Foi publicado na revista científica Acta Pædiatrica, um artigo em que são analisados quatro pontos relativos à vacinação em crianças: (1) os potenciais benefícios para elas, (2) os potenciais benefícios para os outros, (3) os riscos associados às vacinas mRNA e (4) a variante Omicron. É concluído que não deve existir uma recomendação geral para vacinar crianças saudáveis.
No artigo “Os benefícios dos programas de vacinação COVID-19 para crianças podem não superar os riscos” começa por salientar a importância das vacinas:
“As vacinas salvaram milhões de vidas, e estas incluem as vacinas contra a síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2), que foram desenvolvidas em tempo recorde.”
Depois elenca os quatro ponto-chave para se analisar a vacinação de crianças.
O potencial benefício para as crianças
O autor salienta que “O risco de ser hospitalizado devido a COVID-19 grave é extremamente baixo em crianças” e que “as crianças e adolescentes com menos de 20 anos que deram positivo para o SARS-C0V-2 representaram 0,1% do total de mortes relacionadas com pandemia em países de elevado rendimento”.
O risco de miocardite após infeção com SARS-CoV-2 “foi avaliado por um estudo que teve mais de 3 milhões de participantes com pelo menos 16 anos de idade. Verificou-se que o risco era de 10 casos por milhão (intervalo de confiança de 95% 7-11) na população exposta com menos de 40 anos.”
“Os únicos dois casos de miocardite associados à SARS-CoV-2 que observámos foram em adolescentes totalmente vacinados.”
O autor conclui que “os dados sugerem que o principal risco associado à infeção SARS-CoV-2 em crianças saudáveis é o MIS-C.”
No entanto, a sugestão feita a partir de alguma investigação de que a vacina previne esta síndrome (que resulta de uma reação imunitária após a fase aguda da doença) necessita de estudos com um desenho adequado e a evidência aponta para que “o MIS-C se pode desenvolver após infeções em crianças vacinadas”.
Os potenciais benefícios para os outros
“As vacinas têm sido usadas para erradicar doenças através da imunidade de grupo e também têm sido usadas para proteger membros da família ou indivíduos vulneráveis numa comunidade.”
Porém, é constatado que no caso da SARS-CoV-2 “tanto os indivíduos infetados como os vacinados podem infetar e transmitir a doença, tornando impossível a imunidade de grupo”.
Os potenciais riscos associados às vacinas mRNA
Para o autor “A principal preocupação com a segurança das vacinas mRNA é o risco de miocardite, que tem sido bem estabelecida em adolescentes que receberam a vacina SARS-CoV-2. “
“Embora a maioria dos casos de miocardite pós-vacina fosse leve, e os pacientes recuperados, houve casos graves de choque cardiogénico e pelo menos cinco mortes relatadas, incluindo dois adolescentes e um homem de 22 anos.”
“As complicações a médio e longo prazo da vacina permanecem desconhecidas, e os pacientes com miocardite podem posteriormente desenvolver cardiomiopatia dilatada, possivelmente anos mais tarde.”
A variante Omicron
Por um lado, esta variante parece ter “um curso de doença mais suave” e, por outro, existe a “possibilidade de evasão da vacina demonstrada por vários estudos”.
Assim, a relação risco-benefício para a variante Omicron “parece apoiar a suspensão da vacinação em crianças”.
Conclusão do autor
“Seria mais sensato recomendar que apenas as crianças selecionadas fossem vacinadas (…).”
“ (…) temos de nos lembrar que as crianças não são adultos pequenos e que temos a obrigação de, em primeiro lugar, não fazer mal.”
Francisco Abecassis é membro da direção do Colégio de Pediatria da Ordem dos médicos e autor de diversos estudos científicos.