Mais de 1,3 milhões de crianças em Itália vivem em situação de pobreza extrema, um cenário agravado pela pandemia.
Um relatório da organização Save the Children concluiu que o encerramento das atividades económicas, como medida de combate à pandemia, agravou significativamente a situação de muitas famílias – 13,6% das crianças e adolescentes no país vivem em condições de pobreza extrema, mais 209 mil que no ano passado (2019).
Segundo o relatório, citado pela Lusa, este cenário conduziu a um retrocesso para os níveis económicos registados em 2005.
Uma das consequências mais visível é a nível alimentar: “a crise económica reduziu o poder de compra de muitas famílias para assegurar uma dieta equilibrada para os seus filhos“.
A organização Save the Children destaca a importância das cantinas escolares como forma de assegurar uma nutrição adequada, mas sublinha que menos de metade das escolas (pré-primária, primária e secundária) oferecem serviço de cantinas (49,4%).
Nas regiões do sul do país, onde há menos cantinas, a percentagem de crianças com menos de 15 anos que não come uma porção de carne ou peixe e uma porção de fruta ou legumes por dia é de 4,1%, em comparação com 2,9% no centro e 1,7% no norte de Itália.
Para além disto, cerca de 20% dos pais de crianças e adolescentes que utilizam o serviço de cantina admitem que não conseguirão suportar este custo no próximo ano.
90% dos apoios vão para empresas. 2% para as crianças
A pobreza infantil vai permanecer acima dos níveis pré-covid durante pelo menos cinco anos nos países desenvolvidos, diz a Unicef.
O relatório revela que apenas 2% dos apoios financeiros durante a primeira vaga da Covid-19 se destinou a apoiar as crianças. Entre fevereiro e o final de julho de 2020, foi alocado um valor histórico de 10,8 mil milhões de dólares, para financiar a resposta à Covid-19 nos países desenvolvidos – 90% destinado a pacotes de apoio fiscal dirigidos a, ou através de, empresas.
“Embora sejam essenciais na resposta à crise, os apoios às empresas vão, inevitavelmente, excluir as crianças mais marginalizadas e as suas famílias, o que significa que as crianças que estão numa situação pior serão as mais afetadas”, diz a Unicef.
Dos países referidos no relatório que investiram em intervenções de proteção social para crianças e famílias – incluindo cuidados infantis, alimentação escolar e abonos de família – a maioria apenas o fez, em média, durante três meses.
“Estas medidas de curto prazo são completamente inadequadas para enfrentar a duração projetada da crise e os riscos de pobreza infantil a longo prazo”, diz o relatório.
Cenário em Portugal
Portugal criou, desde a primeira vaga, o complemento de estabilização e um abono de família extraordinário previstos no Programa de Estabilização Económica e Social. O Orçamento do Estado para 2021, prevê também medidas para proteger os rendimentos e reforçar a coesão social, como assegurar creche gratuita para mais crianças e a digitalização das escolas. Ainda assim, a Unicef Portugal pede urgência no reforço do Sistema de Proteção de Crianças, com medidas de médio e longo prazo, de combate à pobreza infantil.
De acordo com o relatório, em países como Portugal, Grécia ou Itália há uma forte relação entre a pobreza infantil e a escassez de investimento em prestações familiares e o desemprego. “Antecipa-se um agravamento das vulnerabilidades e das condições de vida das crianças que vivem em Portugal, por isso, a Unicef Portugal alerta para a importância de reforçar o Sistema de Proteção de crianças e jovens para que seja possível responder às necessidades presentes e futuras, assegurando uma resposta de direitos humanos preventiva, atempada e coordenada a todas as crianças.”