A imunidade das células T* é importante não só para a recuperação da Covid-19, como também para o reforço da imunidade em caso de reinfeção. Um estudo divulgado pela Nature analisa a memória das células T específicas do vírus – CD4+ e CD8+ – em doentes com Covid-19 recuperados e contactos próximos.
O estudo chega às seguintes conclusões:
– O tamanho e a qualidade das células T de memória dos doentes com Covid-19 são maiores e melhores que as dos contactos diretos. No entanto, a capacidade de proliferação, dimensão e a própria qualidade de resposta das células T existentes nos contactos próximos são distintas e facilmente identificáveis, face às de dadores saudáveis.
“Isto sugere que os contactos próximos são capazes de ganhar imunidade de células T contra a SARS-CoV-2, apesar de não apresentarem uma infeção detetável.”
– Os sujeitos assintomáticos e sintomáticos com Covid-19 possuem níveis semelhantes de células T específicas da SARS-CoV-2.
“Neste estudo, examinámos a capacidade de proliferação e ativação dos pools de células T de memória SARS-CoV-2 de uma grande coorte de doentes Covid-19 recuperados, contactos próximos, e indivíduos saudáveis não expostos. Os nossos resultados mostraram que os doentes Covid-19 e os contactos próximos desenvolveram memória imunitária de células T específicas da SARS-CoV-2. Além disso, foram detetados níveis comparáveis de células T de memória específica do SARS-CoV-2 nas amostras de assintomáticos e sintomáticos com Covid-19.”
Imunidade protetora
A maioria das infeções virais agudas resultam no desenvolvimento de uma imunidade protetora, mas os dados disponíveis sugerem que a memória protetora a longo prazo e robusta não é facilmente adquirida com infeções por coronavírus humano. A resposta humoral do SARS-CoV-1, por exemplo, foi relativamente curta e as células B de memória (produtoras de anticorpos) desapareceram rapidamente após a infeção primária.
Uma modelização matemática recente sugeriu uma curta duração (provavelmente <2 anos) da imunidade protetora após a infeção pelo SARS-CoV-2. Long et al. defenderam que os níveis específicos de IgG (anticorpos de longo prazo) viral de indivíduos infetados com SARS-CoV-2 tiveram uma redução de ~70% durante a fase inicial de convalescença, e sublinharam que uma proporção significativa de indivíduos (40% de doentes assintomáticos e 12,9% de doentes sintomáticos) tornaram-se seronegativos de IgG.
No entanto, no SARS-CoV-1, a magnitude e frequência das células T de memória CD8+ específicas, e em menor grau das células T de memória CD4+, persistiu durante 6-11 anos, sugerindo que as células T podem conferir imunidade a longo prazo.
De acordo com o estudo, e embora tenha sido relatado que células T específicas CD4+ e CD8+ do SARS-CoV-2 foram detetadas, respetivamente, em 100 e 70% dos doentes Covid-19 convalescentes, até ao momento continua a não ser muito claro o quão bem a memória das células T do SARS-CoV-2 está estabelecida, e como as células T de memória respondem após reexposição aos antigénios virais. Para além disto, é importante perceber se os contactos próximos, que tinham sido confirmados como negativos nos testes de ácido nucleico (NAT) e no rastreio de anticorpos, ganharam alguma imunidade das células T de memória após a exposição ao SARS-CoV-2.
* Célula T é um tipo de glóbulo branco com um papel essencial no sistema imunitário. Quando o organismo entra em contato com um agente infecioso, desenvolve as chamadas de células de memória, que futuramente, quando reconhecem esse agente infecioso, ativam as defesas para o combater.
As células CD4+ são auxiliares com especial função na ativação específica das defesas do organismo. As CD8+ são especializadas na destruição de células reconhecidas como anormais ou estranhas ao organismo.