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O Dia do “Trabalhador”

Estava-se em Chicago, no dia primeiro de maio de 1886, quando irrompe uma manifestação de mais de 500 mil trabalhadores que deu origem a uma greve geral, em todos os Estados Unidos nesse mesmo ano.

Foi a primeira vez que a classe trabalhadora se atreveu a exigir melhores condições de trabalho e também de salários, inclusive a diminuição da jornada de trabalho, que chegava a atingir as 17 horas de trabalho, para as oito horas diárias.

Desta histórica manifestação, houve brutais confrontos com a polícia de Chicago, que resultou em prisões e várias mortes de trabalhadores manifestantes.

Até então, os “trabalhadores” eram meros serviçais, que apenas tinham obrigações sem o correspondente conjunto de direitos, ao serviço, então tal como agora, de uma elite opressora e detentora do grande capital industrial e financeiro, e consequentemente, manipuladora e verdadeiramente dominante da classe política, que era escrupulosa e meticulosamente escolhida, treinada e depois lançada na ribalta da opinião pública, para seguirem as suas agendas, sempre monopolistas e que facilitassem a obtenção do lucro fácil, e nem sempre, ou muitas das vezes, de forma lícita, e sempre também, à custa do sacrifício e da subjugação do “trabalho” pelo e ao “grande capital”.

Este movimento foi liderado por cinco sindicalistas, dos quais 4 deles foram condenados à forca, com a pena executada e o quinto apenas não o foi, porque se suicidou na prisão.

Por toda a Europa, com especial relevo para França, os movimentos da classe trabalhadora, exigindo melhores condições de trabalho e de salários, foram um autêntico rastilho de “pólvora, chegando também a Portugal, tendo sido assinalado este dia, o 1º de Maio, logo em 1890.

Estávamos no chamado “Estado Novo” ou antigo regime, e sucederam-se greves e manifestações em 1962. Também e sempre com as mesmas naturais reivindicações: melhores condições de trabalho e salariais.

O antigo regime, ou o Estado Novo, foi acusado de ser um Estado rico com uma população pobre. Foi acusado de ter “os cofres cheios” com o famoso ouro, que desapareceu em grande parte após a sua queda, e com a maioria da população quase indigente, e forçada a emigrar, tendo uma grande massa humana optado pela imigração, para França e para o Brasil.

Os trabalhadores, sempre os trabalhadores, os detentores da força de trabalho, não do capital, não conseguiam ver ser-lhes dado o devido “valor”. O “valor”, este, só tinha o grande capital.

Ainda assistimos à chamada “primavera Marcelista” no ano de 1968 precisamente com Marcello Caetano, tendo-se operado o começo de modernização social aliada a uma liberalização política.

Mas Marcello Caetano não a chegou a concluir.

Soube e pressentiu o seu fim com a revolução que se avizinhava, com o movimento de 16 de março de 1974, ou a chamada “intentona das Caldas”.

E cai o regime do Estado Novo em 25 de Abril de 1974.

E Marcello Caetano é destituído do Poder, sem ter realizado, qualquer oposição.

Durou 48 anos o Estado Novo ou antigo regime

Sendo substituído pelo “regime dos Cravos” que já dura, fez agora, 49 anos.

E os trabalhadores?

E as suas condições de trabalho?

Como evoluíram de lá para cá?

Agora, temos dos mais baixos salários da Europa e dos mais reduzidos PIBs per capita. Temos um salário mínimo, e médio, que força as classes trabalhadoras mais jovens e não só, a emigrarem. O trabalho precário assume contornos de vergonha nacional.

O chamado “pleno emprego” é mais uma falácia, ou melhor, uma rotunda mentira, ao não equacionarem nos números “vendidos” e manipulados, todos aqueles que já desistiram de procurar emprego, em estágios e que vivem em condições, que melhor, só Vítor Hugo, poderia descrever em “Les Misérables”, quando um homem comum se vê obrigado a roubar um pão de uma padaria para alimentar a sua família faminta, é condenado a cinco anos de prisão por furto.

Agora, rouba-se das grandes cadeias de hipermercados, estando já muitos produtos alimentares etiquetados com alarmes presos.

Continuamos com o “trabalho” a perder todo o seu valor, a uma velocidade arrepiante, em prol do grande capital.

Só que agora o grande capital, não pertence a meia dúzia de famílias abastadas portuguesas.

Está nas mãos das megacorporações que governam todo o mundo, especialmente, o ocidental.

Agora, somos também governados por um Marcello. Mas tem de apelido Rebelo de Sousa.

O seu pai, de nome Baltasar, foi grande amigo, do outro Marcello.

Em sua honra, deu-lhe o nome de batismo ao seu filho.

O Marcelo de agora.

Tendo Marcelo Rebelo de Sousa sido aluno de Marcello Caetano, na cadeira de Direito Administrativo, mas que devido aos laços de amizade existentes e para que não fosse nunca acusado de favoritismos ou benefícios pessoais, Marcello Caetano sempre tratou e lidou com Marcelo Rebelo de Sousa, filho do amigo Baltasar Rebelo de Sousa, com grande distância.

Distância esta, que só foi quebrada no final de uma oral, precisamente da cadeira que lecionava, direito administrativo, tendo Marcello Caetano, dirigindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa, dizendo-lhe que gostaria que este se dedicasse à Universidade e àquela matéria.

Coloco a seguinte questão: terá Marcelo Rebelo de Sousa o sentido de Estado, que teve Marcello Caetano, para perceber que o regime que governa, que tem já mais um ano que o anterior, também já caiu, e deixar que um novo sistema e regime se assuma, em defesa de Portugal e do superior interesse dos portugueses, servindo o povo e o Estado e não servindo-se dele, como este regime o tem despudoradamente feito, e fazendo o que lhe compete, que é dissolver sem mais delongas o Parlamento fazendo cair já o governo?

Isto porque a ira e descontentamento popular, emerge exponencialmente e está prestes a rebentar em todas as faixas etárias e classes sociais de trabalhadores, e que já não consegue mais ser escondida por toda uma comunicação social subvencionada por este regime dos “Cravos”, podendo fazer perigosamente a sociedade portuguesa “cair nos braços” de partidos demagógicos com linguagens populistas e sempre fáceis de trautear e melhor ainda, ouvir, que apenas buscam o “voto” de um imenso eleitorado que se vê sem futuro ou alternativa e que há décadas não se revê de todo, neste regime dos cravos. 

João Pedro César Machado
Advogado

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