O relatório de Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) revela uma elevada percentagem de necessidades de cuidados de saúde não satisfeitas em Portugal, muito acima da generalidade dos países da União Europeia. O problema atinge de forma desproporcional as pessoas com menores rendimentos e com uma saúde mais débil.
O documento traça o retrato do estado do Sistema Nacional de Saúde. Um dos aspetos mais preocupantes foi a falta de acesso aos serviços de saúde. Citando o relatório “State of Health in the EU – Companion Report 2021” da comissão europeia, revela que 34% dos portugueses relataram necessidades de saúde não satisfeitas durante os primeiros 12 meses da pandemia, enquanto a média da União Europeia (UE) foi cerca de 21%.
Fonte: Relatório de Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS)
O relatório cita outros estudos que corroboram esta realidade. Os resultados de uma investigação mostra que cerca de 60% dos inquiridos reportaram pelo menos uma necessidade não satisfeita, quase o dobro da média europeia. O motivo mais frequente foi o cancelamento por parte dos serviços de saúde.
A prevalência de necessidades não satisfeitas diferiu consoante o nível de rendimento e o estado de saúde, com os índices a comprovarem a sua concentração nos indivíduos com pior estado de saúde.
Noutro estudo foram identificadas grandes diferenças, entre países da UE, na percentagem de pessoas com mais de 50 anos a relatar cuidados de saúde não atendidos durante a pandemia. Portugal tem a quarta maior percentagem relatada (32%). Para a razão de adiamento pelo prestador, Portugal apresenta o segundo valor mais elevado (25,67%).
O documento indica que as famílias portuguesas pagam em média, por ano, 600€, de modo direto, do seu bolso em despesas de saúde. Ao mesmo tempo “mais de 26% dos 20% de portugueses mais pobres declaram não ter acesso aos cuidados de saúde por razões financeiras”.