O número de utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) sem médico de família atinge já os cerca de 900 mil cidadãos, a esmagadora maioria na região de Lisboa e Vale do Tejo: 16,4% do total de inscritos nos centros de saúde não tinham médico assistente atribuído, em Abril.
Durante a Comissão de saúde, Marta Temido admitiu que a pandemia veio “agravar a situação”, mas que este aumento se deve essencialmente ao aumento das aposentações dos profissionais de saúde, ainda que estas estivessem previstas.
“Só este ano aconteceram mais de 100 aposentações de especialistas de medicina geral e familiar, mas, por outro lado, temos também mais 59 mil inscritos nos cuidados de saúde primários só neste quadrimestre. Muitos utentes cuja inscrição estava inativa, porque não eram utilizadores e reativaram a sua inscrição com a procura de cuidados de saúde e de vacinação”, disse.
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, disse ao Público que, de facto, estamos “em anos de picos de reformas”, mas sublinhou que “todos os anos muitas das vagas abertas pelo Ministério da Saúde para recém-especialistas em medicina geral e familiar ficam por preencher”.
Segundo a SIC Notícias, só o ano passado, dos 435 lugares disponíveis, mais de 100 ficaram sem candidatos
A ministra da saúde reconheceu que Portugal tem “um número de portugueses sem médico de família superior àquele que gostaríamos de ter”, e que este é um tema que tem de ser trabalhado pelo governo para “inverter a tendência”.
A ministra da saúde indicou que até ao final de junho serão colocados recém-especialistas em medicina geral e familiar nos cuidados de saúde primários, e avançou que está igualmente em curso a contratação de enfermeiros.
Os números do BI-CSP apenas disponibilizam dados até 2019. Na altura, o número de utentes sem médico de família estava nos 655 mil.
António Costa prometeu, em setembro de 2016, que todos os portugueses teriam um médico de família até ao final de 2017.
Esta meta foi revista depois em outubro de 2018 pela ministra da saúde, que prometeu que até ao final desse ano 94% dos portugueses teriam médico de família. A percentagem estava, em abril de 2021, nos 91%.
Esta meta foi novamente revista em maio de 2019, pela então secretária de Estado da Saúde, Raquel Duarte, que adiou essa promessa para 2020.
Marta Temido reconheceu esta reunião parlamentar que a meta não foi ainda alcançada, mas não indicou novas datas.