Na sociedade moderna, a descrenƧa em Deus abriu um espaƧo gigante para a omnipresenƧa do risco que passou, paulatinamente, a regular todas as acƧƵes no mundo da vida. O conceito de risco, na sua categorização, contempla a dimensĆ£o de vulnerabilidade e perigo que, naturalmente, sempre esteve presente no quotidiano dos povos, mas devido Ć falta de conhecimento cientĆfico e desenvolvimento tecnológico, os povos primitivos assolados pelas catĆ”strofes atribuĆam as suas desgraƧas Ć punição divina. A antecipação da catĆ”strofe adquiriu uma importĆ¢ncia capital na nossa sociedade moderna, que Ć© integrada sob o pressuposto de risco no domĆnio das organizaƧƵes sociais modernas no Ć¢mbito: polĆtico, jurĆdico, cientĆfico e territorial. A avaliação do risco passou a ser equacionada com base na premissa: Risco = Perigosidade * Vulnerabilidadeā. (A equação das premissas que contemplam a (vulnerabilidade e perigo) permite que os riscos sejam geridos e mitigados. āQuando esta probabilidade de ocorrĆŖncia perigosa se conjuga com a estimativa das suas consequĆŖncias sobre pessoas, bens ou ambiente, contabilizĆ”veis atravĆ©s dos danos e prejuĆzos causados de forma direta ou indireta (corporais, materiais e funcionais) estamos a falar de riscoā (Almeida, 2005, p.47).Ā A noção e controlo do risco, paulatinamente, tem definido novas formas de governanƧa, nĆ£o só na dimensĆ£o geogrĆ”fica dos paĆses, mas no mundo em constante transformação.
Governança na gestão dos riscos
Se recordarmos os ataques terroristas ocorridos nos Estados Unidos da AmĆ©rica, a 11 de Setembro de 2001, verificamos que os governos de todo o mundo, devido aos ataques ocorridos adoptaram medidas restritas de seguranƧa na vida quotidiana dos cidadĆ£os e na circulação das pessoas dentro e fora dos domĆnios territórios. Na perspectiva de Ulrich Beck, autor da obra: Sociedade de Risco Mundial, āOs riscos dizem respeito Ć possibilidade de acontecimentos e desenvolvimentos futuros, tornam presente um estado do mundo que (ainda) nĆ£o existeā (Beck,1996, p.31). A gestĆ£o dos riscos assume-se como norma de regulação da vida humana no universo institucional e social. As agendas polĆticas sĆ£o (agora) marcadas pelas ideologias de gĆ©nero e alteraƧƵes climĆ”ticas, que agilizaram o papel do Estado na regulação e controlo nas esferas privada e na saĆŗde pĆŗblica visando a seguranƧa ilusória de todos os cidadĆ£os.
Comunicação Social
O universo cosmopolita da encenação da catĆ”strofe, na comunicação social, adquiriu uma espĆ©cie de espectĆ”culo que visa suscitar a emoção dos espectadores. O marketing comunicativo passou a ter maior redundĆ¢ncia no pĆŗblico do que o conteĆŗdo. o espetĆ”culo televisivo carregado de emoção suscita os fantasmas do inconsciente colectivo nos indivĆduos, O constante apelo Ć heurĆstica afectiva dos indivĆduos cria a expectativa cimentada numa espĆ©cie de (medo) difuso, sensação de incerteza face ao desconhecido, que leva os indivĆduos a exigirem medidas restritivas aos governantes. O exemplo prĆ”tico da hiperbolização do risco do Sars-CoV2 difundida exaustivamente pelos media (mainstream) levou os indivĆduos Ć exacerbação do mecanismo irracional do medo Ć morte iminente, cujos Ā Ā governantes alegremente restringiram direitos, liberdades e garantias para conter a histeria colectiva.
