Tudo começou com um esfaqueamento. Eu sei que aconteceu na quinta-feira passada, mas parece que o público caiu numa amnésia seletiva e tudo o que retivemos foram os consequentes tumultos em Dublin. Como um livro que nos foi entregue sem as primeiras pÔginas, e do qual, por falta de contexto, apontamos o dedo ao vilão errado.
Nada de novo por estas bandas. As massas foram manipuladas da mesma forma com a guerra Rússia-Ucrânia, sendo-lhes dito que o conflito começou naquele abominÔvel dia em que o Kremlin decidiu atravessar a fronteira e não em 2014 com o golpe de estado em Kiev.
Voltemos Ć Irlanda e Ć leveza que um punhado de indivĆduos, incluindo duas crianƧas, provavelmente experienciou ao final de mais um dia, quando um homem argelino os atacou com uma faca. O motivo do crime mantĆ©m-se desconhecido. Algumas das vĆtimas acabaram de sair do hospital após vĆ”rios dias a lutar pelas suas vidas e nĆ£o conseguem falar. Certamente que os pequenitos nĆ£o terĆ£o quaisquer interacƧƵes anteriores a revelar que possam esclarecer os motivos ā se Ć© que existem, alguns para alĆ©m da maldade ā do magrebino.
De qualquer modo, os grandes meios de comunicação social não estariam interessados em ouvir as suas palavras. O rÔcio de artigos publicados que se referem ao esfaqueamento (ou, como lhe chamam, ao incidente, o que para mim seria mais adequado a um confronto entre gangs, ou algo do género) em relação aos tumultos é provavelmente 1 para 7.
O foco foi estrategicamente deslocado para a multidĆ£o que saiu Ć rua de forma agressiva. NĆ£o o vi em primeira mĆ£o, mas tendo crescido como filho de um sindicalista que participou ativamente em manifestaƧƵes pelos direitos dos trabalhadores e que se mostrava muitas vezes irritado com a infiltração de anarquistas a sabotarem a causa com violĆŖncia, estou em crer de que algumas pessoas estavam simplesmente a expressar o seu descontentamento com a imigração massiva no seu paĆs, enquanto os habituais arruaceiros Ā aproveitaram a porta aberta para se meterem em confusƵes e talvez receberem presentes de Natal de graƧa.
NĆ£o só os roubos, mas o nĆvel de caos fez-me lembrar os chamados protestos pacĆficos nos Estados Unidos na sequĆŖnciada morte de George Floyd (outro acontecimento cujos primeiros capĆtulos nĆ£o foram partilhados connosco, e que aparentemente nĆ£o comeƧou com um polĆcia a usar o joelho para deter pelo pescoƧo). Estes motins eram perfeitamente aceitĆ”veis para o establishment. As pessoas estavam nervosas por causa da pandemia e a comunidade negra nĆ£o conseguia lidar com o racismo sistemĆ”tico. Ponto final.
A multidĆ£o furiosa com o esfaqueamento de cinco indivĆduos, nĆ£o teve a supradita carta branca para expressar a sua raiva. Pelo contrĆ”rio, foram prontamente apelidados de āextrema-direitaā, um termo genĆ©rico e utilizado atualmente para descrever qualquer pessoa que se atreva a desobedecer Ć narrativa dominante.
As poucas menções que restaram sobre o esfaqueamento (desculpem flocos de neve, incidentes) remetem para o corajoso brasileiro que usou o seu capacete para evitar que a cena se agudizasse. Por uma vez na vida, a manada tem razão: ele é um herói. O rapaz não merece uma noite inteira de bejecas, mas bar aberto para o resto da vida.
Ć evidente que os elogios nĆ£o sĆ£o ingĆ©nuos. Ele estĆ” a ser usado como um Ćcone para defender o fluxo contĆnuo de imigração, em contraste Ć mensagem do povo que provocou os motins.
Intencionalmente ou não, a história estÔ claramente mal contada, deixando de fora o facto de um imigrante ter impedido outro imigrante de tirar a vida a inocentes. à evidente que este não é o momento de promover a diversidade e o multiculturalismo, mas sim de refletir sobre as nossas fronteiras e repor um critério firme.
Os principais meios de comunicação social e, por extensĆ£o, a população sem cĆ©rebro, estĆ£o mais preocupados com um autocarro queimado do que com uma crianƧa a batalhar pela sobrevivĆŖncia num hospital irlandĆŖs.Ā Mais um exemplo de amnĆ©sia selectiva, como vimos com a falta de empatia para com as vĆtimas de 7 de outubro, comparada com a interminĆ”vel solidariedade para com os habitantes de Gaza.
Tiro o chapƩu ao Caio, o motorista brasileiro da Deliveroo. A Irlanda precisa de tipos trabalhadores como ele para virilizar a sociedade. Que as nossas forƧas de seguranƧa ponham os capacetes para enfrentar as ameaƧas terroristas. A Europa estƔ farta de importar escumalha.