Um estudo publicado no The American Journal of Tropical Medicine and Higyene, com base nos anos de vida de qualidade, na África Subsariana, conclui que o impacto da Covid-19 nesta região é residual em relação à malária, à tuberculose e ao VIH/SIDA.
A Covid-19, enquanto doença, tem um impacto muito diverso, dependendo da região ou país. Vários fatores explicam o fenómeno. O menos controverso será a idade das populações dada a elevadíssima correlação entre a gravidade da doença e a idade. Outros indícios incluem a prevalência de certas doenças ou os níveis de imunidade prévia.
A Organização Mundial da Saúde afirma que a mortalidade não dá uma imagem completa do fardo da doença suportado por indivíduos em diferentes populações.
O peso global da doença é avaliado utilizando os anos de vida ajustados à incapacidade (DALY). Uma medida baseada no tempo que combina os anos de vida perdidos devido à mortalidade prematura (YLLs) e anos de vida perdidos devido ao tempo vivido em estados de “menos” saúde.
Um DALY representa a perda do equivalente a um ano de saúde plena. Usando DALYs, o peso das doenças que causam morte prematura, mas pouca incapacidade (como afogamento ou sarampo) pode ser comparado com o das doenças que não causam morte, mas causam incapacidade (como a catarata que causa cegueira).
DALY na África Subsariana
No estudo “Relative Burdens of the Covid-19, Malaria, Tuberculosis, and HIV/AIDS Epidemics in Sub-Saharan Africa”, publicado no The American Journal of Tropical Medicine and Higyene, comparou-se o impacto da Covid-19 com outras doenças infeciosas na África Subsariana, tendo em conta a mortalidade e os anos de vida ajustados à incapacidade de cada indivíduo em 2020 (DALYs).
Para as populações da África Subsariana a norte da África do Sul e Lesoto, a mortalidade registada pela Covid-19 constitui 6,4%, 4,8%, e 6,3% da mortalidade causada pela tuberculose, VIH/SIDA, e malária.
Em relação aos DALYs perdidos, na mesma região, o fardo da Covid-19 compreende 3,7%, 2,3%, e 2,4% do estimado para a tuberculose, VIH/SIDA, e malária, respetivamente.
Incluindo também a África do Sul e o Lesoto, as taxas de mortalidade registadas pela Covid-19 foram de 19,2%, 11,7%, e 20,2% das taxas de mortalidade atribuíveis à tuberculose, ao VIH/SIDA, e à malária, respetivamente.
No que diz respeito aos DALYs perdidos, o fardo da Covid-19 compreendia 11,1%, 5,5%, e 7,5% dos DALYs perdidos devido à tuberculose, VIH/SIDA e malária, relativamente.
Considerações dos autores
Os aumentos previstos destas doenças foram maiores do que o fardo estimado da Covid-19.
Esta análise sugere o impacto relativamente baixo da Covid-19. Embora a Covid-19 continue, as três epidemias – a tuberculose, o VIH/SIDA e a malária mantêm-se como prioridades de saúde maiores com base nos seus encargos com a doença.
Por conseguinte, de acordo com as conclusões do estudo, o desvio de recursos para a Covid-19 representa um risco elevado de aumentar a carga global da doença e causar danos líquidos, aumentando assim ainda mais as desigualdades globais na saúde e na esperança de vida.