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A Teoria da Espiral do Silêncio (proposta pela alemã Elisabeth NoelleNeuman) caracteriza-se pela omissão e supressão de opinião dos indivíduos, quando se sentem em minoria.

Esta pressão provém do medo de se sentirem isolados ou ridicularizados, fazendo com que entre a expressão de uns e o silêncio de outros, resulte uma homogeneização de opiniões, encorajando o politicamente correcto e descartando a moralidade.

O pressuposto da Teoria da Espiral do Silêncio assenta no facto de as pessoas temerem a ostracização. E em paralelo, procurarem a aceitação e integração sociais, bem como o status da popularidade. Deste modo, cada indivíduo é forçado a permanecer atento às opiniões e comportamentos maioritários, que moldam a sua liberdade de expressão para os parâmetros da maioria. (Sousa, Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media, 2006)

Actualmente, há irrefutavelmente uma certa rebeldia nos consumidores, pois estes entendem que há algo de errado no sistema. Posto isto, há a tendência de certas pessoas terem o desejo de se manifestarem como originais, exóticas e não seguidistas. Simultaneamente, a sociedade tende a considerar como doença qualquer modo de pensamento ou comportamento que seja inconveniente para o sistema. Este raciocínio é plausível, porque quando um indivíduo não se enquadra no sistema, consequentemente, trará problemas ao sistema e dor a si próprio. No entanto, de forma a combater estas vicissitudes, o modus operandi mediático foca-se na criação de actividades padronizadas e estereotipadas. Assim, os impulsos de rebelião recebem uma saída inofensiva, e simultaneamente útil na inserção de uniformidade. Destarte, a manipulação de um indivíduo, de forma a se ajustar ao sistema é vista como uma cura para a doença, ou seja, algo de positivo para a humanidade. (Kaczynski, 1942)

Além disso, a comunicação social caracteriza-se pela sua consonância, por outras palavras, similitude da informação veiculada devido à natureza do newsmaking, (Noelle-Neumann, 1993) provocando um mecanismo que fomenta a repetição de temas já apresentados, de forma a manter-se actualizada em relação a outros meios de comunicação. Ainda, há um movimento circular de informação em termos noticiosos, que leva à mimetização temática, sem abertura para outros interesses populares.

Um exemplo prático da precisão da teoria da espiral do silêncio foram as experiências de conformidade de Asch, que descreveram uma série de experiências psicológicas realizadas por Solomon Asch na década de 1950. Os ensaios revelaram o grau em que as opiniões individuais são influenciadas pelas opiniões colectivas. Asch descobriu que o ser humano estava disposto a ignorar a realidade e a dar uma resposta incorrecta, de forma a estar em conformidade com o resto do grupo. (Cherry, 2023)

A mente de grupo não pensa no sentido estrito da palavra. Em vez de pensamentos, tem impulsos, hábitos e emoções. Logo, ao decidir-se, o seu primeiro impulso será geralmente seguir o exemplo de um líder de confiança, nomeadamente o de um campo social televisivo. (Bernays, 1928)

Designa-se como campo social uma instituição dotada de legitimidade indiscutível, com poder de implementar uma hierarquia de valores na sociedade. Daí que, a manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e das opiniões das massas seja um elemento crucial na sociedade democrática. Assim sendo, aqueles que manipulam este mecanismo invisível da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder dominante da nossa civilização. (Bernays, 1928)

Outrossim, a nossa sociedade evidencia uma mente de colmeia ou, mais precisamente, uma colónia de formigas. Passo a explicar, a constante exposição televisiva desencadeia-se numa única consciência ou inteligência colectiva (um pronto a pensar), mesmo que um indivíduo priorize a recolha de informação de outros meios, este será sempre vítima da exposição selectiva ou da dissonância cognitiva. Estes fenómenos definem-se pelo favorecimento de fontes que reflectem crenças pré-existentes dos públicos, evitando informações que os possam contradizer. Ora, outro factor a ter em conta é a teoria da socialização pelos media, ou seja, a transmissão de propaganda convergente em grupos a que um indivíduo pertence. Verbi gratia, o indivíduo X é um rotário, sócio de uma ordem fraternal, militante de um partido político, membro de um clube de golfe e apoiante de uma associação a favor da redução de taxas. As opiniões que este receberá como rotário, tenderão a ser disseminadas noutros grupos nos quais poderá ter influência. (Bernays, 1928)

Em súmula, apesar da factualidade dos estudos de Elisabeth Noelle-Neumann, há que ter em conta o fosso digital. Este conceito consiste na discrepância entre países de 3º mundo e países desenvolvidos, no que toca a tecnologias de informação. Assim, ocorre uma imunização de certos estratos populacionais quanto à receptividade informativa (Nessin, 2019).

Bibliografia:

Bernays, E. (1928). Propaganda. New York: Ig Publishing.

Cherry, K. (2023). The Asch Conformity Experiments. Verywellmind, 1. Retrieved from https://www.verywellmind.com/the-asch-conformity-experiments-2794996

Kaczynski, T. J. (1942). Technological Slavery. Scottsdale: Fitch & Madison Publishers.

Nessin, C. (2019, Maio 20). Como saber se você está no fosso digital? Como saber se você está no fosso digital?, p. 1. Retrieved from https://www.linkedin.com/pulse/como-saber-se-voc%C3%AA-est%C3%A1-fosso-digital-cau%C3%AA-nessin/

Noelle-Neumann, E. (1993). The Spiral of Silence: Public Opinion. Chicago: The University of Chicago Press.

Sousa, J. P. (2006). Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media. Porto: www.bocc.ubi.pt.

Sousa, J. P. (2006). Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media. LabCom, 823.

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