(Co)incidentes (intro)missƵes Geo polƭticas no nosso quotidiano

ByBruno Monarca

3 de Novembro, 2022

Com este texto pretendo colocar o dedo na ferida exposta que nos incomoda profundamente, ainda que alguns a tentem ignorar, uma vez que estou em querer que as coincidĆŖncias e acontecimentos observados ao longo dos Ćŗltimos meses tĆŖm contribuĆ­do significativamente para o desmantelar das sociedades e para a qualidade de vida dos povos, tal como as conhecemos e concebemos. Por isso mesmo, julgo que estĆ” na hora de fazer uma sĆ©ria reflexĆ£o, baseada em dados que nos permita entender ou tirar as ilaƧƵes necessĆ”rias para nos apercebermos que hĆ” sim, interferĆŖncias externas, responsĆ”veis pelo clima que se tem vivido e continuarĆ” a viver no mundo. Por isso parece ser de todo legĆ­timo analisar Ć  luz dos acontecimentos mais recentes, quais as consequĆŖncias que virĆ£o jĆ” neste inverno e que se prolongarĆ£o por vĆ”rios momentos no mundo inteiro. Por outras palavras parece ser conveniente abordar o estado da arte do tal VUCA, que tanto hoje se fala com base nos dados que temos, para entendermos o verdadeiro patchwork que compƵe a polĆ­tica internacional atual, e a forma como isso nos afeta e nos conduz, rumo a um novo recomeƧo, sendo cada parte unitĆ”ria uma componente fundamental do ā€œpadrĆ£oā€ que só serĆ” visĆ­vel por todos, Ć  medida que as peƧas forem sendo adicionadas. SerĆ” revelado para todos entĆ£o, o desenho que nos estĆ” a ser mostrado hĆ” meses mas que só alguns jĆ” o entenderam..

A teoria do caos, inicialmente e de forma equivocada afirma que os acontecimentos ocorrem isolados, sem qualquer ligação entre si. Mas, à medida que estes se sucedem e se adensam, percebemos claramente que tudo estÔ interligado. Parece-nos servir de bússola, para recuperarmos o norte e encontrarmo-nos desde que, claro, façamos o nosso caminho com uma mente e espírito abertos e sem preconceitos ou tabus limitadores que nos impeçam de ver o óbvio, as verdades incómodas ou como, dizem os ingleses, aquilo que estÔ hidden in plain sight (escondido mesmo à nossa frente). 

Para isso, socorro-me dos eventos absolutamente frenĆ©ticos, desde 2019 a esta parte, que foram ocorrendo neste mundo VUCA, como vĆ”rios afirmam de um ponto de vista conformado e desculpabilizador dos acontecimentos. O primeiro, se bem se recordam, foi o (conveniente) encalhamento do navio EverGreen num dos maiores canais de comĆ©rcio durante vĆ”rios dias que desestabilizou o comĆ©rcio internacional por via marĆ­tima e criou um ā€œtampĆ£oā€ no canal do Suez que fez com que os preƧos do frete (transporte) aumentassem para nĆ­veis que hĆ” data, ainda nĆ£o foram repostos. Isto, precisamente durante a Ć©poca em que o elefante na sala – a pandemia de covid-19 – impedia a produção e a indĆŗstria por via de Lockdowns draconianos, e estava, para continuar com a metĆ”fora, a partir todos os ā€œcristaisā€ da democracia e a destruir qualquer noção de liberdade e garantias individuais adquiridas, para abreviar, impondo inĆŗmeras leis que violavam claramente o estado de direito dos paĆ­ses.

Mas nunca talvez como agora. as recorrentes (co)incidências políticas na vida dos países e dos cidadãos que dÔ título a este artigo foram tão descaradas e notórias. Desde logo, as sanções europeias à Rússia numa altura em que havia uma excessiva dependência da segunda que precipitaram a Europa numa crise energética sem precedentes. O segundo é consequência dessa atitude foi de lÔ para cÔ as constantes e convenientes avarias no Nord Stream até à sua avaria final que, com estrondo, abafado pelo mar, fez tremer e suscitou um medo visceral nas pessoas que anteviram o que aí vinha. Agora, e de forma inédita, foi a vez da Nigéria que estaria a fornecer LNG para países como Portugal que iria permitir que este fosse poupado a um desastre maior (dado que a sua exposição aos gasodutos afectados era parca comparativamente aos países do norte), ser assola(pa)da por uma intempérie que irÔ segundo as notícias reduzir a entrega do gÔs à Galp significativamente.

Ɖ como se as alteraƧƵes climĆ”ticas pudessem de facto selecionar muito bem, no tempo e no espaƧo de forma inteligente, e ter o timing perfeito, para criar problemas e perturbaƧƵes em locais estratĆ©gicos, na pior altura possĆ­vel. Ɖ como se a lei de Murphy que prescreve que, tudo o que pode suceder, sucederĆ” na pior altura possĆ­vel, viesse em esteróides para nos assombrar. ƀ parte de teorias cientĆ­ficas que requerem probidade universalizante, para serem considerados vĆ”lidas e lei, o certo Ć© que hoje, mais do que nunca, a geopolĆ­tica e os acontecimentos estĆ£o a concorrer para destruição das civilizaƧƵes tal como as conhecemos e temo, que as coincidĆŖncias,. que agora comeƧam a ficar claras e Ć  vista de todos, possam prosseguir o seu caminho, na certeza porĆ©m que cada vez mais serĆ” notória a ligação que estas tĆŖm entre si. Quem ainda nĆ£o estĆ” a ver, ou continua a achar que isto Ć© obra do acaso, nĆ£o se preocupe, que em breve irĆ” ver.Ā  AtĆ© porque, serĆ” humanamente impossĆ­vel esconder as relaƧƵes estabelecidas ao longo desta cadeia durante muito mais tempo. AtĆ© lĆ”, e enquanto isso nĆ£o acontece, sou só mais um chalupa a escrever algo que poderĆ” ou nĆ£o ser qualquer coisa e ter validade, sei lĆ” eu. Mas, por via das dĆŗvidas, escrevo pois mais vale prevenir do que vir a remediar mais tarde.

Bruno Monarca

Consultor e Gestor