Em mais uma ‘aposta’ para combater as alterações climáticas, a Comissão Europeia vai apoiar com 3 mil milhões de euros um programa da Suécia para ‘capturar’ e ‘armazenar’ dióxido de carbono. Este tipo de remoção tem sido alvo de críticas, dado que estudos sugerem que a grande maioria das emissões ocorre antes da captura e que as emissões totais de carbono se aproximam das emissões da indústria que usa carvão para produzir energia elétrica. Também gigantes multinacionais como a Microsoft, a BlackRock, a Meta (Facebook e Instagram) e a Alphabet (Google), alocaram centenas de milhões em projetos de ‘remoção’ de CO2 da atmosfera com o fim de atingir a neutralidade carbónica.
A Comissão Europeia vai financiar um programa do governo sueco para apoiar projetos que visem “capturar” e armazenar dióxido de carbono da atmosfera. Segundo o comunicado de imprensa, o objetivo é “reduzir o CO2 libertado durante a combustão ou o processamento de biomassa (‘CO2 biogénico’)”. Aprovado no dia 2 de julho, o apoio será de 3 mil milhões de euros – e começará a ser concedido já este ano, através de concursos públicos.
De acordo com a Comissão von der Leyen, a medida “contribuirá para o alcance das metas climáticas da Suécia e dos objetivos estratégicos da UE no âmbito do Acordo Verde Europeu, em particular a meta de neutralidade climática de 2050”.
Na Suécia, a empresa de energia Stockholm Exergi, liderada por Anders Egelrud, tem sido ‘pioneira’ neste tipo de iniciativas. Em conjunto com a Agência de Energia da Suécia, financiou um projeto que combina “a remoção de carbono atmosférico com a recuperação de calor”.
Intitulado Beccs Stockholm, o projeto foi finalista dos Prémios Europeus de Energia Sustentável, e elogiado por “estabelecer um mercado para as remoções líquidas de carbono”.
Críticas ao projecto
Este tipo de tecnologia tem sido muito criticado, nomeadamente porque a maior parte das emissões ocorre antes do sistema de captura e armazenamento de carbono instalado na chaminé possa atuar. De acordo com um novo estudo encomendado pelo Natural Resources Defense Council, as emissões de carbono da cadeia de abastecimento de biomassa são cerca de 80% das emissões de carbono de uma usina de carvão por megawatt, a forma mais poluente de produção de energia.
Outros projetos de remoção de carbono
Enquanto os contribuintes europeus, através da União Europeia, financiam projetos de captura e armazenamento de CO2, algumas das maiores multinacionais do mundo estão totalmente apostadas neste ‘negócio’.
Além da captura e do armazenamento, é também possível extração direta do dióxido de carbono da atmosfera. Em alternativa, as empresas podem também adquirir “créditos de remoção de carbono” para compensar as emissões de gases de efeito de estufa (GEE).
Em Maio passado, a Microsoft assinou um ‘mega’ contrato com a Stockholm Exergi para remover 3,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
Além da Microsoft, há ainda outras gigantes multinacionais a investir largos milhões nesta empreitada. Há um mês, a Stockholm Exergi fechou um acordo com o fundo financeiro Frontier – que inclui empresas de peso, como a Alphabet, a Meta e a JP Morgan Chase – para a captura e armazenamento de carbono, no valor de cerca de 48,6 milhões de dólares (cerca de 44,8 milhões de euros). A Frontier pretende, assim, alcançar “emissões [de CO2] negativas permanentes”.
Também a investidora BlackRock, no final do ano passado, anunciou um investimento de 550 milhões de dólares naquela que será a maior instalação de “Captura Direta do Ar” do mundo – esta tecnologia permite extrair o carbono diretamente da atmosfera, em qualquer localização geográfica. Deste modo, distingue-se do plano da Suécia, agora financiado pela Comissão Europeia, que pretende remover o CO2 no momento da emissão.
Ver também:
Lobby na UE (1): 35 maiores lobistas têm a Ação Climática como prioridade – The Blind Spot
Lobby na UE (2): A complexa rede de financiamentos privados das ONGs lobistas – The Blind Spot
Projetos “verdes” de Bill Gates recebem até mil milhões de contribuintes europeus – The Blind Spot