Henrique Lopes, diretor do NOVA Center for Global Health (da NOVA IMS), reconheceu que a ideia de uma poupança de 245 milhões para o Estado com a inclusão de novas vacinas para adultos não tem qualquer fundamento e que os média confundiram “custos com ganhos”. De recordar que vários órgãos de comunicação social, entre os quais a RTP e a SIC Notícias, parceira do projeto +Longevidade, veicularam informações falsas sobre um suposto estudo elaborado pelo think-tank (iniciativa da NOVA IMS) que suportaria essa poupança. Henrique Lopes defende a campanha de “sensibilização” para que estas novas vacinas sejam comparticipadas pelo Estado e desvaloriza a questão financeira. Prometeu ainda divulgar os documentos que deram azo a estas notícias há mais de cinco meses, mas que ainda não foram divulgados.
Desde maio deste ano que o The Blind Spot tem escrutinado a cobertura mediática em torno de um “estudo” segundo o qual, de acordo com vários jornais mainstream, a inclusão de novas vacinas para adultos no Plano de Vacinação permitiria ao Estado poupar 245 milhões de euros. Na altura, alguns dos principais órgãos de comunicação social, como o Diário de Notícias, a Sábado, a SIC Notícias, a RTP e a TSF, noticiaram esta suposta poupança como tendo sido uma conclusão saída do projeto + Longevidade – um think-tank lançado pelo NOVA Center for Global Health (da NOVA IMS) para refletir sobre a vacinação em idade adulta.
E, já mesmo depois de os próprios investigadores envolvidos terem desmentido as manchetes a respeito desta análise, no final do mês passado alguns títulos reforçaram a tese de ganhos económicos para o erário público com mais vacinas. Agora, é o próprio diretor do NOVA Center for Global Health, Henrique Lopes, a assumir que a ideia de uma alegada poupança é um “disparate”. Com efeito, considerando que a comunicação social confundiu “custos com ganhos”, Henrique Lopes reconheceu que os “245 milhões” referidos pela imprensa correspondem a uma estimativa geral de custos (públicos e privados), e que só o gasto do Estado com a compra dessas vacinas se aproximaria desse valor – caso viessem mesmo a ser incluídas no Plano Nacional de Vacinação.
Conflitos de interesse e atrasos na divulgação
Questionado sobre o patrocínio da GlaxoSmithKline (GSK) ao Projeto + Longevidade, Henrique Lopes garantiu que os investigadores não recebem contrapartidas financeiras diretas, e que aquela farmacêutica ‘apenas’ cobre as despesas com o estudo.
Para o investigador, não vale a pena procurar “santos e demónios”, porque ninguém está aqui para perder. Nesse sentido, lembrou que entre 90% a 95% dos estudos científicos são realizados pelas farmacêuticas. Ainda assim, defende a importância destas vacinas na saúde dos mais velhos e o investimento nas mesmas.
Quanto ao motivo para a análise ter sido noticiada antes de ter sido divulgada publicamente, o diretor do laboratório da NOVA IMS refere que ainda foram apenas apresentadas “conclusões” do think-tank, mas assegurou que o relatório que até à data ainda não foi divulgado, deverá ser tornado público em breve.
Ao The Blind Spot, que por várias vezes, ao longo dos últimos cinco meses, solicitou o acesso à análise, ao relatório, e ao comunicado de imprensa, Henrique Lopes assumiu o compromisso de enviar os documentos.
O evento “+Longevidade: A vacinação do adulto como prioridade da saúde e da economia”, que servirá para apresentar a iniciativa, terá lugar no dia 18 de novembro na sede do grupo Impresa.
Ver também:
Fact-checkers ‘ignoram’ “estudo-fantasma” desmentido pelos próprios investigadores – The Blind Spot