Israel Ć© eterno?

ByJose Pereira

25 de Outubro, 2024 ,

HĆ” dias alguĆ©m escreveu isto num grupo privado a que pertenƧo: ā€œIsrael Ć© eternoā€. Quando chegamos a este nĆ­vel de desnorte, vindo de pessoas com responsabilidades e que sĆ£o ouvidas, algo vai mesmo mal neste mundo louco. Ā 

O extremar de posições entre beligerantes e blocos é inaudito, acicatado pelos arautos das partes que explodem nos comentÔrios sentadinhos no conforto dos seus sofÔs, sem nunca meterem os pés na frente de batalha.  

Esta guerra (porque jĆ” Ć© disso que se trata), de consequĆŖncias imprevisĆ­veis e deĀ mortalidade exponencial, Ć© gizada nos corredores silenciosos do poder, nos restaurantes de luxo das grandes capitais, entre pratos de autor, whiskies ou cognacs vetustos e charutos que alimentariam aldeias. Ā 

Se fossem os filhos e os netos destes génios a morrer, provavelmente o discurso seria substancialmente diferente. Assim, são apenas mais uns pobres diabos que morrem.  Mas não, estes caricatos e empolados arrogantes, velhos de ideias talvez mais do  que de idade, não entendem que não podemos continuar a proscrever os pobres de  comida, os famintos de dignidade, os amputados da história.  

Não existem aqui nem aldeias olímpicas, como em 1972, nem câmaras de gÔs, como nos anos 30 e 40 do século passado. O que existe aqui é o puro desprezo por outros homens, iguais a nós, porque não comungam das nossas ideias, não fazem parte da nossa tribo ou nem se defendem das nossas sistemÔticas e continuadas agressões.  

O ā€œdireito Ć  sobrevivĆŖnciaā€, uma nova vertente do direito internacional para os poderosos que gostam de reescrever a história, nĆ£o existe para rohingyas, sĆ­rios, Ā berberes, haitianos, etĆ­opes, somalis, iemenitas, birmaneses, caxemires, palestinianos, Ā congoleses, aswadi e outros. Mas para ucranianos e israelitas (preferencialmente lourinhos e arianos), aĆ­ sim, temos vibrantes o ā€œdireito Ć  sobrevivĆŖnciaā€ e o ā€œdireito Ć  autodefesaā€. Ā 

CrÔpulas hipócritas, é o que somos todos nós, que tratamos irmãos como os mais desprezíveis seres vivos, apenas para alimentar a nossa gula de poder.  

Como se conseguem olhar no espelho? Como é possível que tudo seja resolvido pelo poder das armas, pela estatística das mortes, e que ainda alguém possa assumir toda esta vergonha como uma vitória? Metamos esses Bidens, Putins, Xis, Nethanyaus,  Stoltenbergs e afins, todos num campo de batalha e, aí sim, fogo à vontade.  

NĆ£o confundamos esta canalha com o sentimento de cada povo, puro ou genuĆ­no, seja ele ou nĆ£o o ā€œescolhidoā€. Enquanto tivermos estes abutres atraĆ­dos pelo cheiro a morte, nos gabinetes, nas televisƵes ou nos jornais, este serĆ” o nosso destino, mas tambĆ©m o nosso fim.Ā 

José Alberto Pereira 

PhD, Wagner Watch Project, Observatório de SeguranƧa & Defesa SEDES Professor UniversitĆ”rioĀ