É por demais evidente que as grandes redes sociais criaram mecanismos de controlo do discurso que vão bem para além da simples luta contra a propagação de informações falsas.
Com algumas nuances, todas têm mecanismos de favorecimento de certos grupos (políticos, ideológicos, financeiros), em particular, os ligados ao poder instituído.
Usam para isso algoritmos para promover ou esconder conteúdos ou, até, pseudo fact checkers para suportar a censura de tudo que contraria a versão oficial. Pelo contrário, informações falsas ou distorcidas são toleradas ou mesmo promovidas, desde que se enquadrem na narrativa certa.
Com esta realidade, a nossa tendência imediata é a de abandonar este tipo de plataformas, até porque já existem outras que protegem a liberdade de expressão.
Mas esse impulso pode não ser a melhor decisão por várias razões.
Em primeiro lugar, apesar dos mecanismos de censura existentes, é nestas redes sociais que um número enorme de pessoas tem acesso a informação distinta do que a que é passada na comunicação social mainstream, nos motores de busca (Google) ou até na Wikipédia.
Mesmo outras instituições, outrora mais independentes, estão cada vez mais em consonância com as narrativas dominantes, como universidades e outras entidades com dependências diretas, ou indiretas, do poder.
Por isso mesmo, não é por acaso que existe esta cruzada específica contra a desinformação nas redes sociais. É aqui que a divulgação de informação “desconfortável” é mais difícil de controlar e em que o seu impacto é maior.
Mesmo a censura que existe serve, muitas vezes, para aumentar o debate sobre o que foi censurado. Quando não existe fundamento, o efeito é muitas vezes o oposto ao pretendido. Infelizmente, o mesmo já não se pode dizer na despromoção da visibilidade de certos conteúdos.
Em segundo lugar, é nestas redes que é possível, ainda assim, algum tipo de troca de informações e ideias entre pessoas com posições muito diferentes.
Alguns, por nem sempre discutirem da forma mais tolerante, sobressaem. Mas muitos, bem menos notados, estão disponíveis para ouvir, discutir e integrar ideias contrárias.
Em terceiro lugar, apesar de existirem diferenças entre as grandes redes sociais (como revelado na recente entrevista de Zuckerberg), a grande pressão para a censura parece vir de fora.
São alguns governos e entidades não governamentais, como o Fórum Económico Mundial que têm publicamente criticado as redes sociais por fazerem pouco para combater o que eles dizem ser “desinformação”.
Em quarto lugar, as novas redes sociais enfrentam desafios muito importantes e que limitam no seu crescimento e impacto real.
Por outro lado, algumas delas têm absorvido principalmente pessoas com posições semelhantes . Sem o necessário contraditório, isso tem conduzido a uma radicalização de posições e a uma linha de pensamento convergente.
Desta forma, apesar de serem essenciais para a divulgação de informações que são indevidamente censuradas, têm-se infelizmente também tornado câmaras de ressonância.
Em conclusão, a saída de quem se sente (justificadamente) mal tratado, serve para limitar ainda mais a discussão e a conduzir a uma sociedade mais radical e polarizada
O que fazer então?
Não existindo soluções perfeitas, parece-me que o ideal é a permanência nas grandes plataformas, contornando de modo inteligente os constrangimentos conhecidos.
Como complemento, aceder às novas redes sociais que permitem o acesso e a divulgação de conteúdos limitados, ou vedados, nas tradicionais.
É apenas nas grandes redes que a maioria das pessoas pode ter acesso a ideias e a dados, que são fundamentais para melhor compreensão da realidade que vivemos.
Também é nelas que nos podemos confrontar com perspetivas alternativas, discutir e aprender com os outros.
Precisamos de todos que estão abertos a essa discussão.
Apesar de tudo, as grandes redes sociais ainda são um lugar privilegiado para a termos.