Investigadores: Long-covid “indistinguível" de outras síndromes pós-virais

Uma investigação do departamento de saúde pública de Queensland, Austrália, concluiu não existirem diferenças de limitações funcionais, após um ano, entre os infetados por covid e os infetados por outros vírus respiratórios. O diretor desse serviço de saúde defende mesmo o abandono de termos como “Long Covid”, que podem causar medo desnecessário. Pouco depois destas declarações, outro grande estudo (investigadores de Yale e de Michigan) concluiu que os hospitalizados covid tiveram um risco significativamente inferior de necessitar de cuidados médicos para diversas condições no ano seguinte, em relação aos pacientes com gripe.

Os pesquisadores da Universidade de Yale e da Universidade de Michigan analisaram os registros médicos eletrónicos de 77.272 pacientes COVID-19 hospitalizados de abril de 2020 a novembro de 2021 e o mesmo número de pacientes com gripe internados de 2016 a 2019.

Em todas as condições estudadas foi detectada menor incidência na covid do que na gripe: novas doenças neurológicas (2,8% vs 4,9%) cuidados para a enxaqueca (2,0% vs 3,2%, epilepsia (1,6% vs 2. 1%) neuropatia (1,9% vs 3,6%), perturbações do movimento (1,5% vs 2,5%), AVC (2,0% vs 2,4%) e demência (2,0% vs 2,3%).

Uma nova investigação do departamento de saúde pública de Queensland, que estudou mais de 5.000 pessoas um ano depois de terem sintomas semelhantes aos da covid-19 (entre maio e junho de 2022) concluiu que a doença não se distinguia de outras infeções respiratórias. Ou seja, que que os doentes covid não tiveram mais probabilidades de apresentar sintomas um ano após o diagnóstico, em comparação com os adultos sintomáticos que eram negativos para a doença.

Quando os resultados foram comparados, o número dos que relataram problemas foram semelhantes (3% infetados covid e 3,4% infetados por outro vírus gripal).

O novo estudo foi realizado durante uma vaga da variante ómicron, quando um grande número da população de Queensland já tinha sido vacinada, e os autores afirmam que não é claro se os resultados se manteriam numa população não vacinada.

Os mesmos autores já tinham feito uma investigação anterior, publicada na revista BMJ Public Health, e também aí não encontraram qualquer diferença nos sintomas e na incapacidade funcional quando a COVID-19 foi comparada com a gripe, 12 semanas após a infeção.

Especialistas em saúde pedem para se deixar de usar o termo

O diretor do serviço de saúde de Queensland, e um dos responsáveis pelo estudo, afirmou ser errado insinuar que havia algo de único nos sintomas sofridos pelas pessoas após uma infeção de covid e que apenas estão a sofrer os efeitos normais de um vírus respiratório, que podem incluir fadiga, nevoeiro cerebral e falta de ar – conhecida como síndrome pós-viral.

” Acreditamos que é altura de deixar de usar termos como “Covid longo”. Estes termos implicam erradamente que há algo de único e excecional nos sintomas a longo prazo associados a este vírus”.

E acrescentou:

“Esta terminologia pode causar medo desnecessário e, em alguns casos, hipervigilância para sintomas mais longos que podem impedir a recuperação”.

Comparação entre os hospitalizados covid e por gripe

Estas declarações surgem numa altura em que outro estudo recente conclui que os adultos hospitalizados devido à covid tiveram menor risco de necessitar de cuidados médicos para diversas condições (enxaqueca, epilepsia, neuropatia, distúrbios do movimento, acidente vascular cerebral e demência) no ano seguinte, em relação aos pacientes com gripe.

Outras investigações

Estes resultados são comuns a diversos outros estudos, especialmente, aos de maior fiabilidade por apresentarem grupos de controlo e confirmação sanguínea de infeção (alguns desses estudos são citados no Ver também).

No entanto, esses resultados foram largamente ignorados pelos grandes média mundiais e nacionais que, ao invés, salientaram estudos de menor grau de fiabilidade e opiniões mais alarmistas.