Liberdade Individual e Democracia
A representação simbólica de uma expectativa cognitiva ameaƧadora levou os cidadĆ£os a pedirem e aceitarem pacificamente a privação das suas liberdades individuais em troca de uma seguranƧa imaginĆ”ria. O estado de emergĆŖncia tornara-se no novo paradigma de governação a nĆvel mundial. O estado de excepção constitui espaƧo indefinido no seio da democracia, ao qual Giorgio Agamben denomina por espaƧo anónimo, coloca em causa as liberdades e garantias individuais adquiridos na democracia e selados na Constituição da RepĆŗblica Portuguesa de 1976[1]. A ampliação do risco na construção da narrativa (verdade) cientĆfica nos meios de comunicação social e nas redes sociais impeliu o mundo a acolher com agrado a prisĆ£o domiciliĆ”ria, desprovida de qualquer racionalidade crĆtica cientĆfica e devidamente alicerƧada na demonstração factual no campo empĆrico.
A Entrada da CiĆŖncia na Doxa
O que nós observĆ”mos, nos Ćŗltimos longos meses, foi uma argumentação baseada no apelo Ć emoção de que um perigo iminente, uma catĆ”strofe com milhƵes de mortos, anunciava Jorge Buesco, nos seus modelos matemĆ”ticos por estimativas, na ausĆŖncia total de provas demostradas na experiĆŖncia cientĆfica. Na Biologia Celular e Molecular todos souberam rapidamente, que o maldito vĆrus da Covid-19 faz parte das (classes de RNAs) sĆ£o macromolĆ©culas biológicas que formam cadeias simples, existentes nas cĆ©lulas eucarióticas comuns a todos os vĆrus. AliĆ”s, os humanos sĆ£o uma construção de diversos āRNAsā utilizados nos processos celulares, sobretudo na replicação de āDNAā responsĆ”veis pela Evolução das EspĆ©cies (1859). Este processo de assimilação de āRNAsā Ć© que permitiu a evolução das espĆ©cies cujo enunciado constitui a Teoria da Evolução das EspĆ©cie de Charles Darwin (1859). A Investigadora Maria Mota, da Universidade de Lisboa, deu uma entrevista logo no inĆcio da pandemia ao jornal Observador, advogando que, āNĆ£o entrem em pĆ¢nico que este vĆrus Ć© relativamente bonzinho.ā[2] Ā Em pleno SĆ©culo XXl, no topo do conhecimento cientĆfico e tecnológico, nas palavras hilariantes de Bernard Henri LĆØvy ā Pela primeira vez na História da Humanidade os perdigotos paralisaram a economia mundial! ā āA Cegueira colectiva, como no romance de JosĆ© Saramago, no qual uma misteriosa epidemia cega toda uma cidade ā(LĆØvy,2020, p.12)?Ā A racionalidade cientĆfica assume-se no espaƧo pĆŗbico por uma espĆ©cie de religiĆ£o na Covid cujos opositores da narrativa instaurada politicamente sĆ£o ostracizados no espaƧo pĆŗblico e nas redes sociais. O Planeta foi confinado numa espĆ©cie de laboratório cientifico-polĆtico radical digno de um filme de horror sobre o ensaio do totalitarismo moderno. No Ano de 2020, no Planeta Terra, os Daimons desembarcam para regular o discurso dos comuns mortais. Portanto, (verdade) absoluta existe e Ć© definida pelos deuses e a desinformação Ć© produto no mundo do vulgo e pertence Ć (Doxa). Perante a experiĆŖncia vivida no manicómio denominado Planeta Terra ā podemos concluir que a obra: o Alienista, o Dr. SimĆ£o Bacamarte Ć© a analogia ideal aos peritos do Infarmed na gestĆ£o da Covid-19. O Dr. SimĆ£o Bacamarte advoga que, āO principal nesta minha obra da Casa Verde Ć© estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificar-lhe os casos, descobrir enfim a causa do fenómeno e o remĆ©dio universal. Este Ć© o mistĆ©rio do meu coração. Creio que com isto presto um bom serviƧo Ć humanidadeā (Assis,2017, p.13).Ā
Maria João Carvalho
Licenciada em Filosofia, pós graduação em Biologia, mestranda na Faculdade de Economia de Coimbra.
Nota: A autora do artigo de opinião não segue o acordo ortogrÔfico.
[1] https://dre.pt/dre/legislacao-consolidada/decreto-aprovacao-constituicao/1976-34520775
[2] https://observador.pt/2020/04/18/nao-entrem-em-panico-virus-e-relativamente-bonzinho-diz-maria-manuel-mota-diretora-do-imm/
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