A União Europeia irá financiar até mil milhões de euros a Breakthrough Energy liderada por Bill Gates. Gates, um dos maiores lobistas da comissão europeia, conseguiu assim subsidiar uma organização, especializada em negócios de alto risco, que supostamente ajudará a atingir a neutralidade carbónica. Por detrás do projeto está a elite financeira mundial, incluindo personalidades como George Soros, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg e empresas como a BlackRock, a Microsoft e a General Motors.
A Breakthrough Energy (BE) é uma organização fundada por Bill Gates em 2015 e alberga várias organizações privadas. Investe através de fundos de investimento, essencialmente em negócios de alto risco relacionados com energias alternativas, com o objectivo de reduzir as emissões de carbono e atingir o NET Zero (neutralidade carbónica).
No âmbito do Catalyst, a BE afirma financiar projetos “de demonstração comercial inicial para tecnologias críticas que já tenham sido comprovadas à escala piloto”.
Apontam quatro áreas áreas chave:
– Hidrogénio limpo para descarbonizar a indústria;
– Captação direta de ar para remover o CO2 da atmosfera;
– Armazenamento de energia de longa duração para fornecer energia limpa e fiável;
– Combustíveis de aviação sustentáveis para alimentar a aviação
Financiamento pela União Europeia
Mas a estratégia de Gates não passa por sujeitar os seus projetos ao mercado, mas sim subsidiar a BE e as suas empresas privadas através de fundos públicos.
Deste modo, os investidores conseguem minimizar o seu risco sem terem sequer de ceder a sua participação no capital dessas empresas.
Pelo menos em relação à União Europeia esse objetivo parece estar a ser alcançado, já que a BE receberá da Comissão europeia até mil milhões de euros até 2025 para o seu projecto Catalyst.
Grandes Investidores da Breakthrough Energy
Gates está longe de ser o único investidor da organização. Pelo contrário, uma lista de multimilionários e de grandes corporações fazem parte de projetos da BE e, assim, beneficiam igualmente dos seus apoios.
Entre os investidores, encontram-se personalidades como: Jeff Bezos (Amazon), George Soros (investidor), Mark Zuckerberg (Meta), Richard Branson (Virgin), Jack Ma (Alibaba), o príncipe Alwaleed bin Talal (Kingdom Holding), Reid Hoffman (LinkedIn), o Príncipe Al Waleed bin Talal Al Saud (magnata saudita), Zhang Xin e Pan Shiyi (SOHO China) e muitas outras.
Também grandes empresas como a empresa de gestão de activos BlackRock, a Microsoft, as empresas do sector automóvel General Motors e Mitsubishi e a produtor de aço ArcelorMittal, que estão a investir centenas de milhões nas novas tecnologias, passam a beneficiar desses fundos públicos.
Lobbing de Gates
Como publicámos num artigo anterior, Gates utiliza várias entidades registadas como lobistas da UE, para influenciar a UE. De forma direta, esse lobby é exercido pela fundação Bill & Melinda Gates, pela fundação Breakthrough Energy Catalyst e por uma empresa de investimento do milionário, a Gates Venture.
Entre estas três entidades, tiveram 115 reuniões ao mais alto nível com a Comissão europeia (entre 2019 e 2023). Uma atividade que já vem da anterior comissão, embora se tenha acentuado durante o mandato de von der Leyen.
Para além de exercer esse lobby direto, as doações da fundação Bill & Melinda Gates financiam igualmente uma rede ONGs lobistas que o exercem de forma indireta.
Para além de áreas ligadas à vacinação e à preparação pandémica, a outra grande prioridade é a descarbonização, nomeadamente, a orientação de legislação e financiamento para (os seus) projetos nesta área.
Falta de transparência
A empresa-mãe responsável por todas as atividades da BE Catalyst foi registada nos Estados Unidos como uma sociedade de responsabilidade limitada. Essa estratégia é apontada como sendo uma forma de manter as atividades filantrópicas fora do escrutínio a que as fundações devem estar sujeitas.
A falta de transparência é aliás comum a várias dimensões deste projeto, nomeadamente, por não estarem bem definidos os vários interesses em jogo e por se confundirem os interesses públicos e privados.
Não está igualmente claro porque é que: (1) estes projetos são apoiados (quais os critérios?), (2) quais os objetivos mensuráveis a atingir, (3) qual o risco envolvido para ambas as partes e (3) todas as formas pelas quais os privados contam lucrar.
Dada a magnitude do investimento e do envolvimento, direto e indireto, dos contribuintes europeus, o mínimo exigido seria que estas decisões fossem mais discutidas e escrutinadas.
Para mais. estando esta organização encabeçada por alguém envolvido noutros megaprojetos, também supostamente visionários, mas que falharam rotundamente.
Referências
Partnership with Breakthrough Energy: Breakthrough Energy Catalyst (BEC) | EU Funding Overview
Bill Gates Launches $1 Billion Breakthrough Energy Investment Fund (forbes.com)
Gates Foundation agriculture project in Africa flunks review (usrtk.org)
Ver também:
Investigação TBS: Alterações climáticas- Causa existencial, negócio bilionário ou pretexto para mudar o mundo? – The Blind Spot (exclusivo assinantes)
Lobby na UE (1): 35 maiores lobistas têm a Ação Climática como prioridade – The Blind Spot
Lobby na UE (3): Como atuam as grandes Fundações – The Blind Spot
Lobby na UE (2): A complexa rede de financiamentos privados das ONGs lobistas – The Blind Spot
A influência de Gates na OMS: Financiamento desapegado ou investimento dissimulado? – The Blind Spot
Fundação Gates doou mais 63,5 milhões para grandes média e Centros de jornalismo – The Blind Spot