessĆ­veis a muita gente, alguma da qual nem sonhamos; e tambĆ©m nĆ£o sabemos o que fazem com essa informação (mas desconfiamos).  

Muito provavelmente, estas reflexões deixarão de preocupar a geração seguinte: ela jÔ serÔ formatada para achar que o controlo e a manipulação são uma coisa inevitÔvel, que a falta de liberdade não importa, e que os implantes cerebrais são algo vantajoso. 

Os meus filhos, daqui a 20 anos ou menos, jÔ poderão ser transhumanos.  

Quando o intolerÔvel se torna aceitÔvel 

Que caminho nos preparam? A aceitação pela sociedade das tecnologias desumanizadoras Ć© feita, entre outros meios, atravĆ©s da chamada  ā€œJanela de Overtonā€.Ā 

Nesse processo de engenharia social, uma ideia que inicialmente era intolerĆ”vel, transforma-se numa possibilidade por meio da sua divulgação massiva e elogiosa na imprensa; depois passa a ser uma verdade e, por fim, num consenso irrefutĆ”vel. Vimos isso com o aborto e a eutanĆ”sia – podemos em breve ver o mesmo com a ā€œlegalizaçãoā€ da pedofilia ou das tecnologias transhumanas.  

Outro ā€œavanƧoā€ que nos quer privar do livre-arbĆ­trio, Ć© a sugestĆ£o de que os paĆ­ses possam ser governados por entidades de inteligĆŖncia artificial (IA). A IA jĆ” permite a muitos paĆ­ses do mundo melhorar e refinar a censura online, com os governos autoritĆ”rios tecnicamente mais avanƧados a usarem as inovaƧƵes na tecnologia de chatbot de IA para ā€œmodelarā€ a opiniĆ£o pĆŗblica e as suas eleiƧƵes.Ā 

O fundador e presidente do Fórum Económico Mundial, Klaus Schwab, afirmou hĆ” algum tempo em Davos que as naƧƵes em breve jĆ” nĆ£o precisarĆ£o preocupar-se em realizar eleiƧƵes.  A IA Ć© perfeitamente capaz de escolher os governos dos paĆ­ses, afirmou. Schwab disse preto no branco que ā€œo próximo passoā€ para a tecnologia digital seria substituir os eleitores por uma entidade de IA.Ā 

Se a IA sabe o que todos estão a pensar e é capaz de influenciar as escolhas das pessoas, chegando a dada altura a fazer todas as escolhas por elas, então por que precisaríamos de nos preocupar com eleições? O mundo, então, jÔ não seria composto por humanos, mas por transhumanos controlados remotamente. 

Ɖ por isso que todos nós estamos a ser empurrados para aplicaƧƵes digitais. Uma vez que todos sejamos transferidos para o mundo digital, seremos 100% controlĆ”veis pela pequena minoria de elites tecnocrĆ”ticas e pelos polĆ­ticos que estĆ£o Ć s suas ordens.Ā 

Parece-lhe que isto sĆ£o fantasias? Voltemos Ć  Janela de Overton.  

Desde que Schwab fez estas afirmaƧƵes arrepiantes, a imprensa tem-se deliciado em antever o mundo governado por IA. SĆ£o centenas de publicaƧƵes entusiĆ”sticas, louvando a ā€œeficĆ”ciaā€ da inteligĆŖncia artificial a governar, a substituir polĆ­ticos, juĆ­zes e mĆ©dicos com grande vantagem.  Esta Ć© uma das etapas em que uma coisa intolerĆ”vel se torna aceitĆ”vel.Ā 

Fomos de tal maneira preparados ’em lume brando’ para esta ideia que, em 2022, foi criado um partido na Dinamarca que Ć© comandado por uma entidade de IA.Ā 

Na mesma linha, recentemente, um investigador luso-americano em Aprendizagem de MĆ”quina, Pedro Domingos, no livro ā€œSilicon Valley Satireā€ imaginou, com ā€œfinalidades educativasā€, um candidato presidencial de inteligĆŖncia artificial: o Presibot. E faz uma afirmação inacreditĆ”vel:  ā€œO Presibot 2.0 Ć© o que penso que a IA deverĆ” vir a ser,  com crowdsourcing em tempo real, o que leva a uma democracia que funciona muito melhor do que aquela que temos hojeā€.  

ForƧar a humanidade a ā€œcolaborarā€Ā 

Klaus Schwab diz abertamente aos seus seguidores nas elites que chegou o momento de ā€œforƧarā€ a humanidade a entrar num mundo governado pela IA e por outras tecnologias transhumanas, ou melhor, desumanas. Ele afirmou que a introdução da agenda globalista exigirĆ” que a humanidade seja ā€œforƧadaā€ a uma ā€œcolaboraçãoā€ com a sua organização nĆ£o eleita.  

Schwab fez a declaração no discurso de abertura da reuniĆ£o anual do FEM ā€œDavos de VerĆ£oā€, em Junho deste ano em Dalian, China.Ā 

O jornalista de investigação Leo Hohmann descreveu assim a reuniĆ£o das elites: ā€œKlaus Schwab elogiou a China pelas suas polĆ­ticas económicas, que sĆ£o vistas pelos globalistas como o modelo de planeamento centralizado de cima para baixo num estado de vigilĆ¢ncia de alta tecnologia, gerido atravĆ©s de cidades inteligentes, veĆ­culos elĆ©ctricos inteligentes, casas inteligentes, electrodomĆ©sticos inteligentes, IA, identidades digitais e CBDCs, que tĆŖm todos eles uma coisa em comum – vĆŖm com interruptores on-off que nĆ£o estĆ£o sob o controlo do utilizador final. Schwab elogia as chamadas tecnologias da Quarta Revolução Industrial. Ɖ por isso que nĆ£o precisam de tanta gente no planeta como no passado. A IA realizarĆ” a maior parte das tarefas para as elites. Elas nĆ£o precisam de tantos escravos humanosā€.  

Acrescentaria que esta nova tecnologia Ć© tĆ£o ā€œboaā€ que as maiores atrocidades das duas guerras em curso, com as quais levamos as mĆ£os Ć  cabeƧa, sĆ£o precisamente planeadas e executadas com a sua ajuda.   

NĆ£o tenho ilusƵes de que provavelmente o mundo caminharĆ” para uma ditadura global. Talvez venha a ser povoado por pessoas que nĆ£o se importarĆ£o com isso, que viverĆ£o despreocupadas no seu campo de concentração digital. Pessoas que talvez jĆ” nĆ£o pensem por si próprias, mas por meio de ideias geradas por implantes cerebrais. Talvez essas pessoas sejam felizes Ć  sua maneira. Mas eu nĆ£o quero viver nesse mundo.  

Cristina MestreĀ 

Psicóloga e tradutora 

Licenciada em Neuropsicologia pela Universidade de Moscovo (MGU), nos Ćŗltimos anos tem trabalhado principalmente em agĆŖncias de notĆ­cias do Leste da Europa.  

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