Skip to content

Lobistas da indústria alimentar organizam-se para boicotar as promessas de Robert Kennedy Jr.

Vários órgãos de comunicação social americanos têm reportado o ‘nervosismo’ da indústria alimentar depois da nomeação de Robert Kennedy Jr. para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos. Se a decisão de Donald Trump for confirmada pelo senado americano (com maioria dos republicanos), antecipa-se que Kennedy irá combater o consumo de alimentos ultraprocessados, que considera serem responsáveis pela epidemia de obesidade, diabetes e outras doenças na sociedade americana. Por ter declarado guerra à “Big Food”, os lobistas em Washington D.C. já se estão a posicionar para evitar que o futuro líder do Departamento de Saúde ponha em risco os interesses das grandes empresas alimentares.  

Figura muito vocal contra a indústria dos alimentos processados, o ex-candidato presidencial Robert Kennedy Jr. juntou-se à campanha de Donald Trump com o lema “Make American Healthy Again” [Fazer a América Saudável Novamente]. Nas redes sociais, denunciou os malefícios dos óleos vegetais, dos pesticidas e dos aditivos e corantes alimentares, como o Yellow 5, presentes em inúmeros produtos consumidos diariamente pelos americanos. 

E alertou que, nos Estados Unidos, “74% dos adultos agora têm excesso de peso ou obesidade, incluindo 50% das nossas crianças”. Para Kennedy, este problema de saúde pública deve-se, sobretudo, aos alimentos ultra-processados e aos “químicos tóxicos” presentes nos alimentos, medicamentos e no ambiente.  

Após ter vencido as eleições, Trump escolheu RFK Jr. para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), que supervisiona as autoridades de saúde americanas, como o National Institutes of Health (NIH), o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), e a Food and Drug Administration (FDA). Caso seja confirmado no cargo, Kennedy, que considera que os americanos são “envenenados em massa” pela ‘Big Pharma’ e pela ‘Big Food’, já garantiu que irá tornar novamente as agências de saúde americanas em “agências de cura e saúde pública”. 

Movimentações da indústria alimentar e dos seus lobistas 

Desde que foi nomeado por Trump, muito tem sido dito sobre as suas polémicas posições acerca dos riscos das vacinas. Mas se as ações das principais farmacêuticas caíram a pique depois da sua nomeação, a prospetiva de o ter à frente do HHS tem ‘assustado’ também a indústria alimentar (Kennedy apelida-a de “Big Food”), e os seus lobistas.  

De facto, na passada sexta-feira, dia 15, a nomeação de RFK Jr. fez também cair as ações de conhecidas marcas de alimentos processados Entre vários exemplos, foi o caso da PepsiCo e da Coca-cola, dos cereais Cheerios e da Lamb Weston, que fornece batatas congeladas a grandes cadeias de restaurantes como McDonald’s e o Chick-fil-A.

Face a este cenário, o jornalista Lee Fang, do portal RealClearInvestigations, noticiou que vários representantes de empresas que comercializam snacks, bebidas açucaradas, e óleos vegetais já começaram a discutir maneiras de ‘gorar’ as intenções de Robert Kennedy. Também o jornal POLITICO reportou, no final do mês passado, os esforços encetados pelos grupos de interesse e de lobbying da indústria em resposta à nomeação. 

Ainda em outubro passado, a Invariant, uma firma governamental que presta consultoria a empresas do ramo alimentar, já terá alertado os seus clientes – que incluem o McDonald’s – sobre a crescente influência de Kennedy sobre Trump e o Partido Republicano. 

Num comunicado, os lobistas terão avisado que o movimento ‘MAHA’ encabeçado por Kennedy “tem ganhado cada vez mais força entre figuras conservadoras que têm tido um interesse mais vocal na forma como os alimentos são produzidos e regulados”.  

Por seu turno, a American Farm Bureau, que representa empresas de pesticidas, disse estar a “combater desinformação” espalhada por variadas fontes; nomeadamente, Robert Kennedy Jr. 

Caso Kennedy cumpra com a sua palavra, a indústria alimentar terá mesmo motivos para temer o pior. A 25 de outubro, em entrevista à MSNBC, o novo aliado de Trump declarou que a “guerra da Food and Drug Administration à saúde pública está prestes a terminar”, e alegou que o departamento de Nutrição daquela agência “não está a fazer o seu trabalho”, nem a “proteger as crianças”.  

Tendo denunciado, várias vezes, aquilo que vê como conflitos de interesse e portas giratórias, Kennedy prometeu substituir 600 funcionários da FDA, e comprometeu-se a alterar o seu financiamento, para que venha maioritariamente dos contribuintes, e não da indústria farmacêutica – que atualmente representa 75% do financiamento.  

Fontes: 

Food Lobbyists Plot to Have It Their Way With RFK Jr. | RealClearInvestigations 

Sens Voting On RFK Jr. Raked In Millions From Pharma 

Food stocks fall as investors brace for increased scrutiny from RFK Jr. 

A world without seed oils and pesticides? The food industry braces for RFK Jr. era – POLITICO

Compre o e-book "Covid-19: A Grande Distorção"

Ao comprar e ao divulgar o e-book escrito por Nuno Machado, está a ajudar o The Blind Spot e o jornalismo independente. Apenas 4,99€.