Uma notícia que responsabilizava a ivermectina pela sobrelotação de hospitais, e que foi difundida a nível mundial, revelou-se sem fundamento.
A revista Rolling Stone referia num seu artigo:
“O aumento de pessoas que usam ivermectina, um medicamento anti-parasitário normalmente reservado para desparasitar cavalos ou gado, como um tratamento ou preventivo para o Covid-19 colocou as urgências “tão congestionadas que as vítimas de tiros estavam a ter dificuldades em ter” acesso a instalações de saúde, disse um médico das urgências em Oklahoma.”
A publicação é baseada numa notícia de um órgão de comunicação social de Oklahoma, afiliado da NBC, chamado KFOR e nas citações de um médico local.
No entanto, nessa entrevista o médico nunca relaciona diretamente o consumo do medicamento com a lotação de hospitais e a escassez de ambulâncias. Ele mostra preocupação com o consumo em doses desproporcionadas de ivermectina e defende a necessidade da sua prescrição por um médico.
Separadamente, refere a sobrelotação do sistema hospitalar e a falta de ambulâncias.
Desmentidos
A própria revista, sem nunca desmentir ou retrair a notícia, alterou o seu título e fez uma atualização com dados que contrariam a versão por ela apresentada. Além disso, reconhece não ter qualquer confirmação dos dados em que baseou o seu artigo.
“Atualização: Um hospital negou a alegação do Dr. Jason McElyea de que as overdoses de ivermectina estão a causar atrasos nas urgências e atrasos nos cuidados médicos na zona rural de Oklahoma, e a Rolling Stone não conseguiu verificar independentemente quaisquer casos a partir da hora desta atualização.”
A publicação cita igualmente o Sistema Nacional de Dados de Venenos a afirmar que existiram 459 casos relatados no mês de agosto no país inteiro, enquanto o número de hospitalizações diárias Covid-19 (só nesse estado) ultrapassa as 1 500.
“O Sistema Nacional de Dados de Venenos afirma que houve 459 casos relatados de overdose de ivermectina nos Estados Unidos em agosto. Os números de overdose de ivermectina específicos de Oklahoma não estão disponíveis, mas a quantidade é improvável que seja um fator significativo na disponibilidade de camas hospitalares num estado que, de acordo com o CDC, tem atualmente uma média de 7 dias de 1.528 hospitalizações Covid-19.”
Entretanto, o próprio médico também já negou a notícia:
“Aquela história original foi apenas um pouco mal citada,”
“À medida que a história corria, parecia que todos os hospitais de Oklahoma estavam cheios de pessoas que tinham overdose de ivermectina e não é esse o caso.”
Propagação da notícia pelos grandes media internacionais
Também outros grandes órgãos de comunicação social reproduziram a notícia, aparentemente sem qualquer tentativa de a confirmar.
Retração sobre Ivermectina feita pela Associated Press
Ainda recentemente (25 de Agosto), a Associated Press retraiu uma notícia em que alertava para um elevado número de pedidos de ajuda devido a envenenamentos por ingestão de ivermectina.
“Num artigo publicado em 23 de agosto de 2021, sobre pessoas que tomam medicamentos para animais para tentar tratar coronavírus, a Associated Press relatou erradamente com base em informações fornecidas pelo Departamento de Saúde do Mississippi que 70% das chamadas recentes para o Centro de Controlo de Venenos do Mississípi eram de pessoas que tinham ingerido ivermectina para tentar tratar a COVID-19. “
A ivermectina e a Covid-19
Vários estudos estão a ser realizados para a aferir da eficácia da ivermectina na prevenção e no tratamento da Covid-19, conduzidos por exemplo, pela universidade de Oxford ou pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.
Atualmente, a OMS recomenda que a ivermectina apenas seja usada para tratamento da covid-19 dentro de ensaios clínicos.