Durante a pandemia, o pneumologista Filipe Froes tornou-se um dos ‘especialistas’ com lugar cativo em jornais e televisões – sem nunca declarar, porém, os óbvios conflitos de interesse pelas centenas de milhares de euros recebidos de empresas farmacêuticas, como a Pfizer, a GSK, a Gilead, a AstraZeneca e a Merck. À data de hoje, só em apoios financeiros declarados, soma quase meio milhão de euros, ao mesmo tempo que se mantém ativo na imprensa mainstream, sendo até cronista do Diário de Notícias. E é através desta e de outras plataformas que o médico promoveu (e continua a promover) vários produtos farmacêuticos, direta ou indiretamente, exagerando os riscos de certas doenças e menosprezando as limitações dos fármacos promovidos.
O médico pneumologista Filipe Froes, catapultado como ‘especialista’ durante a pandemia, soma contribuições da indústria farmacêutica, e segue. Nos últimos 12 anos, o pneumologista já arrecadou, pelo menos, 495.523 euros. Froes, que é membro do Conselho Nacional de Saúde Pública e coordenador do Serviço de Cuidados Intensivos do Hospital Pulido Valente, tem beneficiado de um financiamento constante das farmacêuticas, que atinge anualmente várias dezenas de milhares de euros. Nos primeiros seis meses deste ano, as contribuições que auferiu perfizeram já o valor de 20.113 euros. A julgar pelos anos anteriores, em que auferiu pagamentos que rondam os 40 mil euros, o pneumologista deverá superar a marca do meio milhão em breve. No ano passado, por exemplo, amealhou 41.314 euros, sendo que em 2022, ficou ligeiramente abaixo, com 45.514 euros.
No extenso rol de grandes farmacêuticas, destacam-se a Merck Sharp & Dohme e a AstraZeneca – um terço dos contratos deste ano foram com a primeira, e outro terço com a segunda. No ano passado, a maior parte dos serviços prestados por Froes também tinha sido à Merck Sharp & Dohme (17 num total de 36).
De acordo com os dados disponíveis no Infarmed, estes pagamentos são feitos diretamente para si ou para a sua empresa, Terras & Froes, Lda.
Alinhamento com as farmacêuticas
Apesar desta íntima ligação com as farmacêuticas – ou talvez por causa dela –, Filipe Froes nunca se inibiu de promover abertamente produtos das mesmas. Contam-se, entre os vários exemplos, as vacinas da gripe sazonal (GlaxoSmithKline [GSK]), as vacinas anti-covid (Pfizer e AstraZeneca), os medicamentos antivirais Lagrevio (Merck Sharpe & Dohme), o Remdesivir (Gilead), Paxlovid (Pfizer), os anticorpos monoclonais como o Evusheld (AstraZeneca) e o Xevudy (GSK).
Para além disso, Filipe Froes produziu afirmações duvidosas, em muitos casos totalmente infundadas do ponto de vista científico, que vão desde a gravidade de certas doenças à eficácia e segurança dos produtos farmacêuticos promovidos.
A título de exemplo, quando a taxa de letalidade do SARS-CoV-2 já era muito menor, Froes ainda alertava para os perigos de uma “tripla pandemia” (ou epidemia), que tornavam essencial a vacinação. Ora, segundo consta no Portal de Transparência e Publicidade do Infarmed, estes gritos de alerta de Froes foram pagos pelo menos uma vez: em 2023, já que a farmacêutica GlaxoSmithKline financiou um “Workshop de Jornalistas” intitulado “Tripla Epidemia”, no valor de 1.100 euros.
Em todo o caso, sempre que pode, o pneumologista não se coíbe de falar publicamente sobre Saúde sem dar qualquer nota dos seus conflitos de interesse. Além de aparições ocasionais na imprensa mainstream, o pneumologista tem ainda uma coluna regular de opinião no Diário de Notícias – que assina em conjunto com Patrícia Akester –, nunca advertindo os leitores sobre os montantes avultados que tem recebido da indústria farmacêutica. Entre outros aspetos, Filipe Froes tem repetidamente insistido na necessidade de reforços anuais de vacinação.
Ver também:
Investigação Filipe Froes: Declarações infundadas sobre vacinação Covid -19 – The Blind Spot
Investigação Filipe Froes: Promoção de medicamentos- O exemplo do Remdesivir – The Blind Spot